30.5.15

O ESPIRITISMO NO JAPÃO




Parque Abana Achi Ken - Túnel de flores e luzes, 

Adriano Marques, conhecido na mídia como o mochileiro, fez recentemente uma extensa visita para o Japão, fazendo estudos pelo movimento deste país. O Espiritismo Comentado conversou com ele sobre suas impressões e experiências no outro lado do mundo, e ele nos acolheu de forma atenciosa, jovial e pronta.



Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo. 


EC – Adriano, você esteve recentemente visitando o movimento espírita japonês. Quantas horas de viagem de São Paulo até Tóquio?
Mochileiro – Jáder, são 30 horas de voo sendo 14 até Abu Dhabi e depois mais 12 até o Japão com mais ou menos 3 a 4 horas de espera entre um voo e outro.

EC – Suas palestras foram traduzidas para o japonês?
Mochileiro - Não tivemos essa alegria e necessidade, até porque são poucos os Japoneses que frequentam ou conhecem o espiritismo. Porém, nessa segunda vez que estivemos no Japão, mais japoneses estiveram em nossas palestras e os acompanhantes, geralmente esposa ou marido, traduziam ao longo da palestra os pontos principais.



Cidade de Suzuka-shi - Província Mie Ken - Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz

EC – Nas grandes cidades japonesas os imóveis são muito caros e geralmente menores que os que temos no Brasil. Qual é o tamanho dos centros espíritas que você visitou? Há muitos anos li no GEAE que havia um grupo no qual as pessoas se reuniam em uma pequena sala e parte dos assistentes ficava em um van, na rua, acompanhando por meios eletrônicos a reunião.
Mochileiro - Não tenho essa informação sobre a van, mas, por exemplo, o grupo de orações na cidade de Honjo, na província/estado de Saitama durante 2 anos se reuniu dentro de um automóvel pequeno para fazer evangelho no lar nas ruas na cidade. Em média, as casas são pequenas e os grupos se reúnem em reuniões de 10 a 20 pessoas, exceto alguns grupos que chegam a 40 60 pessoas, como em Honjo, Toki e Kakegawa.
Para se ter uma ideia, Ginza, um bairro de Tokyo, é o metro quadrado mais caro do mundo. Com isso imaginamos qual o valor de um imóvel em Tokyo. Porém, a maioria das casas espiritas estão situadas em casas de presidentes ou de fundadores do grupo, ou em espaços alugados da prefeitura onde se pagam por hora, uma média de mil yenes, o equivalente a 25 reais por 3 horas de uso, aos sábados ou domingos. Outros grupos possuem sede própria e outros ainda dividem o espaço físico com casas de umbanda.

EC – O movimento espírita no Japão é nipo-brasileiro ou apenas de brasileiros que foram trabalhar por lá?
Mochileiro - Se compreendi bem sua pergunta, o movimento espirita no Japão é feito por brasileiros para brasileiros, sendo descendentes ou não.


Grupo de Orações Cidade Honro Shi - Província Saitama Ken

EC – A sociedade japonesa recebe bem os núcleos espíritas?
Mochileiro - Não há divergência, até porque o movimento espirita todo é realizado na língua portuguesa. Então até para que os japoneses não recebam bem, terão que compreender o que está sendo feito. Devido ao incidente há alguns atrás, da seita que matou centenas de pessoas no metrô de Tokyo, o governo proibiu a regulamentação de novas seitas religiões etc. Com isso o espiritismo não é visto pelos japoneses como uma religião.

EC – Como podemos apoiar o movimento japonês?
Mochileiro - Primeiramente, com prece, orações e buscar ajudá-los à medida que os pedidos dos grupos forem sendo realizados. A nossa ida até o Japão demorou 6 anos, devido aos grupos fechados, desconfiança etc., pois, infelizmente, muitas pessoas ao longo dos anos tentaram se aproximar somente para obter vantagens chegando ao ponto de cobrarem pelas palestras. Em outros momentos temos palestrantes no Brasil que fazem muitas exigências como passagem de primeira classe, hotel cinco estrelas, público acima de X número de pessoas e etc. Com isso, é natural o bloqueio e a insegurança dos dirigentes e trabalhadores.


