1.6.14

RECORDAÇÕES DE MODESTA



Foto: Sanatório Espírita de Uberaba


Livro: Recordações de Modesta
Autor: Iracy Cecílio
Editor: INEDE
223 páginas
16 X 22,5
ISBN: 9788589038218
1a. Edição
2007

A memória espírita não se esvanece porque algumas editoras e pessoas insistem em preservar o pouco que resta do passado com seus esforços pessoais. Mesmo sem formação em história ou sem qualquer curso formal sobre preservação da memória, surgem voluntários a abrir mão de suas horas de descanso em iniciativas que possibilitam às novas gerações não perder as “picadas” que foram abertas na mata pelos pioneiros.
Maria Modesto nasceu em 1899, no mesmo ano em que Freud escreveu a “Interpretação dos Sonhos”. Filha de espíritas, padeceu aos 18 anos de uma enfermidade que foi diagnosticada como grangrena por um facultativo da capital mineira, associada a perturbação mental que os espíritas identificaram como obsessão. A família evitou a cirurgia e, mesmo sob advertência médica, levou-a a Sacramento, onde foi tratada por Eurípedes Barsanulfo, à base de desobsessão, passes e água fluidificada no período de 18 dias. Seguiu-se a educação mediúnica e, em breve, estaria psicografando. Ela seria intermediária das prescrições médicas dos espíritos, prescrições corretas, para o desespero do Pai da Psicanálise.
Estivesse viva, seria levada pelo Prof. Cléber de Aquino, da USP, para ensinar aos alunos de Administração sobre empreendedorismo. Ainda em 1917 ela foi aceita como sócia no Centro Espírita Uberabense, em 1919 fundou o “Ponto Bezerra de Menezes”, onde realizava reuniões mediúnicas e reuniões públicas três vezes por semana, passados nove anos, lançou a pedra fundamental do Sanatório Espírita, sob a inspiração do presidente desencarnado da FEB. O Sanatório foi construído em cinco anos, e, em breve, seria dirigido pelo Dr. Inácio Ferreira. Diariamente Maria Modesto passaria a colaborar com o funcionamento do sanatório, seja através dos eventos sociais, seja através do exercício da mediunidade, no auxílio à desobsessão, e nas comunicações de espíritos superiores, como é o caso do próprio Dr. Bezerra de Menezes.
A vida como médium foi marcada por eventos comprobatórios, como a previsão da volta e fim trágico de Vargas ao poder, feita em 1945, pelo espírito de Frei Ângelo.
Em 1940, a médium-empreendedora funda a União da Mocidade Espírita de Uberaba, instituição que apoiaria durante o curso da vida. Em 1949 ela fundaria o Lar Espírita, entidade de amparo à criança.
Há ligações de Maria Modesto com a maçonaria, visto que ela ajudou a construir a Loja Maçônica Estrela Uberabense.
Maria Modesto desencarnou em 1964 na triste aurora dos anos de chumbo.
O livro, na verdade, é uma compilação de documentos. Os primeiros capítulos são memórias biográficas escritas por diferentes autores, entre eles o filho Erasmo. A segunda parte (embora o livro não esteja dividido assim) contém a transcrição de mensagens, inicialmente tendo Maria Modesto como médium e depois como personagem, através de outros médiuns e muitas vezes com narrativa de outros espíritos.
A parte final do livro narra casos pitorescos (como não poderia faltar a um livro mineiro de memórias), relatos e ensaios, geralmente escritos póstumos que oradores e escritores espíritas de destaque fizeram, focalizando partes ou sínteses de sua biografia.
O livro foi bastante enriquecido com fotografias de época, nas quais se vê Dona Modesta em diversos momentos da vida, as instituições que ela ajudou a construir e os seus familiares.
Esta é uma primeira iniciativa, ainda superficial. Cabe às novas gerações dar continuidade ao trabalho de Iracy, resgatando a contribuição da mediunidade de Dona Modesta ao pensamento espírita, e aprofundando em sua personalidade e nas suas relações com os atores sociais de sua época, antes que a poeira do tempo cubra de vez as suas heranças.


