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7.5.20

COMO PREPARAR UM EXPOSITOR PARA A CASA ESPÍRITA?


Palestra de Raul Teixeira em Austin - 2010

Uma questão em aberto nas casas espíritas é a formação das pessoas que trabalham voluntariamente como expositores espíritas em reuniões públicas. Há muitos centros espíritas que organizam uma agenda de estudos diária, ou de diversas vezes ao dia, propõem títulos ou assuntos sobre os quais se deve falar e não consideram se têm ou não expositores preparados para a realização da tarefa. Os dirigentes das reuniões têm as seguintes opções: fazer eles mesmos as palestras, buscar fora do centro espírita ou identificar no centro espírita pessoas que gostam e têm facilidade para falar, para fazer as conferências.

Nesse verdadeiro “ensaio e erro”, de se convidar pessoas desconhecidas para fazer estudos, começam a acontecer os “acidentes de percurso”. Alguns dirigentes ainda consultam amigos estudiosos da doutrina espírita em busca de referências sobre os possíveis expositores, o que não deixa de ser um avanço, mas ao mesmo tempo é um risco, porque vejo muitos estudiosos que não assistem palestras nas casas espíritas e, por isso, não conhecem os “novos valores”, ou fazem juízo apenas por uma palestra ou um estudo que viram. Essa espécie de “telefone sem fio” deveria ser apenas um ponto a mais para identificar expositores talentosos ou promissores, mas se corre o risco de, diante de um dia infeliz, que qualquer um de nós tem, um potencial palestrante ser injuriado pela rede subterrânea.

Algumas instituições de Belo Horizonte-MG fizeram listas de expositores, mas não sei como foram escolhidos e como são atualizadas. Há listas com alguma sofisticação, nas quais se identifica os dias disponíveis e os assuntos de domínio do expositor. Embora úteis, sempre fui crítico dos expositores itinerantes, aqueles que falam em todos os lugares mas não são de lugar nenhum, que não têm outros vínculos com os que o assistem e, muitas vezes, nem em quem o convida. Nada contra ter convidados, eles deveriam ser a exceção e não a regra, sob o risco extremo de termos uma casa espírita formada exclusivamente por frequentadores e "captadores" de expositores, ou seja, onde ninguém está habilitado a ensinar o espiritismo.

Em nossa casa, durante algum tempo, os expositores que iam a público foram avaliados de forma anônima e individual por algumas pessoas que assistiam à reunião, eram reconhecidas por sua sensatez e nenhum extremismo, e que preenchiam um “check list” rápido de itens, podendo fazer comentários igualmente rápidos. Eu sempre queria o resultado coletivo dessas avaliações, sem identificação dos expositores, que me dava alguma informação sobre o que melhorar nesta tarefa, mas também esse instrumento é limitado, uma vez que atender os critérios de itens como pontualidade, por exemplo, não assegura, por si, um trabalho bem feito. E o número de itens enumerados, não assegura uma avaliação completa, compreensiva, que teria uma natureza qualitativa.

Vi também muitos cursos de “expositores espíritas”, que tinham por núcleo o ensino de “técnicas de oratória”, o ensino de didática, ou de estratégias de ensino-aprendizagem. Eles têm sua utilidade, desde que não queiram “formatar um expositor”. Há muitas formas válidas e diferentes entre si de expor ou ensinar o espiritismo, e muitas personalidades diferentes. Algumas pessoas sabem contar histórias, outras falam prendendo a atenção, algumas explicam com clareza, outras usam com maestria os recursos áudio visuais, algumas usam bem o humor em sua fala, outras dialogam bem com o público e há quem consiga usar técnicas de grupo em públicos de até cem pessoas, sem prejudicar o tempo. Uma coisa é certa: todos nós temos limitações. A essência desses cursos, além de dar sugestões de aperfeiçoamento, deveria explorar a identificação e desenvolvimento de competências dos participantes, para que eles se conheçam e façam melhor o que têm potencial para fazer bem. O mero estudo da técnica oratória ou didática não assegura o conteúdo. Pode-se falar tolices muito bem, e deixar as pessoas com a sensação de que passaram um momento ótimo, sem perceberem que aprenderam coisas esdrúxulas.

Outra coisa que me auxiliou nesse percurso foi a crítica de pessoas que eu respeitava, como estudiosos da doutrina e expositores experientes. Eles tiveram a caridade de me procurar em particular e expor pontos que eu poderia modificar ou melhorar. Algumas críticas se baseavam em uma forma muito pessoal de ver o trabalho de exposição, mas outras eram muito perceptivas e bem fundamentadas. Há o que conseguimos melhorar e o que não conseguimos, paciência.

Em um seminário que fiz recentemente, uma das participantes percebeu que minha esposa desempenhava esse papel, às vezes fazia sinais quase imperceptíveis de sugestões para o que eu falava ou como eu falava. Ela me procurou no intervalo e me disse, de forma amigável e bem humorada: 

- Ela é a sua “Joanna de Ângelis”, não é? Só que encarnada...

Juselma Coelho

Nas reuniões de quintas-feiras, dirigidas por Juselma Coelho em nossa casa, vi uma prática formadora muito interessante. Havia pessoas que frequentavam há muito tempo a reunião e que foram se sentindo à vontade com o grupo, a casa e a doutrina. Ela pedia que as pessoas lessem em casa um texto pequeno e o expusessem por quinze minutos, no início da reunião. Assim, em um lugar secundário, a pessoa ia desenvolvendo suas competências de expositor, protegida dos erros e do lugar central do estudo da noite.

Penso que todo espírita deveria ter uma visão do espiritismo como um todo. Conhecer as teorias que formam o espiritismo, sua fundamentação, os autores principais e até mesmo as polêmicas, sem se esquecer da história do espiritismo. Não dá para pensar em um expositor que não tenha esse tipo de conhecimento como um pré-requisito para a plena realização de sua tarefa. Como alguém vai expor algo que desconhece? Uma forma que a Federação Espírita Brasileira tem incentivado nas casas espíritas é o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – ESDE e sua sequência, o Estudo Avançado da Doutrina Espírita - EADE. Penso que esse é um espaço interessante para se desenvolver competências de expositor, uma vez que é um lugar menos formal, com a presença de responsáveis pelo estudo, em que as pessoas podem preparar algo e apresentar, em um ambiente participativo. Aí cada um vai percebendo se a exposição espírita é uma atividade que as desafia, agrada e que podem fazer bem.

Vendo como a formação dos expositores espíritas é informal, e muitas vezes inexistente, passo a pensar como seria o futuro. Surgiram algumas faculdades oferecendo cursos de teologia espírita, embora todos saibamos esses cursos não se destinam a formar profissionais para um mercado, já que toda modalidade de ensino ligada ao espiritismo tem sido voluntária, pelo menos nos centros espíritas. Espero que não haja profissionalização desses trabalhadores, como no movimento espiritualista moderno dos países de língua inglesa, em que pese algumas iniciativas de seminários pagos de professores que tratam de temática espírita.  

