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15.2.21

MEDIUNIDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS

 

Figura 1: Windbridge Research Center é o nome do grupo dirigido por Beischel que faz pesquisas profissionais sobre mediunidade.

Hoje uma amiga psicóloga me perguntou sobre a relação entre mediunidade e psicologia. Lembrei de imediato das pesquisas de Julie Beischel. No livro “Among Mediuns”, ela publicou resultados de pesquisas com médiuns norte-americanos. No capítulo 5 ela apresenta resultados de estudos sobre como se dá o fenômeno mediúnico. Como ela deseja fazer pesquisa empírica (e não empiricista, ou sem teoria) ela aplica testes psicológicos nos médiuns em estudo.

Um teste muito conhecido nos Estados Unidos é o Myer-Briggs Type Indicator. Ele tem por base a teoria junguiana de tipos psicológicos. Após a aplicação o sujeito estudado é analisado a partir de quatro dicotomias:

1. Extraversão/Introversão (E/I) (ou  ele é extrovertido ou introvertido)

2. Que usa principalmente os sentidos / Que usa principalmente a intuição (S/N)

3. Que principalmente pensa / que principalmente usa os sentimentos (T/F)

4. Que emite julgamentos / que percebe o outro (sem julgar) (J/P)

Depois disso, segundo Beischel, se classifica o sujeito em um de 16 tipos:

1. ESTJ (extravertido, que usa os sentidos, que pensa e julga)

2. INFP (introvertido, que usa a intuição, que sente e que percebe)

E segue-se alternando as dicotomias até formar as 16 possíveis. Cada sujeito teria quatro características preferenciais.

Resultados Encontrados

1. 83% dos médiuns estudados foram categorizados como intuitivos (N) e que usa sentimentos (F). (apenas 16% da população norte-americana tem esse perfil).

2. Ela apelidou os médiuns de NFs

3. Os grupos profissionais com grande incidência de NFs nos Estados Unidos são: clérigos (55%) e professores de arte, teatro e música (54%)

4. Os profissionais que apresentam menor número de NFs são: policiais e investigadores (4% de NFs)

5. Ela entende que talvez isso explique o mau relacionamento entre forças armadas e policiais com os médiuns. “Os dois grupos simplesmente interagem psicologicamente com o mundo externo de formas inteiramente diferentes”. (isso nos leva a crer que os militares e policiais são predominantemente STs ou seja usam os sentidos e pensam, principalmente).

Infelizmente, ela não apresenta mais informações no seu livro. 

Você é médium? Quais seriam suas classificações nas quatro dicotomias?


Beischel, Julie. Among Mediuns: a scientist's quest for answers. Tucson-AZ: The Windbridge Institute, 2013.  (Acessível via Kindle)

15.6.08

História do Espiritismo é Capa da Revista de História


A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou dois excelentes artigos sobre a história do Espiritismo no Brasil.
O primeiro artigo é de um antropólogo namorador de história, já conhecido e reconhecido pelos seus estudos sobre o Espiritismo, Emerson Giumbelli. Ele ganhou em 97 o segundo lugar nacional do prêmio "Arquivo Nacional de Pesquisa" pelo seu trabalho "O Cuidado dos Mortos".
Giumbelli apresenta no seu artigo o surgimento do Espiritismo no Brasil e suas conexões com a mediunidade receitista. Ele valoriza o papel da assistência social através da mediunidade receitista no Brasil, que se tornou o primeiro grande elo entre os espíritas da elite e o povo (tese que desenvolve a partir do pensamento de Sylvia Damázio). Não sei se esta maxivalorização da mediunidade receitista reflete bem a época, se olharmos o movimento intramuros. Talvez tenha sido um dos eventos que maior visibilidade deu ao Espiritismo Brasileiro na imprensa leiga.
O autor apresenta um velho objeto de seus trabalhos, os episódios dos conflitos entre a sociedade brasileira e o movimento espírita devido ao código penal de 1890.
Depois trata de outros assuntos interessantes: O crescimento das adesões à FEB nas décadas de 20 a 40 e o papel de Chico Xavier na consolidação do Espiritismo no Brasil.
Ele propõe uma conexão temporal entre o lançamento do conhecido "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", a escolha de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, a inauguração da estátua do Cristo Redentor e a constituição da Umbanda como movimento e primeira religião genuinamente brasileira. Seriam o médium de Pedro Leopoldo e o autor espiritual influenciados por um espírito de época no qual se tentava não apenas na esfera religiosa, mas também na política e cultural, uma reconstrução da identidade nacional?
Outra contribuição original do autor é a passagem que ele faz da mediunidade receitista no movimento espírita pela desobsessão e tratamento através de passes. É uma questão instigante, mal desenvolvida, mas que me parece ter outros contornos, inclusive o próprio surgimento da Umbanda e os conflitos internos do movimento devido às influências orientalistas. Cabe lembrar que a desobsessão é prática desde os tempos de Kardec.
O segundo artigo é um retrato vivo da reação dos médicos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro ao movimento espírita. O Espiritismo é tomado como uma questão de saúde pública (pasmem!) e uma das teses aprovadas defende que ele deve ser combatido da mesma forma que se fazia "à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes, à tuberculos, à lepra e às verminoses". A influência naturalista de Haeckel e dos Higienistas.
Juliano Moreira outro autor influente nesta escola, com formação alemã, propôs a criação de "semanas antiespíritas" que mobilizassem a sociedade contra o "mal".
Um resgate importante do segundo artigo de Arthur Isaia nesta revista é a tese (recusada) do desconhecido (por nós, espíritas) Brasílio Marcondes Machado. Considerada corajosa, ele se opôs ao pensamento do establisment da FMRJ, e defende posições espíritas com base no pensamento de Bezerra de Menezes, e voltando-se contra Franco da Rocha, que pensava poder conseguir explicar os fenômenos espíritas com a Psicanálise Freudiana, reduzindo-os ao inconsciente. Machado usa Flammarion para opor-se a Grasset, e acrescenta a noção de "superconsciente", que posteriormente será endossada por André Luiz em sua obra. Possivelmente Machado teria sido influenciado pela obra de Gustave Geley, que, anteriormente a ele, já defendia a existência de uma "subconsciência superior".
As matérias estão ilustradas com fotos muito significativas, são uma bela contribuição ao pensamento espírita e à sociedade brasileira.