27.5.14

QUANDO OS ESPÍRITAS SE ENCONTRAM COM A SOCIEDADE




O movimento espírita de Juiz de Fora realizou neste último sábado o 9º. Fórum Espírita. Seiscentas pessoas, aproximadamente, acomodaram-se confortavelmente no salão do Clube Tupi, para debater com três conferencistas sobre o tema morte.
A entrada, em uma grande antessala, onde também foram servidos os coffee-breaks chamava a atenção pelo clima de reencontro e alegria. Pessoas das mais diferentes casas espíritas da cidade participaram da organização e muitas pessoas de fora, beneficiaram-se do evento. 



Uma exposição de fotos das casas espíritas da cidade compôs um grande painel, onde alguns participantes paravam para identificar as sua ou trocar lembranças com outros interessados.

Fui apresentado a uma simpática pesquisadora que chegou recentemente da Alemanha, e que fez parte da equipe que investigou o funcionamento cerebral de médiuns pintores, com neuroimagem. Vi a juventude e a seriedade da colega, e recordei-me de quando era mais jovem, tentando provocar os médicos  espíritas da época a estudarem com eletroencefalografia o transe mediúnico. À época eles julgavam a técnica pouco produtiva, mas o avanço da tecnologia, aliado à coragem acadêmica, nos presentearam com novos horizontes para a investigação da mediunidade e do espírito.



A palestra da manhã, feita pelo Dr. Alexander Moreira-Almeida, médico psiquiatra, apresentou o método de Kardec para a pesquisa da vida após a morte e as pesquisas que se fazem em nosso tempo de hoje. Rica em citações e referências, abriu um universo de leitura para quem deseja informar-se mais das tentativas do homem retirar o véu que cobre o segredo da grande viagem. As perguntas iniciaram-se ligadas ao tema, mas em pouco tempo o público dirigiu questões para o psiquiatra, esquecendo-se do tema central do fórum, mas procurando ouvir algo sobre suas dores e conflitos íntimos.



À tarde, apresentamos um trabalho sobre o processo de morrer e os relatos dos espíritos, colhidos pela mediunidade dos colaboradores de Kardec, pelas pessoas que informaram Camille Flammarion e pelos espíritos que continuam usando a psicografia hoje como canal de comunicação entre dois mundos. Temas diversos, como as mortes violentas, e dentre elas o suicídio, foram tratadas e tocaram as pessoas. O caso de Daniela ilustrou bem este tema nada fácil. Lembrei-me dos estudos que papai fazia sobre o tema, décadas atrás e da curiosa desencarnação de minha avó, que compartilhei com o público. Papai estaria presente? Se estivesse sentiria um pouco de nostalgia dos tempos de trabalho com o movimento espírita e lembrar-se-ia das muitas vezes que estivemos juntos ao redor do tema da morte e do morrer.

As perguntas foram francas, diretas e algumas, apesar do nosso apelo ao público, muito pessoais. Enquanto algumas perguntas vinham direto do intelecto, outras vieram diretamente do coração dolorido pela perda ou pelo sofrimento. Perceber o caráter consolador do espiritismo é tocante. Agradeço à ajuda de dois mundos pela inspiração das respostas. Sozinho não conseguiria perceber o significado profundo das perguntas que chegavam aos borbotões.



Após a palestra dirigimo-nos a uma mesinha simpática, para autografar  os nossos O observador e outras histórias e Casos e descasos na casa espírita. Os interessados formaram uma fila, sempre recebidos pela Julieta, nosso “anjo da guarda”, para autógrafos. Rapidamente, nos abraçavam, contavam suas histórias, trocavam impressões. Víamos pessoas de diversos lugares, presentes por diversos motivos, interessados em romper com o tabu, e algumas delas em lidar com as dores, as perdas de seres muito queridos que as anteciparam na grande viagem.