Além das experiências citadas continua havendo um desafio para as instituições espíritas, e até mesmo diante de uma tendência de mudanças que hora acontecem, como a educação à distância e as novas tecnologias. Elas, ao mesmo tempo em que são capazes de levar ao mundo o trabalho de um estudioso local, acabam colocando milhares ou milhões de publicações, tornando-as de difícil acesso. Considerando que se constrói uma relação de confiança com um expositor com o tempo, é muito possível que um trabalho de qualidade fique na rede sendo acessado apenas por amigos e colegas, assim como livros que autores desconhecidos publicam. Outro problema também é preparar os expositores para essa nova mídia. Uma boa exposição feita presencialmente, pode ser inadequada a esse novo formato, porque a relação do “navegador” com as mídias é diferente da do assistente na sala ou auditório presencial, a começar do vínculo emocional e do comportamento esperado quando se está no meio de outras pessoas.

Como preparar os expositores então? Como desenvolver suas competências? Quais são suas competências e para quais contextos? O que deve conhecer um expositor para fazer seu trabalho de forma bem fundamentada? Estas perguntas continuam em aberto, espero que o texto, grande para um blog, seja um incentivo para pensarmos de forma mais substancial sobre a questão. Fale um pouco de sua experiência e contribua com o debate.

4.7.19

DO TRATAMENTO DE UM CÂNCER À FORMAÇÃO DO MOVIMENTO DA FRATERNIDADE EM BELO HORIZONTE - MG





Marcelo Orsini entrevistou Ed Soares, filho de Jair e Ló, em 2017, em um vídeo de pouco mais de 40 minutos. Jair e Ló são personagens importantes, praticamente considerados fundadores do Movimento da Fraternidade. Ló tinha um diagnóstico de câncer, do qual teria sido curada pela Irmã Scheilla em reunião mediúnica de materialização. Além das curiosidades sobre as materializações que se iniciaram em sua casa, no bairro Santa Tereza, Ed fala pontualmente do surgimento e desenvolvimento do Movimento da Fraternidade.

Ed explica que Chico Xavier participou de algumas das reuniões do grupo, como assistente, e os espíritos assinam o verso de documentos da fundação do Hospital André Luiz. Talvez algumas das narrativas de livros como “Missionários da Luz” e “Nos domínios da mediunidade” façam referências a essas reuniões.

A entrevista remete aos dois livros com o mesmo título escritos por Ranieri e Dante Labate (Materializações Luminosas) sobre a fenomenologia e a memória dos grupos envolvidos.

É interessante a relação de tutela que se estabelecia entre a administração das casas espíritas e a espiritualidade, de cuja diminuição se queixa o entrevistado.

Este vídeo é uma fonte histórica muito interessante, porque reproduz não apenas os relatos, mas também a compreensão e a organização dos atores sociais dos anos 1950 e seguintes, possibilitando um entendimento maior da constituição do movimento espírita nos grupos que se filiaram ao Movimento da Fraternidade.

Agradeço ao Leandro Soares a divulgação dessa entrevista.

23.4.19

QUAL FOI O PRIMEIRO CENTRO ESPÍRITA DE MONTES CLAROS?



Conscientes da necessidade de preservação da memória do movimento espírita, alguns estudiosos têm tido a iniciativa de participar de instituições com essa finalidade e fazer comunicações de seus trabalhos.

Recebi de Wesley Soares Caldeira um artigo da revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (Minas Gerais), no qual ele compartilha com o leitor suas pesquisas sobre a origem do espiritismo na cidade.

É um texto agradável, que explica o surgimento e o desenvolvimento de algumas das principais cidades do Norte de Minas Gerais e os olhares de autores famosos que lá estiveram, como Auguste de Saint-Hilaire.

Wesley nos mostra que a constituição de algumas das cidades pólo da região é contemporânea à publicação dos livros de Allan Kardec na França. A cultura regional é predominantemente católica e os evangélicos só chegariam a Montes Claros no século XX (Batistas em 1912 e Presbiterianos em 1945).

Dos iniciadores do espiritismo em Montes Claros, Wesley cita Augusto Dias de Abreu, ourives, que se mudou para a cidade em 1884 e que teve por filho Olympio Dias de Abreu, um dos primeiros espíritas de destaque.

"Augusto fundou o primeiro núcleo de estudos e vivência espírita da cidade, isso em 1885." (p. 99)

Caldeira encontrou em Nelson Vianna dois outros associados de Augusto. O primeiro é Eusébio Alves Sarmento, farmacêutico e também fundador da União Operária de Montes Claros entre diversas outras realizações. O segundo é o Capitão Daniel Pereira da Costa, comerciante, fazendeiro e Delegado de Polícia. Daniel desencarnou sem herdeiros e deixou seu vasto patrimônio para a Santa Casa de Misericórdia e para os moradores de rua da cidade, dissuadido que foi pelo tabelião de deixar os bens para uma sociedade espírita de São Paulo.

Wesley recuperou os nomes dos fundadores do primeiro centro espírita: Euzébio Sarmento, Augusto Dias de Abreu, Professor Cícero Pereira (muito conhecido na capital), Tenente Ulisses Pereira (PMMG?), Ezequiel Pereira e José Versiani dos Anjos. Eles teriam fundado o primeiro centro espírita (realmente espírita e não de cultos de matriz africana), que dissolveu-se posteriormente, "pelo falecimento de alguns e mudança de outros" (p. 102)

Fica ainda a dúvida para se vasculhar nos cartórios e jornais antigos: qual seria o nome desse centro espírita? Quando foi fundado? O que aconteceu com seu patrimônio, se é que tinha? Que atividades realizou? As novas questões para a continuidade da pesquisa estão sugeridas.

15.4.19

CRIANÇAS E JOVENS DA CASA DO CAMINHO - MONTES CLAROS-MG



Iniciou-se o seminário “Conversando com os Espíritos” à tarde, na Associação Espírita Paulo de Tarso - CEPA em Montes Claros-MG. Além das atividades doutrinárias, os trabalhadores dessa casa auxiliam e evangelizam pessoas em situação de vulnerabilidade social em duas outras unidades, mais próximas de onde eles residem, como a Vila Telma, onde eles mantém a Casa do Caminho.

Nesse endereço se pode ter uma pequena noção sobre o trabalho assistencial que eles fazem, na voz do Prof. Ton, que nos contatou e recebeu com carinho na casa espírita. https://www.redevoluntariado.org/site/entidade/16/casa-do-caminho.html

Ton tem uma longa história com as artes cênicas, e com as artes em geral. A CEPA é uma casa imensamente simples, mas toda decorada com simplicidade e bom gosto, a partir do trabalho de artesãos e artistas. Além da área construída, áreas verdes com flores e frutos.



No auditório climatizado, sustentado por troncos de eucalipto tratado, chão de cimento vermelho, no início do evento, entram diversas crianças para cantar, vestindo a camisa da Casa do Caminho. Ton os regeu, e o ambiente se encheu de música.