EC – Você entrevistou crianças japonesas sendo evangelizadas, como foi isto?
Mochileiro - Não entrevistei porque não existe esse trabalho sendo realizado, pelo menos nas 15 casas espiritas que visitei. O que existe são trabalhos esporádicos sendo realizados por pessoas dentro de alguns grupos, porém com filhos de trabalhadores e frequentadores, em português, até porque são crianças brasileiras que até falam japonês, porém tudo é feito em português.

EC – O Japão é a terceira economia do mundo, com uma distribuição de renda muito melhor que a nossa. Você teve contato com trabalhos de assistência e promoção social lá? Qual é a diferença dos nossos trabalhos?
Mochileiro - Sim, realmente o Japão é um país de primeiro mundo e somente isso já dá uma visão geral das grandes diferenças entre eles e nós. Visitei e trabalhei em dois grupos assistenciais, tanto na primeira como dessa segunda vez que visitamos o Japão. A diferença, basicamente. é a forma que é conduzido trabalho, os alimentos, a preparação, e os dias de funcionamento. Basicamente, os trabalhos sociais se resumem em atendimento aos homeless, moradores de rua. O grupo que participei fica na cidade de Hamamatsu na província de Shizuoka talvez o lugar com mais brasileiros no Japão, devido à grande quantidade de brasileiros. Até as placas na estação de metrô e shinkansen - trem bala - em hamamatsu estão escritas em português. E, por incrível que pareça, todos os assistidos, dessa vez que participei, 89, eram japoneses. Ano passado havia brasileiros e outras nacionalidades.






EC – Nas reuniões mediúnicas, há médiuns japoneses, psicografando ou falando em japonês? Já existem publicações de livros espíritas produzidos por “filhos do sol”?
Mochileiro - Não se tem notícia de japoneses nas reuniões mediúnicas nem à frente de trabalhos espíritas. Tive contato com pessoas que afirmam ter grupos espíritas criados por japoneses para japoneses, porém não obtive êxito em conseguir contato ou entrevista para a rádio Boa Nova.
Livros, existem sim. O mais conhecido é o evangelho segundo o espiritismo, traduzido pelo Sr Tomoh Sumi, que é japonês e morou no Brasil, em Juiz de Fora-MG, onde fez faculdade de Letras. Há também O livro dos médiuns, O céu e o inferno em dois volumes e O livro dos espíritos, mas traduzido por grupos diferentes, inclusive por não espíritas.
Nas reuniões mediúnicas, cheguei a participar de algumas, quando a comunicação pode ser realizada na língua japonesa. Em um dos grupos havia pessoas capacitadas para fazer a doutrinação em japonês, noutro grupo fizemos prece e encaminhamos o espírito, já que não havia como dialogar, devido a ninguém na sala conhecer a fundo a língua nativa.

EC – Conte para nós como foi a entrevista na Globo – Japão.
Mochileiro - A entrevista aconteceu devido à ajuda da Alice, dirigente do Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz, da cidade de Suzuka que, em contato com Edson Xavier, combinou nossa participação. Fui muito bem atendido pelo apresentador e o bate papo fluiu tranquilo. Confesso não imaginar a repercussão que a entrevista daria, quando fosse ao ar. Até hoje tenho recebido e-mails do Japão inteiro dizendo que ouviram e assistiram a entrevista. Em meu face o vídeo chegou a mais de 3 mil visualizações. De uma maneira tranquila, falamos aquilo que em duas viagens ao Japão, sendo 30 dias cada visita, conseguimos conhecer. Como dissemos anteriormente, o movimento espirita japonês ainda está no início e muita coisa precisa ser esclarecida aprendida e ensinada. Por isso há muita desconfiança, no sentido de conhecer nosso trabalho para abrir as portas dos grupos, até porque muitos estão localizados nas próprias residências das pessoas etc. Mas muito nos alegra termos participado dessa entrevista num veiculo mundialmente conhecido e termos falado por mais de 4 minutos.

