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18.2.17

DOLORES BACELAR E O RISHI




O Correio Fraterno, jornal espírita de São Bernardo do Campo, está comemorando 50 anos de publicações com um número no qual homenageia a médium Dolores Bacelar.

Vez por outra citamos os livros que esta médium psicografou no Espiritismo Comentado. Dolores evitava a exposição pessoal, o que pode explicar, em parte, o pouco conhecimento de seus livros pelos espíritas, hoje.

Izabel Vitusso recuperou mais alguns episódios da vida de Dolores Bacelar na sua matéria no Correio. Um deles lembrou-me Yvonne A. Pereira. Dolores foi tida como morta após um de seus partos, saindo do estado inconsciente no qual se encontrava apenas no necrotério, na presença do seu "marido-quase-viúvo" e de uma vela de cabeceira. 

Entre os diversos espíritos que se comunicavam através da pena de Dolores Bacelar, sempre me impressionou o que se identificou como "um jardineiro" e que sempre achei semelhante ao Tagore psicografado por Divaldo Franco. Sua literatura de pequenos contos difere muito da que lemos na obra de Chico Xavier e do pouco de literatura brasileira que conheço.

Um de seus personagens centrais é um “rishi” (“alguém que alcança além do mundo físico através do conhecimento espiritual”. Os rishis teriam escrito os Vedas). Ele fala à alma do leitor com o apoio de imagens da natureza e de interações pontuais entre homens (como se lê no diálogo entre o rei e o jardineiro, p. 67).

Apesar das raízes indiana, o jardineiro flerta com os valores e imagens cristãs. Há um belíssimo texto no livro intitulado “O rouxinol e a lágrima” (p. 51)

Relendo os pequenos textos, que ficam entre a poesia e a prosa, encontrei outras imagens muito usadas nos evangelhos, como as sandálias, as sementes (usadas como símbolo das virtudes), os representantes das riquezas e poderes, como os reis, as pessoas simples, de profissões manuais, como um oleiro. Talvez seja principalmente nos valores que são discutidos nestas pequenas obras meio reflexivas e meio visuais que se encontra a conexão entre a estética oriental e as virtudes cristãs.

Recomendo a todos os leitores do Espiritismo Comentado a provarem deste néctar, sob a forma de pequenos textos.

21.6.17

UM NOVO VELHO GRANDE LIVRO




Tenho comentado sempre os livros psicografados por Dolores Bacelar aqui no Espiritismo Comentado. Ao realizar a busca abaixo eu mesmo me surpreendi com a quantidade de livros dela já discutidos neste blog.



Para minha satisfação, a editora Correio Fraterno, que tem publicado a médium, acaba de lançar o livro "Mesopotâmia: luz na noite do tempo", do Espírito Josepho, que compreende os livros que antes foram publicados na série "Às Margens do Eufrates".

Com 728 páginas, tenho certeza que o leitor irá ficar preso na narrativa, imaginando a época e os personagens. Flávio Josefo é o nome de um historiador judeu-romano, cujos documentos chegaram aos dias de hoje e que relata, entre outras coisas, da época de Jesus. Já me questionei em outro post se o autor espiritual seria ou não o historiador, mas esta é uma questão sem resposta.

O livro se ambienta muito antes e tem por foco as culturas persa antiga e assíria, dentro da corte de Sargon II, filho de Salmanazar. Não conheço praticamente nada além das aulas de história no ensino fundamental sobre este povo e época, e da crueldade dos Assírios, que se transformaram em um povo guerreiro e conquistador, mas o autor espiritual faz muitas descrições em sua história, que bem poderia ser estudada por um profissional, separando a ficção da realidade.

A mediunidade de Dolores é responsável por textos que tratam de culturas muito diferentes da nossa, como é o caso dos livros do Jardineiro, que segundo Divaldo Franco, seria o nobel indiano de literatura Rabindranath Tagore (1913). 

Nunca estudei literatura, mas considero o texto psicografado por Dolores Bacelar muito rico e variado, ao contrário de outros autores que já li. Seria fruto de psicografia mecânica? Faltam biografias sobre a autora, que sempre foi muito avessa à publicidade pessoal.