A fila continuava mesmo com o final do intervalo, o que não nos possibilitou assistir ao trabalho de Angélica Maia, sobre “educação para a morte”. Impossível deixar as pessoas que nos procuravam e que esperavam pacientemente sua hora de colher o autógrafo e compartilhar alguma coisa. Terminada a fila, outro compromisso. Uma entrevista para a tradicional revista “O médium”, que tantas histórias e reflexões trouxe ao movimento espírita ao longo de muitas décadas. Há um projeto de voltar a imprimi-la. Seguiu-se diálogo rico, com um jornalista bem informado e perspicaz. A palestra da Angélica ficou mesmo para uma próxima oportunidade.



As pessoas encomendaram os DVDs do evento e pude abraçar ainda uma família querida meio belorizontina e meio juiz-forana, que participava entusiasmada da organização do evento. O fórum será levado a outros, que não puderam estar presentes.



Perdoe o leitor por tantas observações pessoais, mas penso que só assim poderia transmitir o sentido de um evento  tão trabalhoso como este, que envolve tantos trabalhadores voluntários e participantes. Meses de organização se justificam, não apenas pelo conhecimento que se veicula, mas pelo encontro, esta coisa tão fora de moda, tão ofendida pela comunicação rápida dos tablets e celulares.

10.5.14

DESENCARNA LUCIANO DOS ANJOS (03/05/2014)



Não conheci pessoalmente o Luciano dos Anjos. Tive um contato breve, cordial e distante, pela internet. Eu havia escrito um trabalho sobre a identidade de André Luiz, mostrando a falta de evidências para a tese de ele ser Oswaldo Cruz ou Carlos Chagas (este último, conhecido pessoal da minha família). Luciano defendia outra identidade para André Luiz. A partir deste contato, vez por outra, Luciano dava notícias e de ordinário envolviam polêmicas.

Apaixonado pelo espiritismo e defensor das ideias de J.B. Roustaing, Luciano tinha um verbo forte, era conhecido pelos textos duros que publicava, doesse a quem doesse. Após afastar-se da FEB, com o final da gestão de Armando de Oliveira Assis, que admirava, ele trabalhou muitos anos em um pequeno grupo de estudos, que denominou “Grupo dos Oito”.

Da sua produção bibliográfica, “O atalho” é um livro curioso, no qual faz uma análise pessoal do movimento espírita e das instituições espíritas contemporâneas. Como era amigo das polêmicas, defendeu ideias próprias, independente da organização do movimento.

Fez uma defesa contundente da mediunidade de Divaldo Franco, no seu livro “A anti-história das mensagens co-piadas”.  Outro livro importante, no qual participou como personagem central e coautor, foi “Eu sou Camille Desmoulins”, no qual ele participa de sessões de regressão de memória e passa a relatar uma suposta encarnação passada como um dos atores sociais de destaque na Revolução Francesa. As sessões foram conduzidas por Hermínio Miranda, que gravou e analisou os resultados da hipnose induzida por passes.

Uma de suas últimas ações de notoriedade pública foi uma ação que moveu contra a mudança do estatuto da Federação Espírita Brasileira, que iria, entre outras transformações, retirar um parágrafo que colocava como papel da federativa a “obrigatoriedade do estudo dos Quatro Evangelhos” [de Roustaing]. Ele alegou que se tratava de uma cláusula pétrea, não podendo ser retirada dos estatutos, mas a última informação que recebemos foi de um acórdão do Tribunal de Justiçado Rio de Janeiro posicionando-se à favor das mudanças do estatuto pela assembleia, como se pode ler no link a seguir: http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=00048D6CB18F2361140253909B2FF41A8298C502352D0804


Luciano publicou alguns livros sobre Roustaing, como “Jean-Baptiste Roustaing - O Missionário da Fé” e “Para entender Roustaing”. Ele tem alguns títulos de lançamento previsto para 2014, esperamos que a desencarnação não impeça que estes trabalhos venham à luz. Sua personalidade ímpar deixou marcas no movimento espírita brasileiro, desejamos que ele encontre o apoio espiritual que merece na nova vida que inicia e dirigimos à família um abraço afetuoso.