Terminada a primeira canção, em que não só ouvíamos, mas víamos as reações emocionais dos “pequenos” (alguns nem tanto), veio uma salva de palmas, e me emocionou ver uma das meninas envergonhada de ser aplaudida, cobrindo o rosto com as mãos, outra bem nova, serelepe e os mais velhos concentrados na sua apresentação.

Mais uma canção e a pequenina, bem à frente, deixava o corpo acompanhar o ritmo do que cantava, meio distraída, mas todos atentos à regência do “maestro”. 



Após essa apresentação, uma jovem de 14 anos, filha de membros da casa, declamou de memória uma poesia imensa e bela, sobre a fé e as diferentes formas de fé, em um ritmo que lembra o rap. Tolerância entre as religiões, aceitação das diferenças religiosas, um discurso importante em uma época na qual falta tolerância até mesmo entre os próprios espíritas.

Eu fiquei pensando nessas crianças e jovens, nascidas e vivendo em um local onde falta o básico. Segundo o trabalho de Marcos Esdras Leite e Anete Marília Pereira (2005), o chefe das famílias que lá residem tinham uma renda média mensal entre 30 a 80 reais por mês. Eles estavam entre os onze bairros de renda mais baixa do município, identificados pelos pesquisadores.

Qual será o futuro das crianças e jovens que nasceram com acesso limitado à saúde e educação?

Ton nos explicou que a apresentação os mobilizou tanto, que alguns nem haviam almoçado. Eles saíram do palco direto para a copa, para fazer um lanche e voltar às respectivas casas.

Parece um gesto pequeno, ensinar a cantar, a participar de um pequeno coral, a ter coragem para se mostrar a um público diferente, mas aos olhos de um psicólogo, não é. É uma experiência de vida cheia de expectativas e esperanças. É o desenvolvimento de diversas competências pessoais e de participação em equipe.

Espíritas de Taiobeiras - MG, que viajaram 263 km para participar do seminário

Após o seminário à noitinha, fizemos uma roda de conversas sobre as atividades assistenciais e promocionais das três unidades do Centro Espírita Paulo de Tarso. Além de alimentar, de refletir sobre valores da vida, de fazer arte e brincar, que mais se pode fazer? Como apoiar a educação? Como preparar para o mercado de trabalho? Que parcerias poderiam ser feitas com instituições espíritas ou não, capazes de desenvolver competências e ensinar o que seu meio não lhes dá acesso? Como apoiar o acesso ao ensino superior, e mostrar a via da educação como alternativa para a vida?

Confesso que fiquei muito satisfeito em ver uma organização espírita fazendo a diferença em sua cidade. Pessoas de diferentes origens sociais se unindo para fazer algo, por mais simples que seja. Desejo de superar a assistência e atingir a promoção social no futuro. Que nossos amigos desencarnados continuem apoiando essa e outras casas espíritas, para que seus membros nunca se esqueçam de fazer um pequeno esforço para que nossas famílias vulneráveis possam ter um presente menos difícil e um futuro melhor.

6.10.15

PRIMEIRA FEIRA DO LIVRO ESPÍRITA DA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA



A União Espírita Mineira está divulgando sua trigésima terceira feira do livro espírita, o que me fez recordar da primeira. As primeiras Feiras do Livro Espírita foram organizadas em um conjunto de duas ou três lojas em uma galeria na Praça Sete. 

Papai (José Mário) ainda estava encarnado àquela época e veio-me à mente que era Oswaldo Abreu quem a organizava. Oswaldo era comerciante e depois formou-se em psicologia, era irmão mais novo de Honório e Lúcio Abreu. Eu já não media muito o que dizia àquela época, então, ainda adolescente, questionei Oswaldo por que a feira não era feita em público, por que ainda estava escondida.

Ele me respondeu que ainda não estávamos prontos para isso.

Uma ação interessante que fizeram, foi levar as lideranças da União Espírita Mineira à feira, para que as pessoas pudessem não apenas comprar livros, mas conversar com os "plantonistas". Isso era visto como uma "tarefa", e recordo-me de ir no horário em que papai lá estava.

Depois desta, auxiliei uma feira do livro espírita ao ar livre, feita na praça principal da cidade de Montes Claros. Foi no início dos anos 90, e o contato com as pessoas era muito interessante. Houve um evangélico que ficou pouco indignado de ver espíritas na praça pública e resolveu conversar sobre evangelho. Ele não era fanático, apenas um religioso que não conhecia o espiritismo, e depois de conversar um pouco e ver que tínhamos conhecimento bíblico, ele ouviu os apelos da esposa que dizia: - Fulano, deixa para lá.

Houve também o espírita indignado com os preços dos livros, argumentando que encontrava preços melhores na livraria da União. Algumas pessoas se achegavam curiosas. Outras apenas viam com o "canto de olho" curioso, a expressão interrogativa e ao mesmo tempo um pouco temerosa do novo movimento que transformava a praça por onde se passa todo dia. 

Era também uma oportunidade de encontrar confrades dos diversos centros espíritas. Eles nos saudavam carinhosamente, com um olhar de satisfação, pediam indicações, faziam questão de dizer: - Sou do Canacy (o nome de um Centro Espírita tradicional em Montes Claros), sou do Sobreira, e se descortinavam os centros espíritas da "princesa do norte", ou então perguntavam: - De onde vocês são?

- Por que vocês não vendem o livro que foi psicografado por médiuns daqui da cidade? Perguntou-me um interessado. Eu me recordei de uma coletânea de mensagens, talvez publicada há mais de uma década, que ainda tinha dezenas de exemplares no Allan Kardec, mas estavam em mau estado. Eu o conhecia, por que desde aquela época já tinha interesse na memória do movimento espírita, mas nunca tinha visto ninguém citar este livro ou alguma de suas mensagens na reunião de estudos. Fico pensando até hoje se o cliente não seria um dos médiuns ou parente de um dos médiuns, e lamentei não ter um dos livros para presenteá-lo.

Não importa qual feira, sempre tive um imenso prazer em estar com os companheiros do centro espírita, em tarefa. Não importava o sol de quarenta graus, nem os apertos com o troco era sempre uma alegria estar junto em trabalho para a divulgação do espiritismo na sociedade. Nunca fui hostilizado por ninguém, e mesmo o diálogo franco com o casal evangélico foi pautado pelo respeito.

As feiras ficaram no passado, as do nosso Célia Xavier são organizadas pelos funcionários e pelo responsável pela livraria, acho que a correria da capital não está permitindo transformarmos esta tarefa em uma atividade prazerosa e de encontro. As pessoas vêm atraídas pelos descontos, mas e o algo mais? 

Passados trinta anos, cada casa tem a sua feira do livro espírita, que não é bem uma feira, mas um "esforço de vendas". Como é a sua vivência, leitor? Ir à feira do livro espírita é para você uma experiência de encontro e troca, ou apenas um lugar para economizar uns reais?

3.11.14

EM TAREFA




No último final de semana estive no GEAK, um núcleo pequeno incrustado em um bairro operário de Contagem. Foi uma grata emoção rever companheiros que conhecemos na COMEBH há três dezenas de anos na frente da gestão desta casa espírita.