16.8.20

A CURIOSA LIGAÇÃO DE UMA MÉDIUM DE PERNAMBUCO COM UMA INSTITUIÇÃO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP

 


Crianças pequenas sendo educadas (principalmente cuidadas) no Lar da Criança Emmanuel


Sábado passado foi noite de "Esquina do Célia", um programa de entrevistas da TV Célia Xavier. A convidada da noite foi a dinâmica Izabel Vitusso, da editora e jornal Correio Fraterno, e atual presidente do Lar da Criança Emmanuel. O assunto da noite foi a mediunidade de Dolores Bacelar.


O trabalho com as crianças, inicialmente um orfanato, atraiu Dolores Bacelar ao Lar da Criança Emmanuel, nos anos 1980. Ela se interessou tanto pela iniciativa, que doou os direitos autorais de toda a sua obra psicografada para eles.

Dolores era médium mecânica e iniciou sua educação mediúnica na Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, cidade em que foi morar logo após o casamento, onde o marido havia conseguido um emprego.

O primeiro livro, atribuído ao espírito Alfredo (que depois se descobriu tratar-se do Visconde de Taunay) foi "A Mansão Renoir", um romance espírita de muita visibilidade.

Izabel nos conta na entrevista a vida da discreta médium, alguns eventos mediúnicos e cada um de seus livros publicados pelo Correio Fraterno. Poesias, contos e romances são algumas de suas produções.

Meu autor preferido usa o pseudônimo de "Um Jardineiro", e nos parece ser Rabindranath Tagore, que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1913. Na entrevista conversamos sobre as características do autor bengali no texto psicografado pela médium. Uma das características que permanece após a morte é a tentativa de mostrar as semelhanças das diferentes tradições religiosas do ocidente e do oriente.

Não vou falar muito mais para não dar spoiler. Deixo com vocês uma foto bem elegante da médium com seu marido. 


Hoje o Lar da Criança Emmanuel atende a duzentas crianças em dois grandes projetos, mas os recursos públicos, como acontece na maioria dos casos, cobre apenas parte dos custos. No site do lar, os paulistas e paulistanos podem ajudar destinando os recursos da Nota Fiscal Paulista para o Lar.

Quem estiver mais interessado em ajudar, pode doar um teclado para as aulas de musicalização que estão fazendo com as crianças maiores. 

10.7.20

PEQUENAS EDITORAS, GRANDES AUTORES



Livro do espírito Alfredo psicografado por Dolores Bacelar

Em tempos de pandemia, quem está em isolamento social talvez tenha mais tempo para ler. E nós, espíritas, via de regra gostamos de ler bons autores espíritas. Cada um tem suas preferências de estilo literário, tema e até mesmo autor, mas em matéria de espiritismo, temos grandes autores, principalmente encarnados, que publicaram grande parte de sua obra em editoras menores, antes de terem acesso a selos de maior circulação no meio espírita, como a Federação Espírita Brasileira, por exemplo.

Nas últimas décadas surgiram muitas editoras, menores, mas algumas muito boas. Quando comecei a ler livros espíritas, aos 13 anos de idade, havia cinco grandes selos na nossa livraria espírita: a Federação Espírita Brasileira - FEB, a Livraria Allan Kardec Editora - LAKE, o Instituto de Difusão Espírita - IDE, O CLARIM e Correio Fraterno. Aos poucos, diversas novas editoras foram surgindo e gostaria de falar nesta matéria de alguns autores e editoras.

Uma médium pouco conhecida no meio espírita, hoje, mas com trabalhos literariamente muito importantes e doutrinariamente qualificados é Dolores Bacelar. Eu já havia lido praticamente tudo o que tive acesso dela, quando vi sua foto pela primeira vez, próximo à sua desencarnação. Já comentei aqui no Espiritismo Comentado um ou outro de seus livros: romances, páginas soltas, contos... Quem a publica é a Correio Fraterno, editora batalhadora situada na cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo. 

