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25.10.13

PASSEANDO NA MANSÃO



Quarta-feira pela manhã. Um café da manhã reforçado no hotel de Salvador e pé na estrada. O gentil Bira se dispôs a abrir mão de suas obrigações e nos levou à Mansão do Caminho, a enorme obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador.  A Mansão fica no bairro do Pau da Lima, que hoje está urbanizado, mas ainda conta com muitas comunidades.

O grupo de visitantes


Chegando à Mansão, passamos aos cuidados da Anita, uma pedagoga paulista com algumas obras escritas sobre Divaldo e seu trabalho. Ela e o marido residem na Mansão do Caminho. Isto é algo que observei ao longo da visita. Muitas pessoas receberam convites e residem lá, trabalhando voluntariamente pelo objetivo maior.  Parece-se com uma ordem monacal totalmente voluntária e civil. Conversei com muitos voluntários de lá. A dedicação e a admiração ao Divaldo e ao Nilson impressionam.

Uma alegria e um reencontro. No meio do grupo de visitantes que se formou, encontrei uma velha amiga da Sociedade Espírita Fraternidade – SEF, de Niterói. Quantos anos! Tanto o Remanso Fraterno, que é a obra dos colaboradores espíritas reunidos em torno de Raul Teixeira, quanto o Lar Espírita Esperança, que é a obra da Associação Espírita Célia Xavier, têm raízes e sofreram influências importantes da Mansão do Caminho.


Crianças em fila para fazer atividade ao ar livre

O que mais alegra o passeio pela Mansão são as crianças. Lindas, bem cuidadas, álacres... Não pude fotografá-las de perto, o que é uma pena, porque as expressões são inesquecíveis. Os pequenos nos cumprimentam, atraídos pelas lentes da câmara fotográfica. Os ambientes são rigorosamente limpos e os espaços comuns são muito arborizados e floridos.


Fachada do Centro Assistencial Ana Franco (mãe de Divaldo)

A Mansão é uma concretização dos sonhos  e ideias de uma comunidade dedicada. Não foi possível acompanhar o crescimento, mas nota-se que as propostas vão ganhando corpo e se tornando prédios, atividades, inclusão social.

Violões e violões


Uma das construções promove a arte entre as crianças e jovens. Uma sala repleta de violões e guitarras, outra com teclados, uma sala com pintura em tecidos exposta.


Pintura sobre tecido 

Há alguns recantos em meio aos jardins. A Mansão é cheia de memórias vivas. Cássio, explicava-nos Anita, era mineirinho, assim como nós.  Joanna de Ângelis também tem um recanto, apropriado para fotografias.

Este post está ficando grande, continuaremos com ele daqui há alguns dias.


Vista do recanto de Joanna

21.11.13

"TIO NILSON" DA MANSÃO DO CAMINHO DESENCARNA - SALVADOR-BA



Recebemos a notícia da desencarnação de Nilson de Souza Pereira, um dos responsáveis pela imensa obra da Mansão do Caminho, que apresentamos há algumas semanas no EC. Transcrevemos abaixo a comunicação dada no site da Mansão:


"Divaldo Franco e a família da Mansão do Caminho, cumpre o dever de informar a todos os amigos que desencarnou hoje dia 21/11/2013 as 04:30h, nosso querido Tio Nilson, uma destacada e honorífica personalidade no cenário baiano, na área de Assistência Social e solidariedade humana. 

Uma vida dedicada ao Bem, que desenvolveu profícuo trabalho em prol da Mansão do Caminho ao longo de 67 anos de sacrifícios, persistência e sobretudo muito amor e respeito ao ser humano, como, aliás, advoga a Doutrina Espírita nos seus postulados iluminativos e consoladores, que ele soube honrar através do seu generoso coração e profundo amor pela Causa. 

Deixa-nos preciosa exemplificação de nobreza, de coragem, de magnanimidade e ações concretas no trabalho dinâmico a favor do semelhante, construindo, para que outros possam também trilhar os caminhos da retidão, da justiça e do amor. Um lídimo cristão e Homem de Bem. Até breve "Tio Nilson".

Enviamos-lhe, os que lhe amamos, nossa ternura e gratidão, rogando a Jesus o embale nas ondas da Sua paz.
Agradece as orações de todos os que compartilharam da vida exemplar do querido irmão, ao tempo em informa que o sepultamento dar-se-á às 16h30m no Cemitério Parque Bosque da Paz sito à Av. Aliomar Baleeiro bairro Nova Brasília (Estrada Velha do Aeroporto) "

31.10.13

CAMINHOS DA MANSÃO



São quatro as instituições de ensino infantil na Mansão. A creche Manjedoura, para crianças de 0/3 anos, o Jardim de Infância Esperança para crianças de 3/4 anos, a Escola Allan Kardec, do 1o. ao 4o. ano de ensino fundamental e a Escola Jesus Cristo, hoje com 1100 vagas.

A impressão é que as crianças estão felizes, convivem normalmente umas com as outras. Vi brincadeiras típicas de meninos, um pouco mais viris, mas  a professora, atenta, interferia para que não houvesse progresso. 



O entorno da Mansão é de comunidades, típicas de capitais e grandes centros, mas a violência típica dos aglomerados parece ter dado uma trégua, talvez pela consciência da importância da obra para o futuro das crianças dalí e para as pessoas em geral. Enquanto "black blocks" quebram o país, em sinal de protesto, os pobres preservam um patrimônio que é também deles, de alguma forma.





Outro lugar instigante é o centro de parto normal. Ambulâncias a postos, para o caso de complicações, o lugar parece ser bem equipado para sua finalidade. Uma recém-mãe, de camisola hospitalar verde, com um bebê cabeludinho nos braços recuperava-se do parto. As ideias do Dr. Leboyer ressoaram de alguma forma no distante bairro do Pau da Lima.