EC – Você pode contar ao nosso leitor alguma peculiaridade dos centros espíritas japoneses?
Mochileiro - São várias, mas tentarei resumir. O fato de, na entrada, você ter que tirar o sapato, como é o costume japonês, já nos causa estranheza. O segundo ponto é que, como a grande maioria, arrisco dizer que como 90% dos espíritas japoneses conheceu o espiritismo no Japão, ainda existem as orações reminiscentes do catolicismo como o Pai Nosso, Ave Maria etc., seja no estudo do evangelho ou nas reuniões mediúnicas e palestras públicas. As comunicações de espiritos na reunião mediúnica, em Japonês, na minha opinião é a peculiaridade mais especial. Como sou apaixonado pela língua japonesa acaba sendo gostoso e nos desperta mais amor no momento da comunicação, por exemplo, de espíritos que, sofredores ainda, não conseguem discernir que já estão desencarnados e são levados pela espiritualidade maior para tratamento.

EC – Que autores/médiuns ocidentais espíritas são lidos pelos japoneses, além de Kardec e Chico Xavier?
Mochileiro - São muitos, porém Zíbia Gasparetto é a mais lida, sem sombra de duvida, devido aos romances.




IV Simpósio Espírita da ADE Japão - Cidade Isesaki-Shi, Província de Gunma-Ken

EC – O que emocionou você na viagem?
Mochileiro - Jáder, a viagem toda, em si, é uma emoção. Há muitos anos sonhávamos viajar o mundo levando livros, espiritismo e a Rádio Boa Nova, e por duas vezes em dois anos demos a volta ao mundo. Ir ao Japão é a realização não somente de um sonho, mas sim, de um projeto que provavelmente durará por longas décadas. Primeiro, pelo que plantamos e por todo trabalho iniciado na seara espirita. Segundo, porque há muito o que ser feito e realizado e graças ao nosso trabalho e temos tido total apoio, respeito e convite para retornarmos e darmos continuidade ao trabalho iniciado em 2014.
Passar 30 horas de voo, com a sensação de que tudo será novo, é algo imensurável. Em 2014 não conhecíamos ninguém, nem sequer onde ficaríamos hospedados, eram ouvintes que nos convidaram e nós aceitamos. Imagina o nervosismo, as dúvidas, o medo, porém a fé em cristo foi maior e colocamos a mochila nas costas e levamos 310 livros para distribuição em 2014. Neste ano foram 450 livros da lavra de Francisco Candido Xavier doados pela editora GEEM. Então entregar os livros, dar palestras, entrar ao vivo pela Rádio Boa Nova em nosso programa Roteiro, direto do Japão, foi algo esplendoroso até porque a Radio Boa Nova tem 50 anos de existência e fomos os primeiros a ir ao outro lado do mundo.
E, por fim, mas não menos importante, fazer amizades, conhecer uma nova cultura, lugares, religiões, grupos que, com muita dificuldade, longe da família e do pais de origem, seguem firme, mantendo alto a bandeira do espiritismo.

EC – Você tem um link que possibilite, aos espíritas latino-americanos e aos japoneses interessados, conhecer um centro espírita no Japão?
Mochileiro - Não tem um link especifico, mas quem quiser pode nos adicionar no Facebook - Adriano Marques - Programa Roteiro - que indicaremos os grupos de cada região: http://radioboanova.com.br/wp-content/uploads/2014/02/adriano_marques.png



28.5.15

UMA ANIMAÇÃO COM AS IRMÃS FOX E COM ALLAN KARDEC







Chrystiann Lavarini escreveu-me da Escócia, indicando um vídeo de animação de cerca de quatro minutos.

É uma delícia de se assistir. Trata dos eventos das irmãs Fox nos Estados Unidos e de uma rápida biografia de Allan Kardec, toda ilustrada sob a forma de animação acelerada.

Pensei como seria útil em aulas de evangelização infantil, em cursos de introdução ao espiritismo, como apoio didático-pedagógico. Já imaginei as crianças conversando sobre a animação, perguntando, opinando, desenhando...