Estou acostumado a fazer palestras em casas de porte médio e grande, às vezes em público com centenas de pessoas, mas não há nada mais grato à alma do que falar para um público menor, que acolhe e se interessa por cada palavra, cada história. Pude perceber que os presentes, independente de poder aquisitivo ou escolaridade, têm o espiritismo como uma joia rara, algo realmente importante para a vida. A relação familiar entre os presentes, o cuidado com as tarefas, a satisfação com cada realização da pequena casa são elementos tão importantes a um centro espírita que não podem ser substituídos pela ânsia de ampliação, pelos números.

Denis, Yvonne, Chico e outros personagens tão caros à história do espiritismo ressoavam nas almas ouvintes. Eu já estava ficando acostumado a ter que apresentá-los a um público iniciante que olha com estranheza e curiosidade, às vezes com indiferença. Este grupo, todavia, ouvia como quem recorda, e recorda com prazer. Os construtores do espiritismo que herdamos lhes eram familiares, e recebiam com alegria as poucas histórias que tive tempo de fazer lembrar.

No intervalo de trinta minutos entre as duas partes da palestra, não foi sem surpresa que recordamos juntos de outros trabalhadores comuns ligados a nós, do movimento mineiro. Manoel Alves, José Mário Sampaio (meu pai), Telma Núbia, Leão e Tiana, todos pareciam muito próximos em nossas memórias compartilhadas. A eles foi endereçado um sentimento de gratidão por terem sido professores, amigos, conselheiros, pessoas que dispuseram de tempo e afeto para com a geração que agora dirige e sustenta as casas espíritas. Eles não têm monumentos nem placas, mas sua memória continua viva nas almas com quem conviveram.

A palestra terminou e veio o passe. Recebi muito carinho e afeição da parte dos presentes, que partilhavam nosso entusiasmo com o texto de Léon Denis: potências da alma. Antes de sair não pude deixar de notar um jovem com dificuldade de locomoção, possivelmente por alguma doença degenerativa, que deixava a sala de passes rumo à saída. Certamente não estava lá em busca de cura, que os espíritas sérios não prometem, nem teria deixado nenhuma soma em dinheiro, porque o trabalho de passes é totalmente voluntário. Ele vestia uma camiseta branca, onde se lia impresso nas costas: “Fora da caridade não há salvação”.

9.8.12

LIMA DUARTE FALA DE SUAS MEMÓRIAS DO ESPIRITISMO NO TRÂNGULO MINEIRO E INTERIOR DE SÃO PAULO



A página da Rádio Espiritismo BH trouxe-nos a entrevista feita com o ator Lima Duarte, que fará o papel de Dimas no filme baseado no livro homônimo "E A Vida Continua", de André Luiz.

Lima Duarte fala de sua infância e juventude, do movimento espírita no triângulo mineiro, de sua iniciação no mundo das artes ainda no movimento espírita, da mediunidade de sua mãe e de muitas outras coisas importantes à memória espírita, além de curiosas e interessantes.

Quem diria que um ícone do teatro, televisão e cinema brasileiros teria tantas marcas deixadas pelo espiritismo?


http://espiritismobh.net/index.php?option=com_content&view=article&id=297:Depoimento%20de%20Lima%20Duarte&catid=58:Videos%20Extras&Itemid=118


29.7.12

RECORDAÇÕES DE ALCIONE MIANA MACHADO


Alcione Miana Machado


É muito comum escrever-se sobre líderes e expositores atuantes no movimento espírita que desencarnam. Hoje faremos diferente. Vamos escrever sobre uma trabalhadora espírita e pessoa de bem.

Alcione desencarnou recentemente, vítima de um acidente vascular cerebral hemorrágico e um mês de luta pela vida em centro de terapia intensiva. A família enfrentou com carinho e resignação, não sem tristeza, todo este período desgastante de idas, vindas e expectativas. Um belo gesto, às vezes incompreendido pelos espíritas menos esclarecidos, foi a oferta incondicional de doação de órgãos após o protocolo de confirmação da morte encefálica. Um último ato de caridade, que seguramente seria endossado por Alcione, se ela estivesse consciente.

Alcione ligou-se ao movimento espírita desde a infância, ao que sei. Embora de grupos diferentes dentro da mesma casa, frequentamos a mocidade da AECX e estivemos juntos em algumas atividades, como o Coral que a maestrina Anésia regia. Bela voz, um pouco tímida no início, Alcione transformaria a música em um de seus instrumentos de trabalho futuros.

Formou-se em Psicologia e foi atuar na Psicologia Escolar, no Lar Espírita Esperança. O Lar foi uma iniciativa de nossa casa espírita, uma instituição grande para o nosso fôlego, bem construída, mas carente de trabalhadores contratados e voluntários. Alcione tornou-se com o tempo a coordenadora-administrativa da equipe da creche, que passou a ser fruto de um convênio entre o Lar Espírita e a Prefeitura de Belo Horizonte.

Crianças, professores, pais, voluntários, todos passavam pelos cuidados gentis e criteriosos de Alcione. Ela praticamente abriu as portas e facilitou todo o trabalho de campo do meu doutorado. As crianças a abraçavam e respeitavam, sempre paciente e risonha. As professoras e pedagoga a tinham como referência e trabalhavam sob sua atenciosa diligência. Os eventos extra-creche, no Lar Espírita, sempre contavam com sua colaboração voluntária na organização e respeito às regras necessárias para que o espaço fosse utilizado sem criar qualquer risco para a saúde das crianças. Ela era a autoridade presente nos dias de funcionamento da creche, embora não fosse a superintendente.

Alcione estava presente também na organização e execução das reuniões de pais, ação importante para o fomento da participação da família das crianças na creche e solução de problemas diversos.

Fora do seu trabalho profissional, como voluntária, Alcione tornou-se um dos coordenadores da mocidade espírita da casa. Anos de dedicação aos adolescentes e jovens.  Mais que respeitada, tornou-se pessoa querida entre os jovens, e apesar de sua condição de adulta jovem, eram muitas as brincadeiras sobre seu tempo de participação no grupo, o que ela recebia com bom humor.

Voz cristalina, cantava com os jovens, organizava e incentivava orfeões infantis na creche, mais de uma vez organizou ônibus e excursões para que eles fossem cantar em diversos lugares.

Sem trabalhadores deste quilate, não há atividades espirituais. Fundadores podem conceber e até registrar em cartório, mas este tipo de colaborador funciona como os membros e o sangue do corpo laboral. Sem Alciones, os trabalhos definham e fecham-se. Ela não apenas contribuiu pessoalmente, "colocou a mão na massa", como serve de inspiração aos que mais se preocupam com seu próprio ego que com a continuidade, qualidade e funcionamento das atividades institucionais.

Sentiremos sua falta, Alcione. Lembraremos de você na alacridade dos jovens, nas festas das crianças do Lar Espírita, nas iniciativas de grupos musicais de nossa casa, e nos muitos espaços nos quais você deixou marcas. Lembraremos de você quando assistirmos as palestras do Pedro, com sua memória prodigiosa, quando encontrarmos a jovialidade da Anésia, e ao conversar com seus irmãos e sobrinhos, que são nossos amigos diletos e presentes. Você nos antecede, e empreende cedo a grande viagem, mas sua presença não se apagará com facilidade de nossas almas, posto que se acham marcadas com o perfume de suas ações.  