De Raymundo Espelho, para conhecer Herculano Pires

Um gigante do pensamento filosófico espírita em São Paulo, com incursões pelos mais diferentes temas e áreas de conhecimento, é José Herculano Pires. Jornalista, ele nos deixou mais de oitenta títulos de livros espíritas, alguns muito conhecidos e outros nem tanto. Sua formação em filosofia influenciou muito seu estilo próprio de articular pensadores e pesquisadores contemporâneos seus a sua amada doutrina espírita. Ele foi um dos polemistas que agiu na defesa do pensamento kardequiano, penso que em decorrência da própria filosofia que valoriza a compreensão clara dos conceitos e afirmações dos autores inovadores de novas escolas. Hoje, a família de Herculano assumiu a Fundação Maria Virgínia e José Herculano Pires, que mantém a editora Paideia, uma das “artes” do autor ainda vivo.

Hermínio escreve sobre a médium Regina

Outro autor que nunca canso de divulgar é Hermínio Correia de Miranda. O “escriba”, como é conhecido na intimidade, fez um resgate importante de autores espíritas e espiritualistas das línguas inglesa e francesa, escreveu trabalhos originais em matéria de espiritismo, tratando de questões interessantes, como o autismo e o transtorno de dissociação de identidade. Hermínio mostrou suas próprias observações e fez incursões extremamente originais na história do cristianismo. Ele publicou por diversas editoras, mas a que ainda tem o maior número de seus títulos é a Lachâtre, fundada em Niterói e, agora, no estado de São Paulo.

Um dos livros mais conhecidos de Cairbar

Cairbar Schutel é um autor do início do século 20 que escreveu um grande número de livros entre os quais se destaca o estudo do evangelho à luz do espiritismo e diversos temas doutrinários, comuns a sua época. Ele estabeleceu-se em Matão, no interior de São Paulo, onde fundou o Jornal “O Clarim” (1905) e a “Revista Internacional de Espiritismo” (1925). 

Um dos últimos livros ditados por Irmão X (Humberto de Campos)

Quando o assunto é Chico Xavier, a maior editora de seus livros ainda é a Federação Espírita Brasileira, mas ele teve trabalhos específicos publicados por editoras menores. A editora do Grupo Espírita Emmanuel - GEEM, por exemplo, tem em seu catálogo um grande número de livros psicografados por Chico nos anos 70 e 80, tornando públicas as cartas que ele recebia para familiares em situação de luto. São cerca de 90 livros ditados médium mineiro em seu catálogo. Outra editora com uma linha de publicações muito interessante é Vinha de Luz, que vem recuperando textos não publicados do Chico, mostrando mais da história do médium em Pedro Leopoldo e trazendo a público o que estava condenado a ficar em gavetas ou em prateleiras de museus. Outra editora pequena é a Cultura Espírita União - CEU, que tem um número razoável de livros de Chico Xavier, psicografados nas últimas décadas de seu trabalho como médium.



Eduardo Carvalho Monteiro é outro autor interessante, com uma proposta diferenciada. Ele se interessou bastante pela história do movimento espírita, mesmo não sendo historiador por profissão. Empenhou-se na obtenção de livros e documentos que formaram a base do que hoje é chamado Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM). Boa parte de sua obra e pesquisas se acham publicadas pela editora do CCDPE-ECM. Os títulos de seus livros são encontrados em http://ccdpe.org.br/sobre-o-ccdpe/eduardo-carvalho-monteiro/


Um livro de reflexões sobre a teoria e a prática da mediunidade

Raul Teixeira é mais um médium e divulgador importante da atualidade. Algumas dezenas de livros em torno da sua obra se encontram sendo vendidos pela editora Fráter. Seus livros ditados pelo espírito Camilo têm por foco as reflexões sobre a vida à luz do espiritismo. Família, educação, prática da mediunidade e juventude são alguns de seus temas pela mediunidade do médium fluminense.

Por que estou divulgando as pequenas editoras espíritas? Por causa de coisas que a modernidade e o comércio fazem. Hoje temos distribuidoras espíritas, que adquirem os livros das diversas editoras e facilitam o pedido para as livrarias espíritas. Como têm finalidade comercial, escolhem os livros mais vendáveis, e deixam de adquirir livros com menor apelo comercial, o que tem por consequência a ausência dos livros desses e de outros grandes autores nas prateleiras das livrarias espíritas. Sem acesso aos livros, os autores vão ficando esquecidos, ou pior, desconhecidos.

