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27.1.08

Mais um trabalho de Leandro Couto


NOVA ERA

A condição de nosso planeta vai melhorar e isto já está em processo. Alguns estudiosos, dentre vários campos do conhecimento humano, reuniram-se para esboçar o que achavam ser princípios de atitudes mais espiritualizadas e os compilaram num documento chamado Combinados. Antes, animada confraternização ocorria.
A geógrafa dialogava com o arte-educador:
― Na “nova” Terra os gigantes são outros. Vidas valem mais que diamantes, e a juventude é muito além de uma “banda numa propaganda de refrigerantes”.
O antropólogo comentava descontraído com o arqueólogo:
― Se o filho do Grande Chefe veio e bateram nele, o que dirá de nós em nossa caminhada terrena.
O biólogo e a paleontóloga, atentos, escutavam a afirmativa ponderada do historiador:
― A Vida evolui sobre o tempo, em “galhos frutíferos na árvore dos séculos”, como já disse André Luiz.
A socióloga falava ao pedagogo e à psicóloga:
― Somos crianças espirituais! Esta é a melhor categoria de análise que encontro para as sociedades de nosso globo.
Imediatamente próximos, o astrônomo e o geólogo, que mantinham tranqüila conversação sobre o tempo ser a dimensão espacial da eternidade, exprimiram com suave sorriso o deleite que sentiram com a resposta do pedagogo:
― Realmente, nosso planeta Terra é um Mundo-Escola e seu endereço é o Sistema Solar.
O economista expunha seu raciocínio ao interessado estatístico:
― O capitalismo conquista espaço através do consumismo quando muitas pessoas negligenciam o próprio cuidado mental e emocional. Vigiemos o nosso verdadeiro capital!
O jornalista dizia ao matemático:
― Felicidade compartilhada socialmente é felicidade multiplicada.
A afirmativa estimulou no “homem que calculava” um acréscimo amigável:
― E isto é exato!
A engenheira elétrica apresentava sua opinião ao inventor e ao arquiteto:
― É a ocasião de inventarmos uma lâmpada que funcione para sempre dentro de nós mesmos.
E o agrônomo compartilhava com o administrador o princípio que o orientava:
― Colhemos o que semeamos, como causa e efeito. Semeiam-se bons afetos, colhem-se bons afetos.
Não muito distante, o físico permutava opinião com o psicanalista amigo:
― Embora no plano físico não seja imediatamente nítido, nós permanecemos articulados às nossas próprias criações mentais, de modo que o pensamento se faz matéria.
O diálogo entre o teólogo e o músico seguia animado. Dizia o primeiro:
― Muitos são os caminhos que levam a Deus.
Ao que o segundo expôs sua opinião:
― Há vários, no entanto Jesus é o melhor diapasão que a humanidade recebeu.
― Inolvidável referência intelectual e moral, com certeza. O Cristo revela a vida como um conjunto de nobres preocupações da alma, a fim de que marchemos para Deus pelo raciocínio e pelo coração em caminhos retos.
Do diálogo entre a médica e o enfermeiro surgiu o seguinte comentário, não sendo possível precisar a autoria:
― Jesus é o médico. No máximo, somos enfermos cuidando de outros enfermos.
A professora formada em Letras dizia enfática ao biblioteconomista companheiro, extraindo-lhe sincero sorriso:
― Deus escreve certo por linhas certas e sua caligrafia é a mais linda que eu já li! Ele pinga todos os “i”s da escr“i”ta da v“i”da.
E em prosa vibrante, o jovem ator cênico falava a poetiza esboçando certo drama:
― Em certas ocasiões de nossa existência a vida se afigura à arte de fazer das tripas o coração.
Ao que ela respondeu:
― Em certas ocasiões sim, em outras não. ― E depois de breve pausa como se trabalhasse bem as palavras que ia proferir, disse: ― Mas, sempre o Amor fará da vida a arte do encontro, mesmo que sejamos cheios de desencontros.
Um escritor, amigo literato de idéias afins com a poetiza, completou-a com simplicidade esclarecendo ao jovem ator:
― A vida é o contexto do encontro de cada autor com sua obra. E do Criador com a criação, há Alguém nos esperando...
O filósofo, que observava a pouca distância esta conversação e, em geral, não gostava de ser superficial no conhecimento dos fatos e das coisas, escutava com dignidade e alma de menino aos colegas. Concluiu haver um Encontro Marcado e ponderou parecer-lhe que o livre-arbítrio consistia essencialmente em quando e como aceitar Deus.
Seu campo de visão alcançava também o jurista em diálogo empolgado com o cientista contábil:
― Nossa consciência é o verdadeiro tribunal divino, por isso a justiça indefectível nos acompanha em toda parte ― afiançou o jurista.
― Tudo vê, tudo ouve e tudo sabe ― validou o contabilista.
Por fim, o personagem “amigo da sabedoria” meditou, ao sobrevoar com o olhar o conclave científico do recinto, uma opinião própria que já trazia consigo de mais tempo. Eram muito evidentes os indícios da existência de uma inteligência que se manifesta no cosmos, na realidade e na vida. A cooperação, a bondade, a ordem e a organização que se explicitam em todas as coisas são tão grandes que chegam a constituir evidências ontológicas da existência de algo suprafísico. E disse a si mesmo com tom sereno na voz:
― No universo inteiro, tudo fala de Deus.