Apesar do museu do espiritismo não estar aberto à visitação no dia que fui, o memorial nos acolheu. Uma concepção moderna, que lembrou-me o Memorial JK em Brasília, com as fotos e textos aplicados nas paredes iluminadas e os diversos ambientes retratando diferentes momentos da obra, que se mistura à vida de Divaldo.



Um painel já um pouco desatualizado mostra os países onde foi Divaldo Franco, iluminados com leds. O mundo ficou pequeno para a tarefa de levar o verbo, a boa-nova e o espiritismo.


Por todos os espaços há placas, honrarias, títulos concedidos pelos lugares onde Divaldo levou sua mensagem. Foi-nos dito que não se trata de uma coleção completa, o que não importa, porque o que está exposto dá uma noção clara do reconhecimento do trabalho prestado.



Minas Gerais está presente em pelo menos dois momentos. O que mais me tocou foi a colcha de retalhos dada pelos 55 anos de serviços prestados no estado. Cada quadrado de tecido representa um centro espírita. A colcha dorme ao fundo de um belo móvel de vidro, permitindo apreciar o trabalho.




Nas instalações funciona a Livraria e Editora Espírita Alvorada. Para a tristeza da minha esposa, saí com uma sacola de livros, que são expostos e disponíveis para a venda dos interessados.





Ao lado, o cômodo com o Clube do Livro e a revista Presença Espírita. A responsável nos mostra com entusiasmo os grupos de envio para o exterior. Eu lembrei dos muitos e muitos livros que recebi e li, graças ao trabalho voluntário de pessoas como ela, que o tempo já deve ter levado para outras paragens. Vem-me à mente o livro biográfico de Elisabeth D'Esperance, médium de efeitos físicos e mecenas da revista de Gabriel Delanne, e depois dele muitos outros, que foram co-responsáveis pela lenta construção da minha cultura espírita e espiritualista.




No outro extremo da Mansão pude conversar com voluntários que trabalhavam na revisão dos textos produzidos por Divaldo e pelos colaboradores de sua obra. O parque gráfico estava com suas máquinas descansando, embora seus funcionários continuassem com tarefas de identificação de livros com defeitos, correção e outras mais.

Conversei rapidamente com uma voluntária que fazia o trabalho de revisão. Trocamos figurinhas sobre esse trabalho, sobre língua portuguesa, sobre neologismos, sobre editoração de livros. Quando ela se referia aos livros que analisava, lembrei-me de uma história de Divaldo:
- O que você faz?
- Você não vê? Estou construindo uma catedral!



Um grande auditório de 750 lugares, dispostos em dois andares, com a possibilidade de usar outras salas de estudo como apoio, com os recursos da transmissão de imagens pela tecnologia.

Assim, vazio, dá tristeza. Então imaginei os eventos que ele já acolheu e que ainda acolherá, apesar da distância do centro urbano de Salvador. Pensei que mais uma ou duas décadas e não teremos conosco a dupla Divaldo e Nilson, que retornará à pátria espiritual, deixando este enorme legado para seus sucessores. De onde virão os livros, que transformaram letra em pão, papel em tijolos, desejo de conhecer em contratos de trabalho, ideais em voluntariado? Não tenho resposta, mas a esperança me fez recordar de Allan Kardec em diálogo com a espiritualidade: Outros virão.

23.2.15

DIVALDO NO FANTÁSTICO



Considero muito feliz o trabalho da equipe de reportagem do Fantástico com o Divaldo Franco. Para quem não conhece (se é que algum leitor deste blog não conhece o Divaldo), ele é um orador espírita, médium baiano, com uma obra social admirável.

Após uma entrevista rápida com o Divaldo e algumas cenas envolvendo a prática mediúnica, mostrou-se a Mansão do Caminho, que já mostramos antes no Espiritismo Comentado (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/search?q=mansão),

Foi muito feliz mostrar a comunidade do Pau da Lima, e a relação dos excluídos com o trabalho do Divaldo. Encontrar pessoas que foram adotados por ele ou estudaram na Mansão, com suas profissões, décadas depois da infância, é algo que toca e incentiva quem quer que esteja buscando fazer um trabalho de inclusão social.


No link abaixo você tem a matéria e a transcrição da entrevista com Divaldo.

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/02/principal-medium-do-pais-psicografa-diante-das-cameras-do-fantastico.html

25.4.15

O DIVALDO DE ANA LANDI




A jornalista e historiadora Ana Landi acaba de publicar o livro “Divaldo Franco: a trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos”, pela editora Bella. Recebi a notícia de primeira mão, pelo confrade Washington Fernandes, que estava feliz com a venda do pré-lançamento, cerca de 40 mil livros.

O livro é delicioso de ler, mercê do lado jornalístico de Ana. Ela não fez um texto linear, mas um texto que, embora siga a linha da vida de Divaldo, vai e volta no tempo, detalhando situações que ela vai narrando. Ao ler, eu parecia estar ouvindo o próprio Divaldo, que já vi contar pessoalmente um grande número dos eventos biográficos escolhidos pela autora.

Apesar do interesse pelo Divaldo-médium, o que mais me tocou foi a preocupação de se mostrar sua dimensão humana e o alcance de sua obra. As histórias de Divaldo são quase inacreditáveis, se eu não o tivesse conhecido pessoalmente e visto um pouco de suas faculdades e qualidades.

A mais grata surpresa do livro não foi o texto fluente e magnético, nem as fotos muito bem escolhidas de diferentes momentos da vida do médium, assim como de algumas de suas psicografias. Foi a extensa narrativa sobre a relação de Divaldo com Chico Xavier, outro personagem que conheci em vida, embora muito rapidamente, e cujos amigos, livros e espíritos estão muito presentes na minha história pessoal como espírita.