Nessa época que vivemos, a compra de livros não se faz mais indo presencialmente ao centro espírita e escolhendo um dos livros. Então gostaria de recomendar aos que compram pela internet para dar uma olhadinha nos sites dessas editoras espíritas. Vale a pena  escolher alguns desses autores para ler e conhecer. 

Instituto Lachâtre – https://www.lachatre.com.br/loja/
CCDPE-ECM – http://ccdpe.org.br/

Agradeço a todos os que leram o artigo antes da publicação e me ajudaram a torná-lo melhor! Ajudem a divulgar.

15.11.20

UM INDIANO NA REUNIÃO MEDIÚNICA

Rabindranath Tagore - 1909 (Fonte: Wikipédia)


Ontem estudávamos, em nossa reunião mediúnica, o capitulo 2 da terceira parte do livro “Amor e Ódio”, de Yvonne Pereira. O capítulo trata de um plano para incriminação de um personagem importante do livro. 

Na parte de comentários, alguns membros deixaram escapar sua impressão sobre a perversidade do malfeitor, causada por orgulho e egoísmo. Outro companheiro se incomodou com o mal que a influência pessoal pode causar em um processo jurídico, quando este não corre segundo as regras estritas do direito processual. Tocou-nos a impiedade do nobre, capaz de mobilizar influências e manipular pessoas para obter nada mais que uma vingança pessoal.

Passadas a leitura e os comentários, veio a parte mediúnica. Como a reunião se faz via um aplicativo, em decorrência dos cuidados com a COVID-19, não temos manifestação psicofônica, apenas psicográfica, preces em favor de terceiros e o relato das percepções mediúnicas (ou anímicas, quem vai saber?) na nossa terceira parte.

A médium “Carla” (nome fictício) relatou sua percepção. Viu um espírito de um indiano, com barbas, descreveu sua percepção com algum detalhe, que lhe dizia, apenas:

“Se o ódio pode tanto, imagine o amor!”

Ela percebia com os olhos da alma o espírito passando por um campo, com uma mão espalmada, e à medida em que passava sobre a vegetação, que chegava à altura do quadril, as flores se abriam. É uma espécie de "poesia visual" uma imagem que reforça a frase e lhe dá significado.

De fato, uma nova perspectiva da leitura vinda de um espírito superior a nós, despertando nossa atenção para outra ótica do texto.

As emoções não terminaram aí. O colega “Jacques” pesquisou no smartphone e perguntou à médium, mostrando uma fotografia:

- O espírito é esse aqui?

Com alguma dificuldade, por estar passando uma imagem digital por uma câmera de vídeo, sem nome, Carla, após analisar um pouco, disse: 

- Parece-se com ele. É sim. 

Era Rabindranath Tagore, que estava sendo estudado por Jacques no início do dia. A frase única lembra sua prosa como o espírito “Um Jardineiro”, psicografado por Dolores Bacelar e publicado pela editora Correio Fraterno.

Passada a reunião, encontrei o seguinte capítulo do livro, que passo a reproduzir:


RESUMO


- A Vida?

- É o Amor.

- E o Amor?

- Vida.


Um Jardineiro (Tagore), psicografia de Dolores Bacelar.

Livro: A Rosa Imortal

Editor: Correio Fraterno 

São Bernardo do Campo, 3ª. Edição - 1981

7.12.16

SINAIS DO IMPÉRIO RUSSO NA PSICOGRAFIA DE DOLORES BACELAR



Há muitos anos fiquei conhecendo os livros psicografados por Dolores Bacelar, e me tocaram tanto, que adquiri todos os que pude. Já por algumas vezes tenho usado um conto atribuído ao Irmão Herculano, intitulado “Igor, o bolchevista”, em minhas palestras.

É uma história diferente que lembra as de Tolstói, psicografadas por Yvonne A. Pereira, por ambientar-se no Império Russo. Esta história gira ao redor de Igor, um proprietário de terras reduzido à miséria.