O trabalho foi desenvolvido pela TV Mundial de Espiritismo - Associação Mundo Espírita. Eu não a conheço mas espero que tenha mais trabalhos com esta qualidade e utilidade.

Clique no link abaixo para assistir.

22.5.15

BANCO DE TROCA DE LIVROS ESPÍRITAS EM BELO HORIZONTE



A FECFAS é uma instituição espírita que fica no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte-MG. Ainda não tenho detalhes sobre sua mais nova iniciativa, mas parece ser uma ideia muito interessante: um banco de troca de livro espírita.

Muitos dos livros que compramos são lidos por uma ou duas pessoas em casa e ficam tomando poeira nas estantes, sem uso. O banco possibilita às pessoas com hábito de leitura e aos colecionadores o acesso mais fácil e desburocratizado aos livros espíritas, delimitando melhor o papel de uma biblioteca em um centro espírita, porque possibilita a adoção de uma política de acervo voltada à preservação e acessibilidade do conhecimento.

Antevejo algumas questões que envolvem a classificação dos livros (o que é ou não livro espírita? O que pode ser trocado?) e as condições dos livros (pode-se aceitar um livro muito velho, ou faltando páginas?) De qualquer forma, estas questões não são impeditivas, se a finalidade do trabalho for a divulgação do conhecimento espírita.

Saudamos a iniciativa e aguardamos a experiência deste grupo e de outros que talvez já estejam realizando algo semelhante, nos comentários do blog ou na página Espiritismo Comentado do Facebook.

19.5.15

VIVER: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DO SUICÍDIO




Fechei a página 190 com a clara impressão de ter navegado por dois dias em um texto suave e muito informativo, em alguns momentos, reflexivo. Esta foi minha experiência com o livro “Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.”

André Trigueiro, o autor, é conhecido jornalista da Rede Globo, engajado em temas ligados à ecologia e à preservação da vida. Atuante no movimento espírita há muitos anos, discretamente, ele retoma neste livro o tema que o motivou no início dos seus trabalhos: o suicídio.

A primeira parte do livro informa e desconstrói muitos mitos que se tem propagado sobre o suicídio. Trigueiro dá dicas ao profissional de mídia para superar o tabu de se falar do suicídio e os cuidados para que a informação seja benéfica, e não indutora do ato. Uma contribuição importante para o entendimento do tema é a insistência que se trata de um ato com diversos fatores explicativos, ou seja, não pode ser explicado apenas pelo que pode ser visto como um fator desencadeante (uma desilusão amorosa, uma falência ou outro acontecimento estressor na vida do autocida).

Trigueiro destaca bastante a influência da depressão e de outros transtornos mentais, bem como do alcoolismo e do uso de drogas,  na maioria das histórias de pessoas que tentaram o ato. Ele explica com clareza e objetividade como as políticas públicas podem agir na prevenção do suicídio e como nós podemos, em escala menor, identificar pessoas que correm o risco de matar-se e como auxiliá-las.

O Centro de Valorização da Vida é tratado e historiado de forma muito interessante para nós, espíritas, mas não vou me deter no assunto para não estragar a surpresa da leitura.

A segunda parte do livro trata da visão espírita do suicídio e apresenta de forma clara o  pensamento de Kardec e o de autores atuais, como Yvonne Pereira, Joanna de Ângelis, Simonetti e Jáider de Paula, por exemplo.

Uma palavrinha sobre a edição: o projeto editorial do livro é muito cuidadoso, agradável de ver e ler. Descansa os olhos.


O livro merece ser lido pela comunidade espírita com atenção e, ao contrário do que o autor humildemente propõe, ele traz novas questões e abordagens ao que já conhecemos e lemos na literatura espírita. Como pessoas com este tipo de problema nos procuram diariamente na casa espírita, seria um livro interessante para ser estudado e discutido pelas equipes de atendimento fraterno ou acolhimento.

17.5.15

OS ESPÍRITOS REÚNEM UMA FAMÍLIA AMERICANA ATRAVÉS DE HOME




A tia de Daniel Dunglas Home era avessa aos fenômenos de efeitos físicos em sua casa, mas seus vizinhos não tinham tantos escrúpulos religiosos, e convidaram o jovem médium para realizar uma sessão em sua casa. 