7.5.14

O PERÍODO RELIGIOSO




Dezembro de 1863. Allan Kardec dava mostras de alguma tristeza quando publicou  “Período de Luta” na Revue Spirite. Os últimos anos não haviam sido fáceis. Após o acolhimento inicial de seu primeiro livro espírita, diversos grupos começaram a se organizar pela Europa ou a enviar correspondências para o autor da boa notícia. Queriam trocar informações, queriam orientações de funcionamento, queriam diálogo. Os anos subsequentes ao abril de 1857 foram muito frutuosos, e ele havia revisto e ampliado “O livro dos espíritos”, publicado um livro introdutório para os iniciantes, impresso um guia, espécie de manual, que explicava o que é mediunidade e como organizar sessões experimentais. Sua maior realização, entretanto, havia sido a publicação de uma revista mensal, para a qual não faltavam assinantes de diversas partes do continente e fora dele.

Após o sucesso inicial do Espiritismo, termo que ele cunhou para distinguir a doutrina desenvolvida em diálogo com Espíritos que comunicavam através de médiuns, Kardec começou a enfrentar as críticas e até pequenas agressões verbais que surgiam de diferentes segmentos da sociedade. A princípio ele acreditava que o estudo científico-filosófico da vida após a morte poderia ser uma alternativa ao desgastado pensamento religioso, e que religiosos de diversas designações poderiam se interessar e tornarem-se estudiosos dos ensinamentos espirituais.

A igreja, contudo, havia dado o que considerava ser um golpe de misericórdia na doutrina nascente: inserira no index prohibitorum seus dois livros mais populares, fechando as portas do Espiritismo aos católicos fiéis. A Europa, contudo, já não era mais o grande feudo cultural do século XVI, e os livros continuavam sendo procurados, as assinaturas continuavam chegando, a correspondência aumentava.

Após tanto desgaste pessoal, e diante do aumento de trabalho, entrevendo a dificuldade das instituições antigas reverem seus dogmas e abrirem mão de seu poder secular, Kardec comunica em apenas uma linha que reveria a linha de trabalhos adotada até então:

“A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e levará ao quarto período, que será o período religioso.” 

Em apenas quatro meses, um novo livro seria publicado: Imitação do evangelho segundo o espiritismo, que na segunda edição já apresentava o título que o transformaria no livro mais vendido de Kardec nas terras brasileiras, ao longo dos séculos XX e XXI. Kardec começa a publicar sobre o cristianismo e o Cristo, dando bases a uma proposta ética do movimento nascente.


Dali para o futuro, todos os livros passariam a tratar diretamente dos ensinamentos de Jesus à luz do conhecimento espírita. Estava consolidado o período religioso.

2.5.14

PRIMEIRO ENCONTRO REGIONAL DA LIHPE - UBERABA-MG


Local: Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba-MG
Data: 17 de maio de 2014 - das 8:30 às 17:30 horas
Coordenação: Prof. Ozíris Borges Filho
Organização: PET-Letras da UFTM e Coordenação da LIHPE

Trabalhos já confirmados

Dr. Alexandre Caroli Rocha - O Caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade
Ms. Cíntia Alves Silva - Autoria, edição e veridicção: uma análise semiótica das cartas de Chico Xavier
Dr. Jáder Sampaio - Pesquisas Atuais sobre a mediunidade
Dr. Ozíris Borges Filho - O lá e cá de Augusto dos Anjos
Dr. Adilson Assis - Uma leitura espírita do diálogo "Íon" de Platão
Mestrando Luiz Fernando Bandeira de Melo - Religião e mediunidade de Sócrates em Platão
Tatiana de Souza F. Marchesi - A espacialidade em Nosso Lar
Rodrigo Junqueira Souto - A construção do espaço em "A Casa do Escritor", de Patrícia

Taxa de inscrição: 25 reais


Mais informações podem ser obtidas em:
http://erlihpeminas.blogspot.com.br/
http://lihpe.net

28.4.14

O SLIDE QUE FALTOU...




No seminário "Mecanismos da Mediunidade", realizado no último sábado, mencionei uma imagem que explica a diferença entre vidência e clarividência na obra de Allan Kardec.

André Luiz usa apenas a palavra clarividência, ou sua equivalente, clariaudiência, para referir-se à faculdade dos médiuns videntes ou audientes.