Chamaram-me a atenção, da última vez que preparei o texto para ser contado, os detalhes e regionalismos que o narrador espiritual insere no texto. Um deles é o sobrenome do personagem: Alexandrovich. Não encontrei nada grafado assim na pesquisa que fiz, mas o sobrenome Aleksandrovich (obviamente, uma forma ocidentalizada) é bem comum.

Igor está na aldeia de Grigorievo, que em princípio não encontrei na internet. Esta localidade não deve ser muito distante de Moscou, em função de uma viagem que o personagem faz até a grande cidade do Império Russo. Pedi ajuda ao Chrystian Lavarini, que localizou uma Grigoryevo no Google Maps. Depois, encontrei mais, e também uma Grigiškės, na Lituânia, que fazia parte do Império Russo na época do conto e que significa Grigoryevo. Encontrei Grigoryevos nos Oblasts de Vologda, Arkangelsk, Novgorod, Smolensky, Tver e Vladimir, em terras russas. Difícil identificar qual delas está no texto.

Na casa de Bóris Sergueievich, serve-se um kislischi[1], para Igor. Li em uma revista que na Ucrânia se faz um fermentado de malte ou painço, “melhor que a russa kvass[2]” que tem alguma semelhança com a bastante conhecida kislischi. Um personagem de um romance que encontrei é servido com kvass, kislischi e hidromel, e acha a bebida em questão muito parecida com a Mead[3] escandinava. No texto do irmão Herculano, explica-se que o kislischi é uma bebida feita de “pão fermentado, muito ácida”. Esta descrição parece-se mais com o kvass que com o kislichi que encontrei com muita dificuldade na internet e alguma ambiguidade.

A esposa de Igor fizera um kaftan (no texto está escrito caftã, encontrei também na internet a grafia caftan), que é uma espécie de sobretudo “mais usado por camponeses e mercadores”, mas que hoje é usado apenas por religiosos conservadores. Li também que havia um kaftan usado pelos nobres em casa, apenas, em função da ocidentalização de costumes imposta pelo imperador Pedro, O Grande, na primeira década do século XVIII.

Outras informações próprias da Rússia, mas mais conhecidas, encontram-se no texto, como a palavra “mamenka” (Маменька), que significa mamãe em russo; a palavra “pope” com o significado de padre, a referência ao “samovar”, que é uma peça para servir bebidas quentes como chás diversos.

Estas pequenas palavras não são uma prova definitiva de conhecimento da Rússia, mas, pela dificuldade em se encontrar, ou a médium conhecia bem a Rússia do tempo do império, ou sua faculdade permitiu a inclusão de conceitos desconhecidos pela imensa maioria de nós, brasileiros.





[1] Kislischi ou kislichi é Um tipo de cerveja (sourish) feita na Rússia, em alguns aspectos parecida com a cidra e espumante como o champagne. The Southland Times – 1st august 1883.

[2] O квас é uma bebida gaseificada de baixo teor alcoólico (cerca de 1,5%) preparada a partir da fermentação do pão de centeio, ou pão preto (чёрный хлеб) seco ou amanhecido, que leva também algumas ervas. Há algumas versões alternativas que contam ainda com frutas silvestres, outros grãos ou beterraba. Pode ser consumida também por crianças.

[3] Mead é uma bebida alcoólica criada a partir de mel fermentado com água, algumas vezes com várias frutas, especiarias, grãos ou lúpulo.

11.8.20

AQUELA DA PASSAGEM AÉREA ERRADA QUE VIROU CENTENAS DE ATIVIDADES!



Há uns treze anos participei de um congresso no Paraná e os organizadores compraram uma passagem Maringá - São Paulo, que chegava de manhã e partia para Belo Horizonte à tarde. Em vez de ficar horas a fio no aeroporto, resolvi fazer uma limonada do limão e entrei em contato com a Izabel Vitusso, do Correio Fraterno. Ela gentilmente se dispôs a me levar ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo para conhecer.