A Sra. Force, uma das interessadas, usou um alfabeto para dialogar com a origem inteligente dos raps (batidas ou pancadas) que se manifestavam em sua casa. Ela obteve o nome de sua mãe, e, a seguir, houve uma comunicação em que a Sra. Force foi advertida por ter se esquecido de sua meia-irmã, que havia se casado com um fazendeiro há mais de trinta anos e mudado para o oeste dos Estados Unidos. Os "raps" deram-lhe o nome da cidade em que a irmã morava com o marido, o número de filhos e o nome de cada um deles. Force escreveu para o endereço e recebeu uma carta em resposta, confirmando todas as informações obtidas. A comunicação reuniu a família.

8.5.15

A TIA DE DUNGLAS HOME

Foto: Home, jovem, e sua tia


Após a desencarnação da mãe de Home, iniciaram-se raps (batidas) na mesa da casa de sua tia. Eles haviam ouvido falar nos fenômenos de Hydesville e nas irmãs Fox. A tia disse-lhe, ao ver que os fenômenos continuavam:

- “Então, você trouxe o diabo para a minha casa, não trouxe?” E atirou-lhe uma cadeira.

Ela chamou três ministros de diferentes orientações religiosas (todos protestantes) para rezar em sua casa, por Home, e expulsar o demônio. O ministro Batista ouvia os raps aumentarem, quando ele falava em Jesus ou em Deus, vindos de diferentes partes do cômodo em que se encontravam.

Home ficou muito emocionado com todos estes fenômenos, e, orando de joelhos, colocou-se à disposição de Deus.

Em outra oportunidade, uma mesa movia-se em direção a Daniel Douglas Home, na casa de sua tia, enquanto ele se via no espelho. Incomodada com o fenômeno, a tia jogou uma Bíblia sobre a mesa, dizendo:

-“Vai levar o diabo para longe!”

Ao contrário do que ela esperava, a mesa moveu-se ainda mais vividamente. Atônita, ela decidiu subir sobre a mesa para terminar aquela movimentação de uma vez por todas. A mesa elevou-se acima do solo, para uma surpresa ainda maior.

Preocupado com os incidentes, que haviam começado, não havia uma semana, Home orava quando viu a mãe, que lhe disse:

“Meu filho, não tema. Deus é por você, quem será contra? Procure fazer o bem. Seja verdadeiro e amante da verdade, e você irá prosperar, minha criança. A sua é uma missão gloriosa. Você irá convencer as pessoas sem fé, curar os doentes e consolar os que choram”


Pouco depois, aos dezoito anos, foi expulso da casa de sua tia.

Fonte: adaptação do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home.

6.5.15

EXPIRA ESTE MÊS A SUBMISSÃO DE TRABALHOS PARA O ENCONTRO DA LIHPE - SÃO PAULO



A Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, está fazendo a chamada de trabalhos para o encontro de 2015, que acontecerá nos dias 29 e 30 de agosto, no auditório da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP).

Se você tem algum trabalho escrito, fruto de pesquisa bibliográfica ou de campo, convido-o a colocá-lo no formato proposto em http://www.lihpe.net/wordpress/?p=1450 e submetê-lo à comissão organizadora (nesta mesma página há os links de submissão). Ele será encaminhado a dois pareceristas que o avaliarão e selecionarão os melhores trabalhos para apresentação. Você receberá o resultado das análises, sigilosamente.

O tema de 2015 é "Panorama Atual das Pesquisas Científicas sobre Reencarnação". Basicamente, a coordenação do evento fez um levantamento dos artigos científicos sobre reencarnação na base Periódicos CAPES, selecionou os que efetivamente tratam do tema e dividiu-os em assuntos, uma vez que conseguiu-se dezenas de trabalhos.

Vamos apresentar temas como Reencarnação e História, Reencarnação e Medicina, além de trabalhos sobre os principais pesquisadores do fenômeno no século XX e XXI.