30.6.12

O ESPIRITISMO EM BELO HORIZONTE: MOVIMENTO OU MOVIMENTAÇÃO?


Foto: Vista Aérea de Belo Horizonte - MG

Lendo sobre a história da FEB e o papel de Bezerra de Menezes no movimento espírita, que foi muito descaracterizada sob a imagem mítica do filantropo (que não tenho dúvida que ele foi) e do apaziguador, fiquei a meditar sobre um ponto sobre o qual ele fundou sua ação no movimento: a organização da divulgação do Espiritismo. Dispersas, as poucas sociedades formais disputavam entre si por pontos menores, entrando em conflito interno por assuntos até relevantes, mas deixando que as diferenças entre si transformassem em um obstáculo para uma tarefa claramente superior: levar à sociedade brasileira uma visão mais clara do espiritismo, que vinha sendo atacado por segmentos organizados, como os médicos, os católicos e algumas elites conservadoras, através de legislações e ações de governo. Os conflitos também impediam algo fundamental: a ação coordenada e conjunta das instituições espíritas.

Quando reflito sobre o movimento belorizontino de hoje, continuo surpreso com a conformação que ele tomou com o passar dos anos. A política geral dos órgãos federativos no Brasil sempre preservou a necessária autonomia das sociedades espíritas. Houve tempos de orientações mais diretivas, mas desconheço qualquer ação no sentido da fiscalização das atividades realizadas intramuros de cada casa, tão fantasiosamente temidas pelos desinformados. Apesar disso, são poucas as ações organizadas no sentido de aproximarem-se as associações, apesar da quantidade imensa de eventos, ações de captação de recursos para as obras, iniciativas ligadas à arte, palestras, seminários e outros.

Parece que as iniciativas dos grupos concorrem com as iniciativas do movimento espírita. Batem cabeça. Fazem mais do mesmo, sem qualquer diferença. E a falta de uma limitação clara do público-alvo, assim como de compromissos entre lideranças, concorre para esta transformação do movimento em movimentação. As iniciativas são, geralmente, individuais, projetos de pessoas e não projetos coletivos. Há sempre uma liderança com um sonho pessoal, e escasseiam lideranças e trabalhadores para iniciativas articuladas das casas espíritas, o verdadeiro papel dos órgãos federativos e das casas de grande porte.

Penso que a iniciativa mais próxima desta integração das casas, não através de códigos de funcionamento, mas através de atividades conjuntas organizadas, com objetivos traçados com base nas necessidades e interesses comuns, na capital mineira é a realização das Confraternizações de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte - COMEBHs, cuja separação setorial comprometeu a capacidade de aproximar trabalhadores jovens, futuras lideranças de sociedades espíritas diferenciadas. Vejo também um esforço organizado no movimento de evangelização infantil, mas os eventos são mais de formação que de aperfeiçoamento e reflexão. Espero não estar sendo injusto com outras iniciativas.

Um sintoma da fragilidade federativa é a falta de órgãos de comunicações que atinjam ao movimento. Pergunte aos frequentadores, trabalhadores e dirigentes de sua casa: qual é a revista, ou mídia eletrônica voltada à divulgação do que acontece em BH que eles lêem? Mesmo os mais estudiosos parecem focalizar seus interesses em livros de conteúdo doutrinário (ou nem tanto), mas desconhecem as iniciativas coletivas (será que existem ou são apenas uma teimosia de pequenos grupos organizados nos órgãos que tentam atender e organizar as necessidades das associações como um todo?)

Esta multiplicidade de eventos abertos a todos, mas não voltados a ninguém, fez desaparecer pequenos gestos que encontramos ainda nos grupos do interior mineiro: o envio de representantes das casas espíritas em encontros de sociedades espíritas, a realização de atividades conjuntas para o fortalecimento das casas locais, o envio de correspondências formais das lideranças justificando ausências, ou seja, estas pequenas considerações e o diálogo que faz o todo ser mais que a justaposição das partes. Estas pequenas gentilezas, em meu tempo, eram uma espécie de obrigação, que parece ter ficado fora de moda com o tempo.

Outro fenômeno que incomoda muito é a banalização da figura do expositor. Talvez seja um efeito indesejado do planejamento tipo “rolo compressor” dos estudos nas associações. Perguntemos aos associados: quem gostaríamos de assistir nas casas espíritas, porque trarão contribuições originais, incentivarão as atividades, nos trarão conhecimentos úteis e relevantes? Quem nos faria sair da rotina semanal da reunião, passe, tarefa, que incentivaria o encontro dos trabalhadores de grupos diferentes, que nos faria sair motivados e reflexivos da casa espírita? Quem é um estudioso com domínio diferenciado de um determinado tema ou atividade? Isto parece estar desaparecendo. Lembro dos tempos de juventude, quando receber Divaldo Franco, Raul Teixeira, Honório Abreu, Jorge Andréa dos Santos, era um desejo e uma alegria. Lembro de ter viajado para o interior em busca dos estudos de Deolindo Amorim, que após muitos anos pôde vir a Minas Gerais. Recordo-me das propostas instigantes de revisão da assistência social apresentadas pelo Dr. Mário Barbosa. Eram nomes de primeira linha que não apenas ouvíamos, mas líamos com avidez e interesse.

Esta autonomia individualista e a falta de cuidado com os órgãos federativos e representativos do movimento geram eleições esvaziadas, grupos de trabalho sem respaldo, e, o pior, a falta de significado real do esforço de construção coletiva do espiritismo na mente dos frequentadores. Ouvi de uma liderança importante da casa que frequento que os órgãos federativos são “sopas de letrinhas”. E não posso ficar irritado com tamanha franqueza, tenho que refletir como foi que a casa que frequento e os órgãos que a representam deixaram de ser membros de um trabalho conjunto para se transformar no “lugar da missa”, um espaço geográfico que acostumamos a frequentar semanalmente, tomar o passe, ouvir uma palestra ou participar de uma reunião mediúnica, fazer uma tarefa assistencial e voltar para casa.

12.6.12

A ENFERMEIRA DOS ESPÍRITOS



Dona Odete

Extremo Sul da Bahia, década de 90. Convidado a fazer uma palestra em no Centro Espírita Semente de Luz, em Mucuri, fiquei conhecendo Dona Odete.

Ela havia sido fundadora desta sociedade espírita, mas tinha uma longa trajetória anterior na participação em casas espíritas. Sua experiência mais interessante foi com uma médium de efeitos físicos que durante anos trabalhou em reuniões de materialização e tratamento em Teófilo Otoni, Minas Gerais, chamada de Sinhá, segundo sua filha Vera.