Chegando em São Paulo, mudança de planos. Izabel me levou no Lar da Criança Emmanuel, em São Bernardo do Campo, antes de irmos ao CCDPE-ECM. Fiquei conhecendo também, por dentro, o Correio Fraterno. Como não perco a oportunidade de fazer uma boa matéria, e na época tinha fôlego de sobra, fotografei e colhi as informações que se transformaram na matéria sobre a creche que saiu dia 02/10/2007 - https://espiritismocomentado.blogspot.com/search?q=Tia+Lol%C3%B4 

Depois, Izabel levou-me para conhecer o CCDPE-ECM. Fiquei conhecendo pessoalmente a Júlia Nezu, e, no almoço, fui convidado a ajudar a reativar o Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo.

Desde então, tem sido uma troca muito intensa entre o Correio, o CCDPE-ECM e o Espiritismo Comentado. O quarto Enlihpe já está na sua décima sexta versão, suspensa pela pandemia. O Correio Fraterno, então, nem se fala.

Por todas essas histórias e mais uma, que será contada ao longo da entrevista com Izabel é que a convidamos com muita alegria para falar dos livros da médium Dolores Bacelar, que são editados pelo Correio. Dolores já está no plano espiritual, mas sua imensa discrição fez com que ela ficasse pouco conhecida enquanto estava encarnada, apesar da qualidade literária e doutrinária de seus livros, que vez por outra aparecem no EC. 


Quem é o espírito "Um jardineiro", que tem dois livros psicografados?

Dolores tem o seu "Parnaso de Além Túmulo"?

Um romance de judeus, assírios e persas?

Contos de diversos autores brasileiros desencarnados?

Confiram no próximo sábado.

3.6.07

O Conto Perdido


Jorge Damas Martins, sempre atento e atencioso, conseguiu a primeira edição do livro "A Canção do Destino", que eu havia divulgado na revista Universo Espírita. Além de uma introdução de Ismael Gomes Braga, encontra-se um conto de Bernardo Guimarães - Espírito, intitulado "O Bom Ateu". Este conto não foi publicado nas edições de Correio Fraterno.

O conto é uma ficção criada a partir da conhecida contradição entre as religiões e o comportamento dos religiosos, e tem por fundo uma espécie de versão moderna da Parábola do Bom Samaritano.

Sob a pena de Bernardo Guimarães, Jesus e Pedro voltam à Terra para saber porque tão poucos religiosos mereciam "o céu" após a morte. Eles passam por Jerusalém, pelo Vaticano, pela Igreja Anglicana e por uma sociedade espírita no Brasil. Como era de se esperar, ninguém reconhece a Jesus, a Pedro, nem aos ensinamentos cristãos. Todos se apegam a seus títulos, posições e instituições terrenas para justificar doutrinas estranhas à cristã difundidas como se a fossem.

No Espiritismo, o autor se detém nos conflitos históricos entre críticos e defensores das obras de Roustaing, e o personagem Jesus ensina a Pedro que os filhos do consolador prometido chegam a faltar com a fraternidade e o respeito entre si por divergência de idéias.

O final do conto é um encontro com um ateu caridoso, cujas ações impressionam a Jesus e Pedro, que concluem que devem esperá-lo "no céu".

A contra capa da primeira edição divulga o livro "Cânticos do Além". Os nomes de autores espirituais impressionam, pela variedade de literatos desencarnados. Confirmando-se a capacidade mediúnica de Dolores Bacelar, este livro tem potencial para se tornar um segundo "Parnaso de Além Túmulo". Não valeria a pena reeditar este livro?

23.3.08

Às Margens do Eufrates: A Trilogia



Uma mistura equilibrada de ficção e realidade, sob uma ótica espírita. Esta é a impressão que fica após a leitura da trilogia "Guardiães da Verdade", "Veladores da Luz" e "O Vôo do Pássaro Azul".

O espírito Josepho, através da mediunidade de Dolores Bacelar, descreve as intrigas de uma corte assíria à época do século VII a. C. O personagem central é o imperador Assírio Sargon II, filho de Salmanazar e pai de Senaqueribe. Em foco, o domínio assírio sobre o oriente médio e o antigo egito, as guerras contra a Samaria e o domínio do reino de Judá. A resistência urartiana e a cultura persa também têm um papel importante nesta história.