Pesquisas de outras temáticas podem ser submetidas, mas dar-se-á preferência ao tema central do evento. 

Agradeço todo esforço para divulgação no meio espírita e no meio universitário.

5.5.15

O PRIMEIRO FENÔMENO MEDIÚNICO DE DANIEL DUNGLAS HOME


Foto: Daniel Dunglas Home, adulto


Daniel Dunglas Home foi uma famoso médium de efeitos físicos, contemporâneo a Allan Kardec. Ele nasceu em Edimburgo (Escócia) em 1833, e foi adotado pela tia com um ano de idade. Não sabemos ao certo porque isto aconteceu, já que sua mãe era viva e teve contato com ele até a adolescência, quando desencarnou.

Daniel, assim como outros médiuns de efeitos físicos, tem percepções espirituais desde a infância. Aos treze anos, ele tinha um amigo cristão chamado Edwin e fizeram um acordo de mostrar-se um ao outro após a morte. Home mudou-se para uma cidade norte-americana a cerca de 300 milhas distante da residência do amigo.


Um mês depois, quando fazia suas preces, sentou-se na cama e a escuridão invadiu a sala, que até então estava bem iluminada pela luz da lua. Home percebeu uma presença espiritual que apareceu em uma nuvem brilhante. Ele reconheceu a face do seu amigo Edwin, sem diferenças marcantes, apenas os cabelos mais longos. O amigo sorriu para Daniel, que ficou sabendo dias mais tarde que ele havia desencarnado, vítima de uma disenteria maligna.

(Fonte: Incidents of my life, de Daniel Dunglas Home. Guilford - UK, White Crow, 2009)

1.5.15

A TERRA DA BRUMA



Há alguns meses meu amigo Alexandre Caroli me sugeriu a leitura do livro “A Terra da Bruma”, que acabava de ser publicado em língua portuguesa, depois de um século em inglês e total desconhecimento por parte do público espírita do nosso país. Conan Doyle ainda é conhecido apenas como o “autor de Sherlock Holmes”, personagem que continua estimulando filmes e séries de TV até os nossos dias. Os espíritas conhecem o seu História do Espiritualismo Moderno (traduzido com o nome de História do Espiritismo), e talvez conheçam “A Nova Revelação”, publicado pela Federação Espírita Brasileira.

A Terra da Bruma é uma ficção com raízes profundas na realidade. Ele gira ao redor de dois ou três personagens que vão aos poucos conhecendo o Espiritualismo Moderno inglês e europeu, em princípio, para escrever matérias para um jornal. Céticos, eles vão a diversos espaços onde a mediunidade é praticada.

Não vou falar muito do enredo, para não estragar a leitura de quem ainda não o fez. Apenas antecipo que é diferente do texto de suspense de Doyle. Ele parece ter escolhido instituições e situações que desejava apresentar ao leitor e inseriu no enredo. É um livro para quem deseja conhecer mais do espiritismo e do espiritualismo europeus do século XIX, e não para quem deseja um romance de suspense.

O que mais me chamou a atenção no livro são as diferenças entre o modern spiritualism, a cultura inglesa e o espiritismo brasileiro. Creio que é uma leitura boa para quem já conhece bem nosso movimento espírita e a obra de Allan Kardec. Pode gerar alguma confusão nos iniciantes ou desconhecedores do espiritismo. Vou destacar algumas diferenças:

Mediunidade paga: o autor defende a mediunidade paga, ao contrário de Allan Kardec, como uma forma do médium poder se dedicar ao desenvolvimento de sua faculdade e poder atender a um público maior de consulentes. No próprio livro, Doyle mostra também pessoas que resolvem se fazer passar por médiuns apenas pelo dinheiro e a ação da polícia inglesa, implacável, mesmo com os médiuns honestos. Do pouco que conheço da história, apesar de ficção, está muito próxima do que realmente aconteceu na Inglaterra do início do século XX.