Para quem conhece um pouco da história do espiritismo, o texto traz uma surpresa após a outra, dada a quantidade de personagens espíritas que aparecem na vida do baiano, oriundos do mundo físico e do mundo espiritual.
A Mansão do Caminho vai sendo construída, passo a passo, aos olhos do leitor. É uma espécie de patrimônio coletivo, porque tem as mãos e a generosidade de um número enorme de pessoas e instituições, que geralmente contribuem e passam. A mão amiga de Nilson está presente o tempo todo, fazendo justiça àquele que foi o esteio para que Divaldo pudesse realizar sua missão como expositor e psicógrafo.

O livro emociona, faz rir e chorar, assim como o próprio Divaldo. Ana não trabalhou como historiadora, uma vez que posso até estar errado, mas penso que o médium baiano insere “o seu tempero” nas histórias, já que são contadas para um público que o escuta por uma hora ou mais. Ganham um tom humorístico, mesmo em situações claramente dramáticas. Ela foi uma bela médium do médium, transmitindo a história que ele escolheu contar para todos nós.


O livro não foge dos temas polêmicos que envolveram a vida de Divaldo, e que tanto impactaram na terra de Chico Xavier, de onde escrevo a vocês. Não vou falar muito, para que fique aquela dúvida intrigante que faz com que o leitor desta história resolva adquirir, ajudando a obra social do médium (os direitos autorais foram cedidos) e embeber-se do texto.

16.8.20

A CURIOSA LIGAÇÃO DE UMA MÉDIUM DE PERNAMBUCO COM UMA INSTITUIÇÃO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP

 


Crianças pequenas sendo educadas (principalmente cuidadas) no Lar da Criança Emmanuel


Sábado passado foi noite de "Esquina do Célia", um programa de entrevistas da TV Célia Xavier. A convidada da noite foi a dinâmica Izabel Vitusso, da editora e jornal Correio Fraterno, e atual presidente do Lar da Criança Emmanuel. O assunto da noite foi a mediunidade de Dolores Bacelar.


O trabalho com as crianças, inicialmente um orfanato, atraiu Dolores Bacelar ao Lar da Criança Emmanuel, nos anos 1980. Ela se interessou tanto pela iniciativa, que doou os direitos autorais de toda a sua obra psicografada para eles.

Dolores era médium mecânica e iniciou sua educação mediúnica na Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, cidade em que foi morar logo após o casamento, onde o marido havia conseguido um emprego.

O primeiro livro, atribuído ao espírito Alfredo (que depois se descobriu tratar-se do Visconde de Taunay) foi "A Mansão Renoir", um romance espírita de muita visibilidade.

Izabel nos conta na entrevista a vida da discreta médium, alguns eventos mediúnicos e cada um de seus livros publicados pelo Correio Fraterno. Poesias, contos e romances são algumas de suas produções.

Meu autor preferido usa o pseudônimo de "Um Jardineiro", e nos parece ser Rabindranath Tagore, que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1913. Na entrevista conversamos sobre as características do autor bengali no texto psicografado pela médium. Uma das características que permanece após a morte é a tentativa de mostrar as semelhanças das diferentes tradições religiosas do ocidente e do oriente.

Não vou falar muito mais para não dar spoiler. Deixo com vocês uma foto bem elegante da médium com seu marido. 


Hoje o Lar da Criança Emmanuel atende a duzentas crianças em dois grandes projetos, mas os recursos públicos, como acontece na maioria dos casos, cobre apenas parte dos custos. No site do lar, os paulistas e paulistanos podem ajudar destinando os recursos da Nota Fiscal Paulista para o Lar.

Quem estiver mais interessado em ajudar, pode doar um teclado para as aulas de musicalização que estão fazendo com as crianças maiores. 

24.11.09

POR QUE OS ALUNOS DA EVANGELIZAÇÃO EVADEM-SE DA MOCIDADE?


A pergunta desta matéria foi feita por uma evangelizadora da cidade de Arcos-MG em uma palestra que fazia. A resposta não é simples.
Há a adolescência e, com ela, a tendência a procurar grupos de mesma idade. Se a Sociedade Espírita não oferece situações de aproximação dos jovens da evangelização, estes se enturmarão com jovens sem identidade espírita.
Cada vez mais a pedagogia destaca a importância de o antigo aluno ter um papel ativo no processo ensino-aprendizagem. Preparar espaços de aprendizagem com participação ativa dos alunos é mais difícil e demanda dedicação dos professores ou facilitadores. É mais fácil fazer uma exposição e contar uma história, o que torna o estudo entediante para muitos dos participantes.
Há também o interesse das famílias em promover a integração entre os jovens. Os pais já se desdobram tanto, levando e trazendo à escola, ao curso de idiomas, ao esporte, que costumam fazer "corpo mole" na hora de se envolver na educação espiritual dos filhos, e acham que apenas levar à evangelização ou juventude espíritas já está bom.
Cheios de energia e potencial, os adolescentes vão procurando outras coisas e abandonando as sociedades espíritas, em um mundo cheio de brilhos e objetos, chamamentos para gastar o dinheiro e exibir o ego em um triste desfile de posses.
Falo destas coisas pelo entusiasmo dos jovens acima. Embora os evangelizadores não conheçam, eles utilizaram uma pedagogia de projetos para sua aula. O tema do projeto eram médiuns brasileiros e a turma foi dividida em subgrupos, cada um com uma missão: preparar 30 minutos de uma exposição sobre um determinado médium.
Nem todos aderiram, mas os que aderiram fizeram-no com um espírito competitivo positivo, querendo que sua apresentação se destacasse e enriquecendo seu trabalho com jogos, técnicas, exposições, projeções, tudo o que viram ser feito ao longo do ano.
O grupo (na verdade a dupla) de Chico Xavier fez uma bela exposição, com abertura em letras góticas que lembram Harry Potter, do médium de Pedro Leopoldo.
O grupo de Yvonne fez uma montagem de fotos belíssima, com a médium em diversas etapas de sua vida.
O grupo de Divaldo projetou um pequeno filme com o médium baiano falando, e projetaram em powerpoint a vida, os livros e a Mansão do Caminho.
O grupo de Raul Teixeira fez mímicas com os tipos de mediunidade do médium fluminense, e realizou uma exposição com os livros já publicados através da Fráter. Apresentaram os espíritos que mais publicaram pela pena de Raul e sua vida.
Os jovens de 11 e 12 anos, com apoio permanente dos evangelizadores, reuniram-se, envolveram os pais (alguns procuraram os educadores em busca de informação e esclarecimento, outros queriam ver o trabalho dos filhos), encontraram-se em casa, enfim, integraram-se e realizaram juntos. Venceram a timidez da primeira fala e fizeram um trabalho de deixar envergonhado muito expositor grande.
Não sei o que o futuro reserva a eles e elas, mas recomendo aos que trabalham com educação espírita saírem do cômodo espaço da mera exposição e se desdobrarem pelo despertamento das potencialidades ocultas dos educandos.

