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10.2.18

O INSIGHT DE ALLAN KARDEC




Estou estudando o capítulo XI do livro A Gênese, que trata da gênese espiritual, ou seja, da concepção, origem e destino dos Espíritos. Esse livro foi publicado um ano antes da desencarnação de Allan Kardec, e esse capítulo em especial é uma espécie de retorno a temas tratados no livro primeiro de O Livro dos Espíritos.

Um ponto aparentemente óbvio, que fica bem claro nesse capítulo, é o que poderíamos chamar de insight kardequiano.  Emprego o termo em seu sentido psicológico, como define Houaiss, "compreensão ou solução de um problema pela súbita captação mental dos elementos e relações adequados".

O capítulo começa respondendo à questão o que é princípio espiritual? Fica muito claro que Kardec associa o princípio espiritual à inteligência e, com isso, o distingue do princípio material. 

Por que Allan Kardec não fez como os cientistas de sua época, e associou a inteligência e as funções psicológicas ao cérebro? A resposta é simples:  por causa da comunicação com os Espíritos.

No capítulo IV de O livro dos Médiuns (dos sistemas, que pode ser entendido também como as teorias), o mestre francês discute as hipóteses de charlatanismo, da loucura, do músculo estalante (para explicar os raps) e das causas físicas (magnetismo, eletricidade ou fluido) e do reflexo (seria uma espécie de animismo ou telepatia). para explicar os fenômenos que ele estudou. A inteligência das respostas obtidas dos espíritos, contudo, é uma característica que não pode ser explicada pelas teorias de base natural e o conteúdo das comunicações afasta ou reduz o poder explicativo da teoria do reflexo.

Ainda nesse capítulo, Allan Kardec discute as teorias que têm por causa dos fenômenos seres inteligentes, e discute os sistemas (teorias) da alma coletiva, sonambúlico, diabólico ou demonista, otimista (ação exclusiva de bons Espíritos), uniespírita (produzidos por Cristo), multiespírita e o sistema da alma material.

Se há um conjunto de fenômenos produzidos por inteligências incorpóreas, a inteligência em si não é, nem pode ser, uma propriedade do organismo, embora esse possa prejudicar sua manifestação. Há, portanto, um princípio espiritual ou inteligente, que não se reduz ao corpo material.

Esse é um dos pressupostos centrais da Doutrina Espírita. A partir dele Kardec fez diversas deduções filosóficas, e agregou resultados de observações e de diálogos com os Espíritos, constituindo o espiritismo como doutrina, ou como gosto de dizer, desenvolveu o pensamento espírita. 

Um princípio espiritual (que tem por essência a inteligência e a personalidade) independente do princípio material traz consigo uma imensidade de novas possibilidades e novas formas de ver o mundo e a existência.

3.5.13

COMO KARDEC UTILIZOU A EXPRESSÃO "PRINCÍPIO INTELIGENTE"?



Um desafio importante para o pensamento espírita é evitar a confusão de palavras e distinguir diferentes conceitos em diferentes autores.

Desdobramento, por exemplo, é uma palavra amplamente utilizada pelo movimento espírita brasileiro contemporâneo, para referir-se a um tipo de mediunidade na qual o Espírito do médium aparenta sair do corpo e incursionar-se pelo plano espiritual. Na obra de Kardec, no entanto, este termo não é empregado. Para referir-se à mesma faculdade, o fundador do espiritismo usa a expressão "sonambulismo mediúnico", e o explica a partir da teoria da emancipação da alma.

Um termo praticamente redefinido é a expressão kardequiana princípio inteligente. Lendo sua obra, vê-se que o principal emprego para esta expressão é fazer oposição à ideia de um princípio material, ou seja, adotar uma posição filosófica dualista, na qual espírito (com e minúsculo) e matéria formam os elementos constitutivos do universo, não se podendo reduzir um ao outro. Allan Kardec está propondo a existência de uma natureza material e uma natureza espiritual, que se interagem, mas são irredutíveis uma à outra.

Um dos recursos da hermenêutica usados para identificar o sentido das palavras é verificar como são utilizadas pelo mesmo autor em diferentes textos produzidos, se possível (desde que ele não as tenha redefinido, como pode acontecer com os filósofos e cientistas ao longo de sua obra). São diversas as passagens nos textos de Kardec na qual encontramos uma explicação do que é princípio inteligente. Selecionei algumas, de obras e passagens menos lidas, para fundamentar minha análise do sentido desta expressão:

3. O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria.(O espiritismo em sua expressão mais simples, os grifos são nossos)

Vê-se que Kardec não atribui "princípio inteligente" apenas ao princípio espiritual que animaria seres anteriores ao homem na escala evolutiva.

6. Terá o princípio espiritual sua fonte de origem no elemento cósmico universal? Será ele apenas uma transformação, um modo de existência desse elemento, como a luz, a eletricidade, o calor, etc.?

Se fosse assim, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria; extinguir-se-ia pela desagregação, como o princípio vital; momentânea seria, como a do corpo, a existência do ser inteligente que, então, ao morrer, volveria ao nada, ou, o que daria na mesma, ao todo universal. Seria, numa palavra, a sanção das doutrinas materialistas. (A Gênese, cap. 11 - Princípio espiritual)

Neste trecho de um capítulo que merece ser lido por inteiro, Kardec justifica porque mantém uma posição dualista. O princípio espiritual não apresenta propriedades da matéria. Ele percebe claramente que o monismo, se levado às últimas consequências, está associado ao pensamento materialista ou fisicalista. O monismo, como doutrina filosófica, embora possa ter muitas acepções, geralmente é utilizado nos nossos dias como a inexistência ou impossibilidade de se defender com bases empíricas a existência de outra natureza que não a material. É uma expressão do ceticismo radical e de uma concepção das ciências naturais.

21. A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal, do mesmo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo, para se desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria bruta. O corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta; ao contrário, sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto.(A Gênese, cap. III, O Bem e o Mal. Os grifos são nossos) 


Esta também é uma das passagens de Kardec na qual se vê que quando ele emprega a expressão princípio inteligente, não se refere apenas aos seres anteriores aos humanos, mas a um princípio que se opõe ao princípio material. Ele argumenta pela necessidade da interação entre os princípios (espirito e matéria) para a evolução do espírito. Kardec defende aquilo que o Prof. Rubens Romanelli (espírita mineiro e professor universitário) denominaria "o primado do espírito".

Podemos continuar, citando outras obras e contextos em Allan Kardec, mas ficaria enfadonho. Creio que é suficiente para demonstrar que nosso uso contemporâneo de "princípio inteligente" não é o mesmo empregado pelo mestre lionês.

7.2.08

Denis e a Evolução

Foto 1: Capa da Edição Antiga da FEB da Obra Prima de Denis

Há alguns anos, Heloísa Pires nos encarregou de pesquisar na obra de Denis uma afirmação sobre a evolução, citada por Herculano e muito discutida pelos espíritas do nosso tempo.
A questão filosófica central, repousa na evolução do princípio espiritual proposto pelos espíritos com que dialogou Kardec nas obras da codificação. Na sua conclusão, Kardec argumenta de forma lúcida:
"Qual é a origem do Espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Eis um mistério que seria inútil tentar devassar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir sistemas." (comentário da questão 613)
Denis, escrevendo de forma poética, assim se refere à questão espiritual dos seres vivos:
"... Na planta a inteligência dormita; no animal sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas." (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, página 123, 11a. edição)