Relação com padres da Igreja Anglicana: A Igreja Católica adotou uma posição de rechaço ao espiritismo de Allan Kardec ainda no século XIX. Conan Doyle tem personagens que são padres, possivelmente anglicanos, e que articulam sua fé cristã à mediunidade. Lembrei-me de pessoas como Dale Owen, Stainton Moses e Haraldur Nielson. Qual terá sido a posição oficial da igreja anglicana, uma vez que o modern spiritualism é visto como uma religião pelos ingleses?

Relações com doutrinas orientais: Doyle apresenta ideias esotéricas e de origem oriental como aceitas pelos espiritualistas. A doutrina das esferas celestes e a doutrina dos sete céus (judaica, hindu e cristã medieval), por exemplo, aparecem na boca de guias e expositores. Eliphas Levi (pseudônimo de Papus), que chegou a ser lido pelos espíritas brasileiros da primeira metade do século XX, é referido como uma influência de parte do movimento inglês. Como se deu a aproximação entre o movimento espírita francês e o movimento espiritualista inglês com o esoterismo, a teosofia e outras doutrinas ocidentais de influência oriental?

Interesse em fenômenos da mediunidade de efeitos físicos: Doyle vive a época posterior às pesquisas de Crookes, mas o Instituto Metapsíquico Internacional, criado por Jean Meyer, está em seu auge. Gustave Geley é um dos personagens que aparecem na trama com  nome trocado, e as reuniões de materializações, transportes, transfigurações, voz direta e outros parecem ser comuns em círculos restritos.

Casas mal-assombradas: como não poderia passar batido, há uma visita a uma casa mal assombrada, coisa que não é muito valorizada hoje por aqui como objeto de discussão pelos espíritas (exceção feita ao livro sobre Poltergeist, escrito por Carlos A. F. Guimarães e Carlos Alberto Tinoco). A relação do espiritualistas ingleses com os espíritos perturbadores é muito curiosa.

Preces: As preces estão presentes nas reuniões públicas, onde se fazia mediunidade pública, ao contrário do que acontece hoje nos centros espíritas brasileiros. O pai nosso aparece como uma referência cristã, mas há preces ditadas pelos espíritos. Não me recordo de haver lido fazerem preces espontâneas, muito comuns em nosso meio.

Maçonaria: Há uma citação da maçonaria na página 90. Parece que havia uma proximidade entre os maçons e os espiritualistas ingleses, assim como com os espíritas brasileiros, na mesma época.

Mediunidade curativa: Há um relato de trabalhos envolvendo médiuns curadores. Não me recordo de menção à homeopatia no livro de Conan Doyle, como acontecia no movimento espírita brasileiro daquela época.

Cientistas pesquisando fenômenos espirituais: Conan Doyle cita em diversos momentos do texto cientistas da época interessados nos fenômenos espirituais. Eles são quase todos conhecidos pelo movimento brasileiro de hoje, embora estejam sendo lidos cada vez menos. Hoje temos um pequeno número de cientistas dedicados ao estudo da mediunidade, reencarnação, entre outros fenômenos, embora haja um grande número de antropólogos de franceses e brasileiros interessados no espiritismo como movimento.

Hábitos da sociedade inglesa e europeia: Alguns hábitos dos espiritualistas ingleses nos causam hoje algum desconforto. Frequentar sala de fumantes, discussões regadas a vinho e agressão física a médiuns farsantes, buscando retratação pública, certamente seriam vistos como inadequados entre nós.

O médium como pessoa, e não como santo: Para concluir, acho a visão que Conan Doyle tem dos médiuns muito próxima à de Kardec. Ele não os endeusa, não os aproxima à imagem dos santos. Os médiuns ingleses são humanos, talvez “demasiado humanos”. Eles não leram “O evangelho segundo o espiritismo”, nem “o livro dos médiuns”, então os personagens não parecem se preocupar com uma transformação moral, embora não sejam devassos. Gostei muito de uma frase que Conan Doyle escreveu, após um personagem se incomodar com um médium: “É preciso separar o homem, da coisa” (pág. 241)

A Terra da Bruma
Arthur Conan Doyle
332 páginas
Zahar
2014
1ª Edição Portuguesa
Encontra-se também em formato de e-book