3.10.19

IMPRESSÕES DO FILME DIVALDO, O MENSAGEIRO DA PAZ


Ana Franco: mãe de Divaldo



Domingo à tarde e fui com minha esposa assistir ao filme Divaldo, o mensageiro da paz.

Depois de ter assistido o “Allan Kardec”, que entre fatos e fakes ficou com muitos “não é bem assim”, o Divaldo está bem próximo das histórias da própria vida que ele sempre nos contou, ao longo de anos de palestras e conferências.

O roteirista optou por contar a infância, a descoberta da mediunidade, as obsessões espirituais e a construção da Mansão do Caminho.

No domingo à tarde o público não era muito grande no cinema. Devia ter um terço ou um quarto da sala de exibições, mas as reações ao filme entregavam a filiação religiosa dos presentes. A história correu entre risos e lágrimas, e ao final, mais lágrimas que risos. As pessoas presentes aspiravam suas lágrimas, e os sons aconteciam em todos os espaços da sala de projeções.

O filme fala discretamente do suicídio de Nair Franco. O cineasta conseguiu fazer uma espécie de presença seguida de ausência, e da apreensão dos familiares seguida da dor. Ana Franco é a grande personagem da trama, na minha opinião, mais impressionante que o próprio Divaldo.

A ruptura dela com a comunidade católica em que se achava bem inserida, em função da antiga visão da igreja sobre o suicídio, talvez um pouco elaborada em termos do seu discurso, é um grande momento do filme. A busca pelo tratamento do filho, mesmo desgostando seu marido, em uma época na qual o patriarcalismo ainda era uma instituição forte, também me marcou.

O filme é cheio de mulheres fortes e admiráveis, mulheres capazes de enfrentar seu tempo, a ordem vigente, em favor de um ente querido, uma pessoa amada. Mulheres inteligentes, capazes de argumentar e explicar com elegância suas posições. Mulheres que amam, e que são capazes de oferecer sua capacidade de amar em favor de encarnados e desencarnados. Mulheres simples, sem a alta escolaridade comum ao nosso meio espírita de hoje, mas capazes de ações pragmáticas e corajosas. Mulheres como Joanna de Ângelis, companheira-mestra do médium, orientadora nas horas de dúvida, assertiva nas horas de sofrimento. Eu admiro essas mulheres. Entendo porque Lynn Sharp e outras historiadoras contemporâneas entreviram no movimento espírita uma forma de emancipação e expressão social das mulheres.

Eu não conhecia Laura. Sabia dos problemas de Divaldo e da presença de uma espírita em seu favor, mas não tinha ideia da dimensão da importância dela para ele. Foi uma espécie de anjo da guarda encarnado.

Não sei se foi a intenção da direção, mas não dá para não comparar os primeiros trabalhos do Divaldo, com os primeiros trabalhos do Chico. Os dois são pessoas naturalmente estudiosas, interessadas na doutrina, convivendo com pessoas que viviam sua participação na casa espírita como uma atividade, muitas vezes sem o mínimo conhecimento necessário.

Nos dois se vê o compromisso com a caridade material, que dizia Kardec, começando com o pouco, quase nada, quase inútil, da distribuição de alimento e se tornando aos poucos um trabalho de impacto em um número enorme de pessoas. Escolas, ensino de música, profissionalização, adoção, apoio à maternidade com parto natural, editora, e muitas e muitas iniciativas que vão nascendo ao redor do que foi uma cesta de alimentos. Um trabalho que seria mais responsabilidade do Estado que de uma associação de voluntários.

Quando saía da sala, uma pessoa me reconheceu. Perguntou se eu era filho do José Mário Sampaio e se apresentou como alguém que participou das suas reuniões de estudo sobre mediunidade na União Espírita Mineira. Ele era leitor do Espiritismo Comentado e me incentivou:

- Quero ver suas impressões sobre o filme!

Uma amiga me enviou um e-mail. Ela estava no Shopping em uma tarde de calor e tempo seco, e resolveu assistir a um filme para usufruir também do ar condicionado. Viu o nosso filme em cartaz, e não sei porque resolveu assisti-lo em meio aos outros. Acho que ela se emocionou como nós e ficou intrigada com o líder espírita (palavras dela) e sua mensagem.

Assim o filme vai cumprindo seu papel, como folhas ao vento dizia um amigo espiritual. Não se sabe onde vai parar, quem vai assistir, como vai percorrer sua trajetória incerta, mas se sabe que vai encontrar muitos em seu voo irregular. O filme não transformará as pessoas em espíritas, nem é esse seu objetivo, mas sensibilizará as pessoas ao bem e ao amor. É uma história, dirão alguns, mas é uma história boa de se contar e melhor ainda de se ouvir.