Os doentes participavam da reunião. Dona Odete assumia a frente dos trabalhos como se fosse uma enfermeira. Organizava, preparava o material que seria utilizado, agendava os presentes, entre outros cuidados. Um de seus cuidados mais especiais era com os vidrinhos de vacina que esterilizava, rotulava, enchia com água e colocava à vista dos membros da reunião. Ao longo da sessão, sob a ação espiritual, a água dos vidrinhos mudava sua constituição: uma nova cor, um novo odor e um sabor diferente. Cada vidrinho, destinado ao tratamento de uma pessoa diferente, podia apresentar uma coloração diferente dos demais. Um detalhe: eles estavam fechados e lacrados.

Outra peculiaridade da reunião: os espíritos materializavam-se na penumbra e conversavam com os presentes. Dona Odete guardou consigo uma fita K7 na qual registrou de forma amadora as vozes dos seres que surgiam e se manifestavam. É, talvez, além da memória dos que participaram, o único registro que fizeram e que resistiu ao tempo.
Comentários, orientações, explicações, um humor leve, tudo isto se encontra nos muitos minutos de gravação. José Grosso e Palminha são alguns dos espíritos materializados que falaram ao público (e tiveram suas vozes registradas pelo gravador).

Ao terminarem-se as sessões, estavam escritas as prescrições e orientações de uso do conteúdo dos vidrinhos. Como não havia curiosidade científica, não tenho notícia de qualquer envio para análise das substâncias modificadas ao longo das sessões. Uma pena!

Odete informou-me que uma vez Chico Xavier foi assistir aos trabalhos. Ele advertiu aos organizadores que aquele tipo de mediunidade tornar-se-ia cada vez mais raro. De fato, hoje se contam nos dedos os grupos que trabalham com efeitos físicos, e são mais raros ainda aqueles que obtém fenômenos expressivos, com participação de ectoplasma tangível e visível. Será que na presente encarnação ainda assistirei um renascimento deste tipo de fenômeno para fins de estudos controlados? Espero que sim.

9.5.12

UM GRUPO DE JOVENS EM FUNCIONAMENTO HÁ 40 ANOS


Foto: Lar Espírita Esperança, 2008

Recordo-me de uma visita de um jovem, há muitos anos, que estava fazendo um estudo sobre as mocidades espíritas de Belo Horizonte. Ele trazia uma tese, a de que as mocidades estariam desaparecendo. Esta tese não fazia qualquer sentido para a nossa experiência, talvez fosse uma vivência pessoal que ele buscasse generalizar.

Esta foto é de 2008. Foi um evento que comemorava 40 anos da mocidade da Associação Espírita Célia Xavier, em Belo Horizonte. Não me recordo com clareza, mas acho que esta reunião foi em um sábado, e a foto já foi no apagar das luzes. Raul Teixeira, ao centro, foi o palestrante do evento, que tinha por objetivo marcar muitos anos de contribuições, encontros, palestras, idas e vindas de Niterói.

Para os que não conhecem as pessoas, é apenas um grupo com membros de 8 a 80, mas, para nós, são as muitas gerações de jovens que se sucederam; são histórias vivas de superações e lutas, de dedicação e trabalhos diversos. Cada rosto traduz um imenso conjunto de experiências e afetos. Há lutas e desentendimentos, algum sofrimento, mas uma história de muita intimidade e realização.

Há famílias de duas ou três gerações presentes, algumas com os pais já desencarnados mas ainda presentes em nossas memórias pelo carinho com que nos trataram, pelos auxílios das mais diversas ordens que nos prestaram ao longo de suas contribuições, pela admiração que tínhamos por seus exemplos na assistência e promoção social, na mediunidade, nos estudos, e em muitas outras situações. Quem vê este grupo não tem a menor ideia do que significaram e significam para nós. Quem se atreve a falar do movimento espírita de fora, reduzindo a rica experiência que vivemos juntos ou não tão juntos assim aos estreitos jargões da alienação ou do controle social, definitivamente não têm qualquer noção do que escrevem.

Quando ouço um jovem nos dias de hoje repetindo as frases prontas dos anos 70, muitas vezes por desejarem trilhar o caminho das festas, relacionamentos brevíssimos e prazeres sem culpa aparente, só posso respeitar-lhes as escolhas e pensar comigo mesmo que eles não sabem o que fazem.

15.1.12

O ESPIRITISMO EM CORDISBURGO


Entrada da Gruta de Maquiné

Cordisburgo é a terra de Guimarães Rosa, terra do interior mineiro em que um dia apeavam peões cheios de estórias e canções, falantes uns, silenciosos outros, mas todos com uma marca que quase não existe mais.

Nesta terra encantada, cheia de Deus e Diabo, cheia de lendas e heróis, cheia de fazendas e vendas, morou, por nove anos, o menino que foi ser doutor na cidade grande e cônsul nas Europas. Abençoado ou amaldiçoado por esta sina, Doutor Guimarães Rosa não perdeu Cordisburgo, após tantos anos longe dela, porque a cidadezinha ficou lá, no coração (cordis, em latim), e junto dela todo o povo encantado, com as histórias encantadas, que parecem ser coisa de outro mundo.

Cheguei na cidade do coração atraído por duas coisas nebulosas ou inexistentes na minha memória: o Museu Guimarães Rosa e a Gruta de Maquiné, cheia de Peter Lund, sábio dinamarquês cujo destino levou para o sertão mineiro.

Maquiné não é a maior das grutas, mas devia ser visitada por todos os psicanalistas de Minas. Os estalagtigtes e estalagmites formam imagens só interpretáveis pela fantasia, pela imaginação e, talvez, tutoradas pelo inconsciente. Beleza e mistério, natureza e espírito humano se encontram no seio da terra, no centro das rochas.

Por que estou escrevendo isso neste blog? Não é um blog de espiritismo?

Após os quilômetros de andança no coração da terra, ouvindo história natural e estórias de guia, saí, ofegante, rumo ao carro que ficou estacionado em frente às lojas de lembranças e coisas da terra, comuns nos pontos turísticos em todo o mundo.

Minha filha chamou-me para ver algo. Uma banca de livros espíritas e algo mais.
Livros espíritas? Nonada?


Dulce e o blogueiro de Espiritismo Comentado, apresentando o livro de Alfred Russel Wallace

Sim, e junto deles, promovendo-os, a simpática Dulce, da FRABEM, Fraternidade Bezerra de Menezes, que funciona há vinte anos no Bairro da Paz, na Rua Albertino Maciel, de número desconhecido. Mesmo porque, número é coisa de cidade grande, de lugar em que ninguém conhece ninguém, mesmo tendo um tantão de gente para poder se relacionar. Tenho certeza que os habitantes de Cordisburgo conhecem bem o Centro Espírita, que já deve ter atingido sua maioridade, ou quase, uma vez que funciona há mais de duas décadas.

Gentil, Dulce deixou-nos à vontade para ver os livros, até que minha esposa denunciou, do lado de fora da pequena livraria: "O Aspecto Científico do Sobrenatural"!

Dulce pegou o exemplar, cuidadosamente guardado dentro de um plástico, para conservação contra a umidade local. Ele estava lá, novinho, não sei dizer se da primeira ou segunda edições, mas possivelmente um dos últimos exemplares da primeira.

