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28.1.10

O ESPIRITISMO BRASILEIRO NO FINAL DO SÉCULO XIX

Como era a prática espírita brasileira no final do século XIX? O que se escrevia na imprensa? Além de Bezerra de Menezes, quem foram os atores da construção do movimento que este ano deverá contar com a declaração de mais de 3 milhões de pessoas no Brasil?
Com esta intenção Eduardo Carvalho Monteiro vasculhou seu arquivo e pesquisou documentos, escreveu para o Exército Brasileiro, levantou fontes. O resultado é um livro biográfico, acrescido de artigos e poesias escritas por Ewerton Quadros, que nos vão permitindo compreender melhor a época e os interesses dos bandeirantes espíritas do Brasil.
Segue abaixo a transcrição de um dos casos de mediunidade narrado no Reformador de 1888.
"O sr. Manoel Leite Raposo, que há pouco começou a estudar o Espiritismo, possui as mediunidades de vidência e psicografia, mas, pela novidade, acredita sempre que tudo o que obtém vem de si mesmo e não de um ser invisível. Ultimamente, porém, em uma sessão, obteve ele uma longa comunicação escrita, na qual o Espírito descrevia com todas as particularidades a sua última vida terrena, cheia de lutas, de desfalecimentos e quedas, terminando pela assinatura do nome que tivera.
Tinha o médium acabado de ler o trabalho que obtivera sem falar na assinatura, quando um dos presentes disse em voz alta:
- Eu conheço uma senhora falecida há poucos anos, com que se deu tudo isso; parece que quiseram escrever a sua história. Chamava-se M.
Era exatamente o mesmo nome que assinava o trabalho e que pertencera a uma pessoa em que nunca o médium ouvira falar."
(MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Marechal Ewerton Quadros: Primeiro Presidente da Federação Espírita Brasileira. Capivari-SP: CCDPE e EME, 2006.

16.1.09

Como foi fundada a Federação Espírita Brasileira?

Figura 1: Sede da FEB na Av. Passos, Rio de Janeiro. Ela foi construída na gestão de Leopoldo Cirne e inaugurada em 1911.


Poucas fontes documentais tratam da fundação da Federação Espírita Brasileira.

Canuto Abreu escreveu um livro importante, mas pouco conhecido, chamado "Bezerra de Menezes - Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o Ano de 1895." Consegui outras fontes, inclusive documentais, no livro do Eduardo Carvalho Monteiro que cito ao final do trabalho.

Nasce o Reformador

Abreu defende uma tese curiosa, a FEB é filha do Reformador e de uma pastoral da Igreja Católica de afirmava "devemos odiar pelo dever de consciência", referindo-se aos adeptos do movimento espírita e baseando-se no pensamento moisaico.

Esta pastoral foi escrita em junho de 1882. À época, Augusto Elias da Silva era neófito no movimento espírita, frequentava a Sociedade Acadêmica e convenceu-se das idéias espíritas a partir dos estudos de "O Livro dos Espíritos".

Incomodado pela pastoral, ele escreveu um texto em resposta aos católicos intolerantes e não conseguiu publicá-lo em nenhum órgão de imprensa da época. Resolveu então fundar uma revista de orientação liberal com duas partes: uma seção voltada a "todas as corporações científicas, filosóficas e literárias" e outra voltada ao Espiritismo.

Após publicar o primeiro número, afirma Abreu que o editor saiu à cata de colaboradores, e conseguiu envolver neste projeto Pinheiro Guedes (médico homeopata), Ewerton Quadros (marechal) e Bezerra de Menezes.

Bezerra de Menezes julgava necessário unir os espíritas no Brasil em um centro, na capital do império, formado por delegados de todos os grupos. Esta idéia ganhou força com a publicação de Reformador, uma vez que seu "conselho editorial" não desejava associá-lo a uma sociedade espírita isolada.

No natal de 1883 (segundo Abreu) ou em 1o. de Janeiro de 1884 (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO, 2006), reuniram-se na casa de Antônio Elias da Silva as seguintes pessoas: Bezerra de Menezes, Raymundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Filgueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Victório e Pedro da Nóbrega.

Canuto Abreu entende que a idéia de congregar os grupos espíritas em torno de uma entidade central era uma das tônicas da fundação desta nova organização, mas Quadros afirma que a finalidade era “fundar uma sociedade para o estudo científico do Espiritismo” (MONTEIRO, 2006. p. 23). Giumbelli (1997, p. 63) também discute esta finalidade, e com base no Reformador da época ele encontra a apresentação da FEB como uma organização que visava a “propaganda ativa do Espiritismo pela imprensa e por conferências públicas”.

Foram convidadas outras pessoas para participarem da sociedade e as que o fizeram no prazo de sessenta dias foram inscritas como sócios-fundadores. O número chegou a 40 pessoas de pelo menos quatro estados diferentes. Giumbelli (1997, p. 62) fez um levantamento das profissões dos fundadores e encontrou engenheiros, homeopatas, advogados, militares, funcionários públicos, autônomos, algumas esposas dos fundadores e mulheres sem vínculo familiar com os demais associados.

A Sobrevivência da Nova Sociedade

Com uma sede alugada e poucos recursos, Dias da Cruz, médico homeopata, eleito presidente, teve um papel importante na sobrevivência da mesma. Ele a manteve e chegou a assinar um contrato de aluguel de valor muito mais alto que o inicial, enfrentando a crise econômica que sobreveio com a proclamação da república sem permitir que a sociedade se dissolvesse. (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO, 2006)

O Papel de Órgão Federativo

Giumbelli (1997, p. 63) mostrou muitas evidências de que o papel de órgão federativo, apesar do nome da sociedade, só foi assumido tempos após a fundação da FEB. Ela chegou a filiar-se a uma sociedade que foi criada com esta função. Abreu (1981) entende que havia uma intenção da parte de Bezerra de Menezes em transformar a FEB em uma organização que coordenasse a propaganda espírita no Brasil, e cita seu discurso publicado no Reformador de 1895 no qual ele implementa mudanças importantes na gestão da sociedade que consolidariam, no futuro o papel que esta organização desempenha hoje.

Fontes Bibliográficas

ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes.4 ed. São Paulo: FEESP, 1981.
GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de janeiro: Arquivo Nacional, 1997.
MARTINS, Jorge Damas. O 13º. Apóstolo. Niterói: Lachâtre, 2004.
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Marechal Ewerton Quadros: primeiro presidente da Federação Espírita Brasileira. Capivari-SP: EME e CCDPE, 2006.
_______ 100 anos de comunicação espírita em São Paulo. São Paulo: Madras Espírita, 2003.