28.9.10

ESPIRITISMO EM ANGOLA

Através do Boletim CEI conseguimos chegar ao site da SEAKA, em Angola - África.

O grupo apresenta atividades assistenciais como cestas básicas e assistência nutricional (sopa, pão, frutas, arroz, sucos, iogurte, doces, etc.). Em 2006 foram distribuídas mais de 3.000 sopas por dia!

Eles auxiliam hospitais, clínicas e instituições de terceira idade.

Está em curso um projeto para instalação de uma sede em uma área de 42 hectares de dimensão no município de Viana (?) com o nome de Casa de Caminho André Luiz. Veja o projeto abaixo:


O projeto inclui os seguintes espaços:

VILA RESIDENCIAL
CRECHE
JARDIM INFANTIL
CLUBE DA SAUDADE
ÁREA DE FORMAÇÃO ACADÉMICA
ÁREA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL
ÁREA DE SAÚDE
ÁREA DE FRUTICULTURA
ÁREA DO AUTO FINANCIAMENTO
ÁREA DESPORTIVA
ÁREA ADMINISTRATIVA
ÁREA DE ESTUDOS MORAL / ESPIRITUAL

Observa-se a influência da Mansão do Caminho e de Divaldo Franco neste projeto de promoção social com intenções de autosustentabilidade, assim como nas mensagens publicadas no site.

Desejamos sucesso aos irmãos angolanos em sua iniciativa.

Ficha Técnica e Contato:
Sociedade Espírita Allan Kardec de Angola
Presidente Amelia Trajano
Rua Amilcar Cabral, 29 - 4°. B
LUANDA - ANGOLA
Tel/Fax: 00 2 442 334 030 (residencial)
seakaangola@hotmail.com
ameliaccazalma@yahoo.com.br

16.6.21

SUELY NOS ANTECEDE NA "GRANDE VIAGEM"



Suely Caldas Schubert aos 16 anos

Conheci a Suely na década de 80, em um evento sobre mediunidade no qual ela falava junto com Hermínio Miranda e Jorge Andréa. Suely me impressionou pelo conhecimento que tinha da obra de André Luiz.

Os anos se passaram e a encontrei diversas vezes. Nos livros dela que tenho em casa encontrei muitos e muitos autógrafos. Em um destes encontros, surpreendi-me porque ela tinha lido o artigo que publiquei na revista O Médium, de Juiz de Fora – MG, sobre “Os Possessos de Morzine”, um fenômeno social curioso que Allan Kardec havia acompanhado e sobre o qual publicou na Revista Espírita. 

Estudamos livros dela em nossa reunião mediúnica. Suely lia muito, então estava sempre construindo os textos a partir de autores importantes do espiritismo. Sua linguagem sempre foi muito acessível e, por isso mesmo, acho que os livros dela sempre atingiam um grande público.

Suely ficava hospedada na casa de um amigo muito querido, quando vinha a Belo Horizonte. Ele a consultou sobre a possibilidade de fazermos uma entrevista para o Espiritismo Comentado, e ela não respondeu, nem que sim, nem que não. Eu pensei em desistir e meu amigo insistiu que fosse assim mesmo. Acho que ela estava bastante cansada, e me explicou assertivamente que não poderia dar a entrevista, mas ficamos juntos, meu amigo, sua família, a Suely e a Consolação.


Da esquerda para a direita: Divaldo Franco, Suely e Nestor Massoti (FEB)

A prosa mineira é sempre boa, e Suely começou a recordar e a falar de suas memórias no meio espírita. As visitas à FEB, há muitos anos, nas quais ela estudava documentos e livros. Talvez dessa época tenha surgido o material para se escrever o livro “Testemunhos de Chico Xavier”, no qual ela resgata e comenta a correspondência do Chico com o Wantuil de Freitas, principalmente, então presidente da federação. Graças à dedicação dela, hoje temos acesso à relação entre o médium e a instituição que lhe publicava os livros e as mensagens, o que possibilita um entendimento histórico mais fundamentado e descarta muitas das fantasias que se ergueram ao redor do médium de Pedro Leopoldo.

Suely se recordou também de suas idas à Mansão do Caminho, sempre com carinho em torno da pessoa de Divaldo Franco. Falou de sua participação nas reuniões mediúnicas, o que um ou outro fotógrafo já registraram em belas imagens.

Foi uma bela noite, mas pena que não tive o ensejo de anotar, logo após a conversa. Passados os anos, só me ficaram essas pequenas recordações. 


Da esquerda para a direita: Divaldo Franco, Chico Xavier e Suely C. Schubert

Depois nos encontramos pessoalmente mais algumas vezes e a Suely participou da Semana de Chico Xavier em abril de 2021. Dessa vez, graças à tecnologia, sua fala foi preservada e disponibilizada a quem desejar ouvi-la, mercê da TV Célia Xavier. Nessa palestra ela adiantou o último livro que já estava prestes a sair, e que foi lançado na data programada, no dia 13 de maio.

https://www.youtube.com/watch?v=l2H3zRJu-qA

Suely era natural da cidade de Carangola, onde reencarnou no mesmo ano que minha mãe, em 9 de dezembro de 1938.

Deixei para o final a má notícia. Algumas semanas após essa palestra, Suely foi diagnosticada com COVID 19. Ela havia tomado uma dose da vacina Astrazeneca, mas desenvolveu um quadro da doença que se agravou em função das comorbidades que ela tinha, como uma doença cardíaca grave, segundo me informou a família. A COVID 19 não se desenvolveu de forma intensa, mas Suely foi internada e não conseguiu vencer essa batalha. Ela foi chamada para o mundo espiritual, do qual tanto tratou em suas palestras infindas e em seus escritos, no dia 12 de maio de 2021. 