Ela ficou sem entender. - "Vocês estão estudando este livro?"

Meio sem graça, mas imensamente feliz, expliquei-lhe: - "Não. Eu o traduzi."

Wallace deve estar feliz, muito feliz. Se seu livro ainda não foi encontrado às margens do Rio Negro, pelo menos encontra-se à venda um século e meio depois de inicialmente publicado, em língua portuguesa, no sertão, pertinho de onde seu colega dinamarquês e seus sucessores acadêmicos encontrariam animais pré-históricos ainda não documentados e fundariam uma espeleologia e uma arqueologia brasiliensis.

Os espíritos também estão lá, em meio à literatura de Guimarães Rosa e na voz contida de médiuns do século XXI, que não se preocupam com a opinião pública, nem têm medo de cara feia. Fazem seu trabalho e exercem sua cidadania democrática, reunindo-se para estudar Allan Kardec e seus discípulos.


Portal Guimarães Rosa e um ser estranho e extemporâneo

Dizem que  Guimarães Rosa é simpatizante do espiritismo. Então, sou simpatizante do simpatizante...

30.10.10

O BANDEIRANTE DE MINAS GERAIS


Foto 1: Betinho

Há diversas formas de inserção e atuação das pessoas no movimento espírita. Frequentadores, muitos; médiuns, expositores, dirigentes, trabalhadores, alguns. Este homem simples, de coração aberto, alma generosa e imensa disposição para o trabalho, discípulo de Virgílio Pedro de Almeida, resolveu ser bandeirante.


Betinho (Alberto Rodrigues dos Santos) é oriundo de Corinto-MG, terra natal de meu desencarnado e atuante pai. Iniciado no Espiritismo em função da enfermidade de uma irmã, após transferir-se para Belo Horizonte, "de mala e cuia", passou por alguns centros espíritas e fixou-se no tradicional "Centro Espírita Amor e Caridade", que traz em sua história a memória do médium Antônio Loreto Flores, conhecido na capital mineira.


Espírito viajante, não sei dizer ao certo como, mas iniciou sua extensa atividade de fundação de sociedades espíritas na capital mineira, com o GEAL - Grupo Espírita André Luiz, que iniciou-se no culto no lar de sua própria residência.


Parece que tomou gosto e não parou mais. Sua ação estruturante foi importante na formação das seguintes instituições:

- Centro Espírita Joana D'Arc - Belo Horizonte, MG

- Grupo Espírita Bezerra de Menezes - Corinto, MG

- Grupo Espírita Mauro Albino - Contria, MG

- Grupo Espírita André Luiz - Lassance, MG

- Grupo Espírita da Prece - Buenópolis, MG

- Grupo Espírita Francisco Cândido Xavier - Moeda, MG

- Lar Escola-Espírita Irmã Antônia - Belo Horizonte, MG

- Casa Espírita Urbano - Belo Horizonte, MG


Já tive o prazer de viajar com Betinho para o Grupo Espírita Bezerra de Menezes, antigo Centro Espírita Miguel Arcanjo. Guardo lembranças do papel aglutinador e incentivador de Betinho, que, graças à afinidade com o pensamento das obras psicografadas por Chico Xavier, sempre teve por diretriz o estudo do Espiritismo e o trabalho promocional, bases das organizações que auxiliou a fundar.


Muitos trabalham pela unificação, Betinho tem trabalhado pela "multiplicação" de casas. Como é que se faz as pessoas saírem do recesso do lar para empreender a construção de um centro espírita? Confesso que já vi acontecer muitas vezes, mas não sei fazer.


Curiosa a trajetória do Bandeirante Espírita das regiões onde viveu Guimarães Rosa. Quem sabe, no futuro, Diadorim troque sua arma de fogo pelo fogo da caridade, influenciada pelas novas casas que surgem no caminho após a passagem deste homem.

(Fonte: Conversando com Alberto Rodrigues dos Santos em, O Espírita Mineiro, n. 311 - out/dez 2009)


7.7.09

CASA DIA: UM PROJETO DE APOIO A QUEM QUER FICAR DE "CARA LIMPA"



A Janete, da Fraternidade Luiz Sérgio, solicitou que o EC divulgasse sua atividade de ação social. Eles desenvolveram um conjunto de atividades para auxiliar pessoas que estão lutando para ficar livres da dependência química (Álcool, drogas, etc.).

É uma iniciativa inteligente, que atinge um segmento geralmente estigmatizado pela sociedade, parabéns à Fraternidade. Não sei informar sobre custos, peço à Janete que me auxilie enviando mais informações. Leiam o texto abaixo enviado pela Fraternidade.


Casa Dia - Projeto Afeto

Trata-se do acolhimento dos recuperandos no horário das 8:00 h às 18:30 h, com o objetivo de mantê-los em atividade e amparados espiritualmente, enquanto assimilam conhecimentos que os fortalecerão no processo de abstinência e na luta contra a dependência.
Atualmente estamos nos dedicando àqueles que, embora consigam manter-se abstinentes de segunda a sexta-feira, acabam sucumbindo aos sábados e domingos. Para esses mantemos toda uma estrutura de apoio e assistência aos finais de semana, oferecendo:

  • Grupos de apoio – Programa Renascer
  • Técnicas de abstinência
  • Dinâmicas de Grupo
  • Assistência e tratamento Espiritual
  • Meditação
  • Atendimento Fraterno
  • Arteterapia
  • Cerâmica
  • Desenho e Pintura
  • Esportes
  • Atividades alternativas (vídeos – informática - alfabetização)
  • Café da manhã, almoço e lanches

Aos sábados e domingos de 8:00h às 18:30h.
Rua Três Pontas 2055 – Padre Eustáquio – BH
Telefone: (31) 3082-6037

http://www.fraternidadeluizsergio.org.br

16.4.09

CÉLIA XAVIER LANÇA NOVO CICLO INTRODUTÓRIO DE ESTUDOS SOBRE O ESPIRITISMO


A Associação Espírita Célia Xavier, de Belo Horizonte-MG, está lançando um novo ciclo de estudos sobre o Espiritismo. O primeiro módulo, constituído de quatorze temas, permite ao participante ter uma visão geral da Doutrina e Movimento Espíritas.
Está em preparação uma sequência, também em forma de temas, que pretende trabalhar os conceitos desenvolvidos em "O Livro dos Espíritos" e outras obras de Allan Kardec, com o objetivo de aproximar o participante do pensamento do codificador, base da Doutrina Espírita.
Maiores informações podem ser feitas na secretaria da Associação - 031-3334-5787, com Altair, Rejane ou Cerise.

14.4.09

ESPÍRITAS DE JUIZ DE FORA PROMOVEM EVENTO

Foto 1: José Herculano Pires
Recebi o texto abaixo do Marcílio, de Juiz de Fora.

