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22.5.18

PIERRE JANET: UM PSICÓLOGO ESTUDA FENÔMENOS DE SONAMBULISMO






Manoel Philomeno de Miranda atraiu minha atenção para alguns clássicos da psicologia e psicopatologia que não foram sequer citados no curso de psicologia que fiz há cerca de trinta anos, apesar de sua influência no pensamento psicológico e psicopatológico. Sua leitura mostra como era importante a questão da mediunidade e dos fenômenos parapsicológicos naquela época, haja vista que alguns dos autores que cheguei a estudar, principalmente da França e da Inglaterra, se ocuparam com os fenômenos espirituais.

Um desses autores foi Pierre Janet (1859-1947), que estudou medicina e filosofia e tornou-se professor de Filosofia na Universidade de Harvre aos 22 anos, época em que teve contato com pacientes interessados em fenômenos psicológicos. Interessado em estudar alucinações, foi apresentado pelo Dr. Gilbert à Léonie, uma mulher que havia sido hipnotizada pelo Dr. Perrier of Caen (discípulo do Barão Du Potet, magnetizador) e que produzia fenômenos à época muito divulgados, mas pouco conhecidos pela psicologia nascente, como a “clarividência, a sugestão mental e a hipnose à distância”.

Janet conseguiu produzir em Léonie, fenômenos de hipnose à distância, o que gerou um artigo, comunicado em uma sociedade de psicólogos parisiense. A partir daí ele conheceu Charcot, Charles Richet, Myers e Sidgwick, e a Society for Psychical Research, em Londres, que enviou ao Havre um de seus membros para “verificar” o seu trabalho. Janet afirma em sua autobiografia que:

“Os experimentos que eu conduzi a pedido dessa comissão e com as precauções exigidas forneceram resultados muito interessantes: o sonambulismo coincidiu exatamente com a sugestão mental dada à distância de um quilômetro, dezesseis vezes em vinte tentativas.”

Entre 1882 e 1889, Janet estudou com Charcot na Salpetriére e escreveu uma tese sobre “O estado mental das histéricas” (1892), na qual associa os eventos da neurose (histérica) com ideias fixas do sujeito e sua predisposição à sugestão. Posteriormente ele admite que o fenômeno mais importante é a sugestibilidade, e que nem sempre há ideias fíxas, como em um  caso de hemiplegia histérica.

Como os doentes mentais ficam sugestionáveis? Janet não aceita a ideia corrente de que o sujeito se auto-sugestiona e entende que as funções psicológicas de resistência e síntese se enfraquecem. O enfraquecimento pode dar-se por quatro motivos: o trauma emocional que afeta subconscientemente o sujeito, a exaustão de todos os tipos, padecimentos orgânicos e predisposição hereditária.

Outra contribuição de Janet à psicopatologia se deu na continuidade de seus estudos com pacientes com o que hoje se chama de depressão, e que ele descreveu com o nome de psicastenia, uma nova neurose distinta da histeria e da epilepsia (que parece ter sido considerada uma forma de neurose até ser associada às descargas elétricas no cérebro).

Cada vez mais os trabalhos de Janet foram direcionados pelo desenvolvimento da psicologia e da psicopatologia, e deixando no passado a questão dos estranhos fenômenos obtidos em situação de hipnose.

A influência do pensamento de Janet não se restringiu ao meio acadêmico, sendo muito utilizado o conceito de ideias fixas nos livros ditados por André Luiz a Chico Xavier, na explicação de fenômenos psicológicos entre os Espíritos.

Um dos conceitos de Janet que serão usados por outros autores na tentativa de explicar a mediunidade, os fenômenos dos sonâmbulos e a sugestibilidade hipnótica é o conceito de desagregação, que trataremos em outra matéria, ao falar de Joseph Grasset.

17.9.08

Letargia e Catalepsia

Figura 1: Yvonne Pereira, médium brasileira, quase foi enterrada na tenra infância por ter sido considerada morta pelos médicos (letargia).


Allan Kardec utilizou alguns conceitos próprios de sua época para a exposição de teses espíritas. Alguns deixaram de ser usados pelas respectivas áreas da ciência, o que exige do leitor da codificação um resgate do sentido dos termos na época e do contexto teórico no qual eles foram utilizados para uma compreensão clara do raciocínio do codificador e dos espíritos que dialogaram com ele.

Letargia e Catalepsia são conceitos associados à tese da emancipação da alma e que com o passar do tempo foram ganhando novos sentidos até caírem em desuso na Medicina e na Psicologia.

É possível que o sentido utilizado por Kardec tenha sido obtido nas teorias do magnetismo animal desenvolvidas depois de Mesmer, especialmente na obtenção do sonambulismo provocado.

Letargia, em “O Livro dos Espíritos” significa em estado de “perda temporária da sensibilidade e do movimento”, em que o corpo parece morto, no qual os sinais vitais se tornam quase imperceptíveis, a respiração reduz-se bastante e a pessoa pode ser tomada como morta.

Catalepsia em Kardec é uma espécie de letargia parcial, que atinge apenas alguns órgãos do corpo e que pode não prejudicar a comunicação com o seu portador, que poderia ter este estado induzido pelo magnetismo animal (passes, como dizemos hoje).

Alguns fenômenos parapsicológicos (humanos, mas não estudados convenientemente pela Psicologia) podem ser encontrados concomitantemente a estes dois estados. Um deles é a hiperestesia, ou seja, uma ampliação paradoxal da capacidade dos sentidos. Há registros de casos de sonâmbulos que, em estado cataléptico, eram capazes de descrever o que acontecia a uma distância muito superior à capacidade de nossos órgãos, ou de descrever, por exemplo, percepções que eles alegavam ter de órgãos internos do organismo de pacientes que lhes eram trazidos.

Kardec analisou situações de quase-morte na Revista Espírita. Há diversos casos de letárgicos, pessoas que chegaram a ser consideradas mortas pela medicina da época como a Sra. Schwabenhaus (Revista Espírita, 1858) ou que passaram por situações de claro risco de morte, ou como o Dr. D. (Revista Espírita, 1867), que ficou mais de meia hora debaixo d’água e foi resgatado e retomou a consciência.

Outro caso apresentado por Kardec é o da jovem cataléptica de Souabe, que após um evento traumático (morte da irmã), entrou em um estado entre cataléptico e letárgico e passou a ser capaz de descrever pessoas enterradas, bastando ser levada próxima ao túmulo e a descrever a aparência de pessoas idosas que a visitavam quando eram jovens e sem modificações do tempo e das doenças.

Eles narram histórias envolvendo o contato com pessoas desencarnadas e descrições do plano espiritual. Por esta razão, Kardec teorizou que os sonâmbulos, letárgicos e catalépticos perceberiam o plano espiritual, ou dariam notícias de eventos à distância porque perceberiam com a alma, semi-liberta do corpo (emancipação) que transmitiria suas sensações espirituais ao cérebro.

Posteriormente, o hipnotismo e a neurologia dariam um outro sentido à letargia e à catalepsia, que hoje se encontram em desuso (muitos hipnotizadores ainda os utilizam), substituídas pelo conceito mais preciso de “coma”, mas os estranhos fenômenos descritos por Kardec continuam acontecendo, como se pode ler no livro “Vida além da Vida” do Dr. Raymond Mood Jr. e nos estudos de experiências de quase-morte, que se transformou em linha de pesquisa de médicos e parapsicólogos modernos.