As homenagens e notas brotaram em todo o Brasil. Federativas e casas espíritas agradeceram as contribuições dadas por ela por décadas. Nos agradecimentos, alcunharam-na “a dama da mediunidade”.

Deixo ao leitor os principais livros de Suely, listados por ano de copyright:


Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas - 1981

Testemunhos de Chico Xavier - 1986

Ante os Tempos Novos (parceria com Divaldo Pereira Franco) – 1996

O Semeador de Estrelas - 1989

Mediunidade e Obsessão em Crianças - 1995

Mediunidade: Caminho Para Ser Feliz – 1999

Visão Espírita Para o Terceiro Milênio - 2001

Transtornos Mentais: Uma Leitura Espírita - 2001

Entrevistando Allan Kardec - 2004

Mediunidade no Ar - 2004

Dimensões Espirituais do Centro Espírita - 2006

Os Poderes da Mente - 2008

Mentes Interconectadas e a Lei da Atração – 2010

Nas Fronteiras da Nova Era - 2013

Divaldo Franco: Uma Vida Com os Espíritos - 2017

Chico Xavier e Emmanuel: Dores e Glórias – 2021


1.11.16

VAMOS?



Uma expressão muito usada por aqui, nas terras mineiras, é o vamos, sempre seguido de interrogação. Na linguagem oral, se usa também o “vamo” e o “vão”. É uma expressão muito poderosa por aqui.

As casas espíritas anunciam suas tarefas em público, coletivamente, mas via de regra, a maioria das pessoas ouve como se fosse algo estranho a elas, ou algo chato, como a hora do intervalo comercial da televisão aberta. Talvez uma ou duas pessoas, em um grupão de cem, preste atenção no recado e pense, no recesso de sua alma: será que eu vou?

Lembro-me quando era muito jovem, lá pelos 13 anos, e assistia as reuniões de mocidade no Célia Xavier. Muitos de nossos colegas e eu chegamos ao Célia Xavier a partir de um convite de amigo ou familiar. Vamos? Disseram um dia.

Estava no meio do grupo, quando convidaram para o que se chamava de encontro fraterno. Por aqui, é uma leitura de texto espírita com comentários, seguida de um momento de descontração, com música, "comes e bebes", etc. Eu ouvi o recado como se não fosse direcionado a mim. Depois de terminada a reunião, a coordenadora (Thelma Rodrigues) veio conversar diretamente comigo, e me deu um “vamos”:

- "Quero vê-lo lá amanhã!" Só depois dele, eu me enchi de coragem para pedir ao meu pai para ir. Tempos curiosos estes...

Quando fazia o trabalho de tese, onde estudei os voluntários de uma das unidades de nossa casa espírita, uma das perguntas que direcionava parcialmente a entrevista era que contassem como se tornaram voluntários. Sete dos oito voluntários foram mobilizados pelo canto sonoro do “vamos”. Apenas um deles ouviu um recado dado a toda gente (e a ninguém em especial) e foi procurar alguém para oferecer-se.

Em visita à Mansão do Caminho, vi voluntários fazendo as tarefas mais diferentes possíveis, e alguns deles me explicaram que ouviram o “vamos” (não sei como é esta expressão na Bahia) diretamente de Divaldo Franco. Alguns estavam aposentados e mudaram de cidade e domicílio para atender ao convite.

Lembro-me de um episódio envolvendo Eduardo Carvalho Monteiro, que sabendo de uma pessoa que passou a frequentar o grupo, disse ao amigo. 

– Está na hora de lhe fazer um convite! Ou então: 

- Esta pessoa merece receber um convite para o trabalho.

Quando vejo dirigentes de reunião, que fazem bem o papel de “figurão[1]”, mas nunca usam a profunda força do “vamos”, penso que corremos o risco de igrejificar as casas espíritas, de ter multidões achando muito lindas as reuniões e muito tranquilizantes os passes, mas que lá estão presentes da mesma forma que estariam em um programa, um cinema, uma festividade ou uma obrigação social. Não pretendem se imiscuir, fazer parte, tornar-se membro, apenas estar presente e usufruir.

O “vamos” demanda de quem usa, a capacidade íntima de ouvir a negativa, o “não posso”, o “não agora”, o bem mineiro “de jeito nenhum”, e outras formas equivalentes. 

O “vamos”, se pensarmos bem, dividiu o calendário ocidental. Foi empregado por Jesus diversas vezes, como no momento após a pesca no Tiberíades, quando ele convidou Pedro a ser “pescador de homens”. Era um “vamos” radical, que exigiu uma mudança profunda, afetando a profissão, a família, o futuro... Ele também foi usado pelo Mestre com o “jovem rico”[2], que, infelizmente, tinha muitas propriedades...






[1] Figurão, é um termo empregado por teóricos do comportamento organizacional, que tem por sentido principal representar a organização. Um dirigente pode desempenhar bem esta função, vestindo-se adequadamente, falando bem, agindo segundo as normas de conduta do grupo, mas não se torna um líder apenas com o desempenho deste tipo de função.

[2] Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. (Mateus, 19:21)

7.5.10

EC EM FORTALEZA: LIVRARIA ESPÍRITA ITINERANTE

Calçadão da Avenida Beira-Mar em Fortaleza. Lugar agradável, construído para os passeios e pequenas corridas a qualquer hora do dia e da noite. Pontos de apoio ao turista, bares, barracas de praia, feirinha de artesanato, livraria espírita itinerante... Livraria itinerante? O que é isso?