"A Casa do Caminho, de Juiz de Fora, está em contagem regressiva para a realização de um dos maiores eventos espíritas de Minas Gerais: a Semana de Kardec. Na sua vigésima segunda edição, o encontro tem o objetivo de divulgar o Espiritismo e promovendo um fórum de discussão e aprendizagem do conhecimento espírita. Idealizada e dirigida por Dona Isabel Salomão de Campos, a Semana de Kardec tem repercussão nacional e reúne importantes nomes do movimento espírita brasileiro.Este ano, entre os dias 20 e 26 de abril, um verdadeiro time de estudiosos estará aqui na cidade mineira de Juiz de Fora para participar do evento. São eles: César Reis, André Luiz Parente e Sérgio Aleixo, do Rio de Janeiro, Heloísa Pires, Astrid Sayeg e Nei Prieto Peres, de São Paulo, além Mirna Salomão, Iriê Salomão de Campos, José Passini, Ricardo Baesso e Alexander Moreira de Almeida. E, claro, Dona Isabel. Juntos, nós vamos nos aprofundar na vida e obra de José Herculano Pires. O maior filósofo espírita do Brasil, ele também foi considerado o maior divulgador do Espiritismo no país.Preparada com um ano de antecedência, a Semana de Kardec conta com uma equipe de 200 voluntários que atuam na organização e funcionamento do evento O evento conquistou seu espaço no cenário nacional e reúne em sete dias cerca de cindo mil pessoas. Utilizando diferentes mídias, com TV, rádio e Internet, a Semana de Kardec tem alcance não apenas no meio espírita, mas também atinge um público diferenciado e interessado em assuntos de caráter ético e espiritual.O evento é gratuito. As inscrições devem ser feitas pelo site www.acasadocaminho.org.br "

Comunidade Espírita A Casa do Caminho

Juiz de Fora - MG (32) 3226.2532



Programação:
20 de Abril Segunda - 20:00

Palestra de Mirna Granato Salomão Nagib JF

Tema: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.

Local: A Casa do Caminho


21 de Abril Terça - 20:00

Palestra de Ricardo Baesso JF

Tema: Quando tudo não é o bastante.

Local: A Casa do Caminho


22 de Abril Quarta - 20:00

Palestra de Prof. José Passini JF

Tema: O Consolador.

Local: A Casa do Caminho


23 de Abril Quinta - 20:00

Palestra de Alexander Moreira de Almeida JF

Tema: O método científico de Allan Kardec na elaboração do Espiritismo.

Em parceria com a Associação Espírita dos Profissionais da Área da Saúde da Zona da Mata Mineira

Local: Sociedade de Medicina e Cirurgia de JF - Rua Braz Bernardino, 59


24 de Abril Sexta - 20:00

SIMPÓSIO: Herculano Pires, o metro que melhor mediu Kardec.

20:00 - Abertura: Isabel Salomão de Campos

Momento de Arte

20:20 - Palestra de: Heloísa Pires SP

Tema: Herculano Pires, o homem no mundo.


25 de Abril Sábado - 08:30

08:30 - Credenciamento e entrega de material

09:00 - Momento de Arte

09:30 - Allan Kardec, o Codificador. César Reis RJ

10:20 - Curso Dinâmico de Espiritismo O Grande Desconhecido. Sérgio Aleixo RJ

11:10 - Coffee Break

11:30 - Introdução à Filosofia Espírita. Astrid Sayeg SP

12:20 - Perguntas e Respostas

14:30 - Educação para a Morte. André Luiz P. Parente RJ

15:20 - Agonia das Religiões. Iriê Salomão de Campos JF

16:10 - Coffee Break

16:30 - Ciência Espírita. Ney Prieto Peres SP

17:20 - Perguntas e Respostas


26 de Abril Domingo - 09:00

09:00 - Momento de Arte

09:20 - Atividade Prática - Distribuição de alimentos, medicamentos e vestuário a famílias necessitadas.

10:10 - Pedagogia Espírita. Heloísa Pires SP

11:00 - Perguntas e Respostas

11:20 - Intervalo

11:30 - Encerramento O Reino Isabel Salomão de Campos

21.3.09

INEDE PROMOVE EVENTO PARA AUXILIAR PORTO ESPERANÇA

A população de Belo Horizonte-MG e arredores está convidada a um festival de tortas beneficente mais uma feira do livro espírita novo e usado (três em um). A renda do evento será revertida para o Abrigo Porto Esperança. Leia mais sobre o tema.



27.2.09

Suely Caldas Schubert em Belo Horizonte




ENCONTRO COM SUELY CALDAS SCHUBERT



O7/03/09

Tema: Mediunidade e Obsessão em Crianças
Local: Grupo da Fraternidade Irmão Wernner
(Parceria: DIJ/UEM e Regional Sudeste - AME/BH)
Rua Arthur de Sá, 1415(esquina c/Prof. Geraldo Fontes) - União
Horário: 16:00 às 19:00h
Público Alvo: Coordenadores DIJ, Evangelizadores de Infância e Juventude

O8/03/09
Tema: Dimensões Espirituais do Centro Espírita
Local: Sociedade Espírita Joanna de Ângelis- SEJA
(Parceria: DOM/UEM e Regional Sudeste - AME-BH)
Rua Santa Clara de Assis, 96 - 1º de Maio
Horário: 8:30 às 12:30
Público Alvo: Coordenadores de Reuniões Mediúnicas Médiuns Vibracionais
9737-5856 Beatriz 9674-7946 Cristina 3427-4265 Fátima (terças e quintas de 13 às 18 horas)

19.2.09

Mapa de Sociedades Espíritas de Contagem


Vanilson Couto encaminhou também o mapa dos Centros Espíritas filiados à Aliança Municipal Espírita de Contagem, cidade vizinha a Belo Horizonte - MG. Se você frequenta uma sociedade espírita nesta cidade ou na capital que não consta em nenhum dos mapas e quiser incluí-la em uma versão futura, faça o seguinte:

Envie o nome da instituição e o endereço (rua, número, bairro, cep e, se possível, telefone) para vanilsoncosme@yahoo.com.br .
Em algum tempo poder-se-á comparar este mapa com o que contém as informações dadas pelos leitores do Espiritismo Comentado e outros órgãos que se interessarem, como a União Espírita Mineira.

13.2.09

Arquiteto faz Mapa de Centros Espíritas de Belo Horizonte


Figura 1: Mapa dos Centros Espíritas Belorizontinos para visualização em computadores


Vanilson Cosme Oliveira Couto, arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, entregou esta semana um mapa contendo cerca de 120 sociedades espíritas filiadas à Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, AME-BH.

" ...os mapas são como um registro parcial do que de fato acontece sobre o território dos municípios", explica. "Ainda que representações limitadas, eles podem reforçar ou contradizer estudos e percepções futuros como o cruzamento de informações relativas à concentração de centros espíritas, à densidade habitacional e ao nível sócio-econômico destas áreas."
O mapa de Belo Horizonte traz informações curiosas. Algumas regiões são conglomerados de centros espíritas, enquanto que outras são verdadeiros "claros".
Na próxima semana iremos publicar o mapa que ele fez voluntariamente, conjuntamente com seu irmão, o geógrafo Leandro Couto, do município de Contagem.