Josepho cria personagens que encarnam a dualidade do ser humano, as suas contradições, as escolhas entre o poder e o dever. A pena deste espírito vagueia entre as paixões dos indivíduos e as análises sociais.

O enredo é bem tramado, sendo muito difícil ao leitor adivinhar o desfecho dos três romances que se seguem, contando apenas uma história. Mais uma vez, impressionam as citações, datas, informações sobre os personagens históricos que se entrelaçam com os personagens imaginados, a ficção. Josepho interrompe sua narrativa inúmeras vezes para tecer explicações com bases na doutrina espírita para o leitor, às vezes muito extensamente.

Outra articulação curiosa é a dos dados históricos com os dados da tradição hebraica. A cultura assíria é posta a nu, e o espírito defende a tese de Burns que propõe que uma sociedade não se sustenta apenas com o cultivo do militarismo e de um imperialismo predatório.

Esta política gera as bases da insatisfação e da busca de libertação pelos povos dominados, com tanto mais empenho quanto mais se lhes dilacerem os recursos e a perspectiva de futuro.

Deixando um pouco de lado os relatos o que invadiram o mercado editorial espírita brasileiro, com pouca qualidade literária, o realismo fantástico de Josepho merece ser apreciado pela comunidade espírita brasileira e internacional.

15.9.20

SAMUEL MAGALHÃES NO ESQUINA DO CÉLIA: ESPIRITISMO, MEDIUNIDADE E MEMÓRIA

 


“Esquina do Célia” é um programa mensal de “bate-papo” sobre temas doutrinários, que acontece no segundo sábado do mês. Em julho entrevistamos Luciano Klein, historiado, sobre suas pesquisas acerca de Bezerra de Menezes. https://www.youtube.com/watch?v=sUgHTF-0cRg&t=58s

Em agosto entrevistamos Izabel Vitusso, jornalista, sobre os livros e a vida de Dolores Bacelar, que tem seus livros publicados pelo Correio Fraterno. https://www.youtube.com/watch?v=9sGLKpFZWjs&t=41s

Agora em setembro, entrevistamos Samuel Magalhães, contador que trabalha voluntariamente na preservação da memória do movimento espírita. Samuel fala de sua iniciação no espiritismo, que é surpreendente, e da criação dos Centros de Documentação em quatro estados.

Ele dá detalhes da pesquisa e da elaboração de seus livros “Charles Richet: o apóstolo da ciência e o espiritismo”, e “Anna Prado: a mulher que falava com os mortos”. Os dois trabalhos se mostram ligados ao espiritismo no norte do Brasil (Pará e Amazonas), que tinha canal direto com a Europa no século 19, em decorrência das riquezas decorrentes do ciclo da borracha e de sua infraestrutura portuária e de transporte fluvial.

Samuel fala da trajetória da construção do conhecimento, seu encontro com familiares das pessoas estudadas, documentos, mudanças de concepções pré-existentes (Anna Prado é do Amazonas e não do Pará) e novas informações (a desencarnação de Anna Prado). O livro sobre Richet foi considerado por Gabriel Richet a melhor biografia já escrita sobre seu avô, Nobel de medicina, um dos fundadores da metapsíquica, esperantista e estudioso de fenômenos espíritas com Gabriel Delanne. O livro hoje se encontra na biblioteca da Universidade de Paris.

Assista a entrevista no YouTube com o seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=6HEBuEwuaQE

Ou acesse YouTube – TV Célia Xavier – Esquina do Célia e escolha a entrevista




28.2.08

Como Pesquisar no Blog "Espiritismo Comentado"

Figura 1: Cortesia de Marcus Vinícius Papa Lobo.

Muitos leitores do Espiritismo Comentado têm perguntado como encontrar postagens (publicações) antigas. O Blogspot oferece diversos recursos para encontrar o assunto que você deseja no EC. Hoje irei explicar como utilizar o instrumento de busca.

1.Observe a régua acima da primeira publicação da página do blog.