Com a discrição mineira fomos chegando e logo encontramos um cearense cheio de sonhos e recordações. Clélio Cavalcanti trabalha há anos como voluntário nesta atividade. Conhece os livros, conhece os centros espíritas, conhece os autores e conhece muitos espíritas de todo o Brasil, incluindo a capital mineira. Trabalhou durante anos na Mansão do Caminho e veio “cedido” por Divaldo para apoiar o trabalho.
Logo mostra o novo Parnaso de Além Túmulo, recém publicado pela FEB para a comemoração de cem anos do nascimento de Chico Xavier.

“Estes livros são adquiridos e voltados para os turistas, igualmente itinerantes, às vezes espíritas, porque os espíritas locais geralmente compram nas livrarias dos Centros Espíritas para ajudá-los”, conta-nos.

A van é apenas uma das unidades móveis de divulgação de livros espíritas. Há também um ônibus cuja história começa no interior mineiro, em 1994.

Um homem desejava suicidar-se por haver perdido um ente querido e foi procurar Chico Xavier. Encurtando a história, após o atendimento consolador, ele resolveu utilizar suas posses para divulgar a obra do médium mineiro e adquiriu um ônibus, adaptou-o e enviou pelas estradas do Brasil. Como o projeto veio parar no Ceará, bem, é outra história. Venha à avenida dos hotéis cearenses e procure o Clélio...

7.6.14

DR MARCH EM DOIS PLANOS






Alexandre Rocha
Edições FEERJ
160 páginas
14 x 21 cm
ISBN: 85-98419-01-X



O professor Eugène Enriquez, em conferência na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG provocou a todos o que o assistiam, quando afirmou que o brasileiro não conhece a sua história. Passada uma década indignada, após ler a mais recente biografia sobre o Dr. March, escrita pelo editor da Lachâtre, começo a dar-lhe razão, ainda que a contragosto.

Fosse um filme, seria difícil de ser classificado. Aparentemente parece-se com um documentário, mas flui de forma tão natural e desperta tantos sentimentos no leitor, que talvez fosse um drama ou, quem sabe, um filme de aventuras. Discreto, Rocha aparece pouco na sua narrativa, comenta pouco. Quem pensa que o estilo biográfico é um texto chato, onde se enaltecem os feitos e se descreve a obra de uma pessoa importante, pode ir mudando os conceitos.

Alexandre obteve e utilizou um número razoável de documentos, livros, teses, entrevistas, produções mediúnicas e material obtido em periódicos científicos e jornalísticos. Não é uma tarefa fácil, reunir informações de um brasileiro do século XIX.

O livro é um passeio pelo Brasil Império, ambienta-se inicialmente na região de fazendas que se tornaria Terezópolis. George March, pai do biografado, é de uma personalidade ímpar. Português, descendente de ingleses, casado com Dona Inácia, afro-brasileira, decide construir uma confortável sede de fazenda em uma região até então erma. Tão notória é a sua fazenda, que a nobreza e a elite da capital do império viaja até lá para hospedar-se e usufruir da companhia do anfitrião e das delícias que pode proporcionar uma propriedade luxuosa em região serrana.

Há um sonoro silêncio em torno da pessoa de Dona Inácia, cuja influência não pode ter se reduzido à cor da pele do biografado. Como se deu a união? Como as elites fluminenses e as autoridades estrangeiras reagiram a este relacionamento? Inácia faleceu antes de George March? Nada disto parece ter chegado às mãos do autor, que diante da falta de informações, nada pode escrever.

Ao redor da fazenda, o tempo passa e com ele segue a história. A mansão, que tem vida breve no pequeno livro, vai da glória às ruínas. Do pedido de visita do próprio imperador (1830) à morte do proprietário (1845) o biógrafo encontra sutilezas da relação entre Brasil e Inglaterra e traz à luz os problemas de herança. Vendida a fazenda, nasce Terezópolis, toma cena a questão Christie, um litígio entre imperadores e o pequeno Guilherme de seis anos fica aos cuidados de tutores no Rio de Janeiro.

Aos quinze anos, o jovem Guilherme estuda medicina e aos vinte e um anos defende tese doutoral, como era exigido à época, graduando-se em medicina.

Alexandre compara o jovem Dr. March a Francisco de Assis. Tivesse ele nascido na Úmbria no século XIX, já teria sido objeto de filmes, livros e talvez da devoção popular italiana. Como Francisco, ele adota um estilo de vida devasso na juventude, que só teve fim após uma enfermidade progressiva, possível seqüela da sífilis, doença que vai fazendo perder a mobilidade corporal aos poucos.

A dor e o fim da herança paterna fizeram-no mudar o estilo de vida, o que Rocha encontra em correspondência a Dias da Cruz.

De formação tradicional, o Dr. March abandonaria a medicina chamada alopática pelos homeopatas para direcionar sua clínica por esta última. Como se deu esta mudança? Silêncio. Nosso biógrafo, contudo, conseguiu levantar toda a publicação clínica nos Anais de Medicina Homeopática do Instituto Hahnemanniano do Brasil, sua atuação nesta instituição, suas descobertas e lutas. Confesso que fiquei assombrado com a comunicação do Dr. March, já sexagenário, na qual ele apresenta melhoras oftalmológicas significativas de presbiopia e vista cansada com o uso de uma certa substância dinamizada, antecedida por uma irritação do globo ocular semelhante a uma conjuntivite, bem aos moldes da teoria homeopática.

As emoções se multiplicariam nos capítulos seguintes. Residindo em Niterói, o médico e cientista, com anuência de toda a sua família, inicia seu apostolado na medicina. Médico de todos, do povo e das elites desiludidas com a medicina tradicional, o Dr. March não apenas atende sem perceber remuneração, como monta uma farmácia homeopática em casa, para distribuir medicamentos ao povo e alberga aos que vêm de longe, incapazes de voltar a casa. Diagnosticando a fome, ele tira dos seus para tratar aos desconhecidos que o procuram. Quando questionado pelos filhos, ele lhes ensina o Evangelho.

Eleito vereador, continua pobre. Eleito juiz, continua justo. Continua médico. Continua filantropo. Deixa de ser vereador e juiz. Não abandona a caridade. Continua espírita. E os casos vão ganhando vida com a pena do autor, sucintos, rápidos, mas cheios de emoção. A comunidade se incomoda com o estado da residência do Dr. March e faz um movimento para adquirir-lhe uma nova casa. Falecem-lhe os filhos e a companheira, mas não lhe faltam forças para acolher, tratar e curar. E os casos impressionam.

Neste ínterim, o Brasil se torna república. A armada se revolta e uma de suas naves de guerra dispara tiros contra o Rio de Janeiro e Niterói. Os March se refugiam, mas a caridade continua, uma caridade tão comovente quanto a saúde popular no Brasil que finda o século XIX e inicia o século XX.

Quando finalmente a doença o impede de locomover-se e fica no leito, não se sabe em que estado de consciência, diferentes médiuns fluminenses começam a emitir receituário homeopático assinando G. March. Evidências de comunicação mediúnica entre vivos?

O médico deu seu último suspiro em 1922. A prefeitura de Niterói assume as custas do enterro e fica em luto por 48 horas. Uma multidão acompanhou o féretro até o cemitério do Maruí. O governador do Estado do Rio de Janeiro se faz representar. Catulo da Paixão Cearense lhe escreve uma poesia. Gilberto Freire faria constar seu nome em um de seus livros.

A segunda parte é uma coletânea de mensagens dadas pelo Dr. March a três médiuns: Telma Pereira, Raul Teixeira e Solange Pessa. Nesta parte o biógrafo se cala totalmente, apenas transcreve.


Alexandre Rocha escreveu um texto limpo, que emociona, quem sabe consiga trazer de volta Dr. March das brumas do esquecimento?

22.7.09

LIVROS ESPÍRITAS OU DE MERCADO CONSUMIDOR ESPÍRITA?

Figura 1: Livros (foto de sharkinho)



Dalmo Duque dos Santos fez uma oportuna reflexão sobre o novo mercado de livros espíritas que está em funcionamento. http://observadorespirita.blogspot.com/2009/07/paixao-pelos-livros.html

A questão dos romances açucarados que ele comenta é real e gostaria de adicionar minha opinião ao tema.

O romance, os contos e outras formas narrativas costumam ocupar o lugar de entretenimento, mas grandes escritores articulam sua história com o seu olhar sobre o mundo, que pode ser de crítica social, às vezes de análise psicológica, ou discutindo um tema de interesse do seu público leitor (sem cair no pedagogismo, que na minha opinião costuma empobrecer a narrativa). Ele intercala sua intenção de proporcionar uma leitura prazerosa com um algo mais.

Quando penso na literatura espírita, tão desconhecida pela maioria dos nossos especialistas universitários, não me esqueço da experiência pessoal de se ler livros como “Renúncia”, de Emmanuel, Memórias de Um Suicida, de Camilo (com comentários de Léon Denis, como nos mostrou o Pedro Camilo), “A Mansão Renoir”, de Alfredo, “Dor Suprema”, de Vítor Hugo, o notável “Memórias do Padre Germano” escrito a partir do ditado psicofônico do espírito Germano por Amália Domingos Soler, “Os Luminares Tchecos” de Rochester, entre muitos outros.

Estou evitando os novos autores intencionalmente, por uma razão: tenho lido menos romances .

Penso que o Dalmo concorda comigo: ele não levanta sua pena (melhor falando, seu teclado) contra o gênero literário, mas contra uma mentalidade, que é a mentalidade meramente comercial.



Esta mentalidade não nasce nos editores, nem nos distribuidores, mas está no centro espírita, nas livrarias e bibliotecas espíritas, e pior, principalmente nos Clubes de Livro espírita. Está em quem consome e em quem forma opinião.

As livrarias acham cômodo comprar dos distribuidores, que estão cada vez mais influentes junto às editoras e divulgam com peso os livros que consideram comerciais, alguns de boa e outros de má qualidade.

Os Clubes do Livro, que também são viabilizadores da edição de livros, também optam pelos açucarados para evitar reclamações e fidelizar clientes. Primeiro eles formam seu público e depois reclamam de não ter opção. Em Belo Horizonte o CLUBAME, quase na contramão desta tendência, tem adotado uma conduta divergente, que é a de distribuir três gêneros de livros: um romance, um livro de estudos e um livro infantil. E estão cheios de leitores e projetos futuros.

As bibliotecas não compram livros. Geralmente fazem campanhas e escrevem cartas pedindo doações. Não fazem sequer um pedido orientado de doações junto aos frequentadores das sociedades espíritas, ou seja, não administram seu acervo. Quando compram, o fazem direcionadas pela procura dos leitores, ou seja, Kardec (ainda bem), André Luiz (geralmente a série a vida no mundo espiritual) e romances, muitos romances. Como são bibliotecas de empréstimo domiciliar e dificilmente de estudos, são poucas as que têm obras raras e edições antigas, tão necessárias à pesquisa séria.

Os expositores, contudo, são os grandes formadores de opinião na casa espírita. Fiquei curioso para ler Inácio de Antioquia, depois de uma palestra que minha esposa assistiu de um sério colega espírita mineiro. Se eles não apresentam e discutem os livros com seu público, não será um belo projeto gráfico que irá atrair o público leitor, geralmente conservador em matéria de Espiritismo. O público se interessa pelo que eles divulgam (e pelo que criticam também).

Isto nos leva a uma outra questão, os livros sensacionalistas, repletos de novidades improváveis e fantasiosas, geralmente sobre a vida no Plano Espiritual, mas isto fica para um outro artigo, porque este já está muito extenso...