2. Ao lado do símbolo do Blogspot você encontrará uma caixa de pesquisa (um espaço quadrado branco para digitação), ao lado da informação "Pesquisar Blog"

3. Digite na caixa uma palavra ou expressão que você pretende pesquisar. Ex: Mediunidade, Honório, Dolores Bacelar, Universidade, Tese, etc.


4. Se você tiver uma determinada publicação em mente, escolha palavras que certamente estarão nela mas que dificilmente se encontrarão em outras publicações ("posts").

5. Clique em "Pesquisar Blog".

6. Após alguns instantes, as publicações abaixo serão substituídas por todas as que contém as palavras que você mandou pesquisar no Espiritismo Comentado.

27.1.08

Um Romance com Personagens Bíblicos

Reler um livro vinte anos depois é como ler pela primeira vez. Tive em mãos a sétima edição de “O Alvorecer da Espiritualidade”, primeiro livro da série “Às Margens do Eufrates” e não resisti a fazer uma nova leitura.

O espírito que se identifica como Josepho seria o conhecido Flávio Josefo, escritor judeu-romano do século 1 DC? Independente da resposta à pergunta, o autor demonstra ter um grande conhecimento das tradições históricas e legendárias do antigo testamento.

A série é um relato de reencarnações de um mesmo espírito, o autor. Não sou capaz de dizer se se trata de uma estratégia literária ou se o autor pretende realmente fazer um relato memorialista das suas encarnações. A fragilidade documental da civilização hebraica, especialmente no período em que acontecem os eventos do primeiro livro da série, nos permitem dizer apenas que o autor parece conhecer os costumes hebraicos e a genealogia do livro do Gênesis.

Seu personagem central, Javan, mais que um representante de uma classe social ou homem de época, é um indivíduo diferenciado na tribo de Methusala (seria Matusalém, da Bíblia, como referencia Josepho?). Javan parece representar o espírita no mundo contemporâneo, de tendência espiritualista em meio a uma sociedade imediatista; romântico, em meio a pessoas sensualistas; com senso de dever e que toma decisões heróicas, pensando na comunidade e na vida após a morte antes dos interesses pessoais.

A cidade de Enoch, possivelmente a mesma que se diz no Gênesis Bíblico ter sido criada pelo filho de Caim, representa no contexto do livro a vida dirigida pelo poder, pela dominação e pelo sensualismo. Mesmo em Enoch, Javan encontra um patriarca que preza os valores e a tradição, Methusael, que convive com uma geração cainita dividida entre o poder dos guerreiros, simbolizados em Tidal e a teocracia dos sacerdotes de Baal.

Descendentes de Caim e de Seth se enfrentam no contexto do livro.

O autor espiritual e outros membros da equipe de Dolores Bacelar fazem inúmeras notas ao longo do texto e tecem explicações no contexto da ética espírita para muitos dos acontecimentos e decisões dos personagens.

A editora fez um excelente trabalho nas edições mais recentes. Ampliou os tipos, tornou a capa mais sugestiva, criou títulos para os capítulos, colocou as notas no rodapé das páginas, evitando que o leitor tenha que ir ao fim do livro para conhecer seu conteúdo, ampliou o tamanho das fontes facilitando a leitura e as limitações de leitores que, como eu, já passaram dos quarenta anos.

Apesar da profunda impressão que a leitura me causou, não me sinto informado o suficiente para a defesa do caráter histórico da narrativa, mas sem dúvida, seu caráter simbólico traz uma bela reflexão para a comunidade espírita, hoje.

No texto se encontram três ou quatro referências muito polêmicas: Capela, Lemúria, Atlântida e o dilúvio. O autor espiritual defende sua existência, embora relativize a questão do dilúvio, que aparenta ser regional. A referência aos avanços das sociedades atlantes e rutas (habitantes da Lemúria) são surpreendentes e causam estranheza, mas não chegam a comprometer o conjunto da obra.

Outra questão que apenas proponho, mas não tenho condições de desenvolver é se haveria uma influência do pensamento gnóstico no texto do autor espiritual.
Parece-me que conhecer e debater o conjunto da obra, que demonstra as muitas variações e possibilidades da faculdade mediúnica é uma tarefa importante para o movimento espírita, que ainda não lhe deu o devido valor.