Allan Kardec, contudo, estudou os fenômenos sonambúlicos, comuns nos meios do magnetismo animal, existentes na França de sua época. Uma das faculdades que o sonâmbulo, levado a este estado de hipnose ou magnetismo, podia apresentar, era o fenômeno da clarividência. Neste caso, um fenômeno que hoje chamamos de anímico, ou da própria alma do sujeito magnetizado. Concluindo, havia a palavra clarividência, usada para, por exemplo, percepção de fatos à distância. Kardec cita no vocabulário espírita do primeiro Livro dos Médiuns que a clarividência sonambúlica era sinônimo da palavra lucidez.

O sonâmbulo, contudo, era um estado de transe profundo (Kardec usa a palavra crise, porque parece que transe não era uma palavra utilizada pelos magnetizadores àquela época). Vimos no seminário que Charcot, professor de Freud, por exemplo, descrevia três estados de transe profundo em seus pacientes na Salpetrière: letargia, catalepsia e sonambulismo. 

Os magnetizadores, contudo, também conheciam pessoas que tinham percepções visuais sem os olhos, sem, no entanto entrarem em transe profundo. Isso era chamado de dupla vista.

Quando Kardec estudou os fenômenos mediúnicos, ele encontrou médiuns capazes de perceber espíritos e o mundo dos espíritos nestas duas condições: em transe profundo (que ele chama de crise passageira) ou em estado de vigília. A faculdade dos médiuns que percebem os espíritos sem as alterações próprias do sonâmbulo, Kardec denomina de "vidência mediúnica". Os que entram em um estado alterado de consciência, semelhante em alguns pontos ao sono, mas diferente em outros (anestesia de membros do corpo, capacidade de reagir a sugestões sem acordar, etc.) têm sua faculdade denominada pelo codificador como "clarividência mediúnica". 

Publiquei este trabalho completo no livro "O transe mediúnico e outros estudos", em 1999, que teve apenas 50 exemplares. Ele trata do conceito de vidência e clarividência em diversos autores espíritas ou não. A parte que trata do conceito em Kardec está publicada no Boletim GEAE, com as transcrições dos trechos dos livros de Kardec que demonstram a explicação acima.




23.4.14

VAGAS DE DESISTÊNCIA NO SEMINÁRIO "MECANISMOS DA MEDIUNIDADE"

Com algumas desistências que aconteceram nos últimos dias, temos pouco mais de uma dezena de vagas para o seminário "Mecanismos da Mediunidade, a ser realizado na Associação Espírita Célia Xavier" em Belo Horizonte. Interessados podem se inscrever no e-mail desaecx@gmail.com. As vagas serão preenchidas pela ordem de submissão e confirmadas aos remetentes. 

Informem:

Desejo participar do Seminário "Mecanismos da Mediunidade"

Nome:
E-mail:
Local que frequenta:



14.4.14

O OBSERVADOR E OUTRAS HISTÓRIAS



Uma jovem com anorexia...
Um sacerdote envolvido no poder temporal...
Um negro que lutou na Revolução Farroupilha...
Um policial, membro de grupo de extermínio...
Uma professora falecida em acidente de carro...
Uma médium espiritualista de outro país...
Um evangélico que expulsou a filha de casa...
Uma mulher que viu nascer um centro espírita no interior...
Um espírita da Espanha do século XIX...
Uma mulher negligenciada pelo marido...

O que aconteceu após sua morte?


Instituto Lachâtre
http://www.lachatre.com.br/loja/o-observador-e-outras-historias.html

Livraria Candeia

11.4.14

UM NOVO DESAFIO PARA A EVANGELIZAÇÃO INFANTIL





Vinícius, autor importante do espiritismo brasileiro, gostava muito de uma expressão latina: “res, non verba”, que significaria “coisas, e não, palavras”. Trazendo para o contexto da evangelização da infância e da juventude, vejo como desafio importante e inadiável a forma como organizamos nossas aulas.

Na universidade em que trabalhei, o conceito de disciplina foi transformado em “atividade acadêmica”. Na prática, mais que o nome, esta mudança permitiu que diversas atividades de formação dos alunos que antes não eram computadas, passassem a ser consideradas importantes e reconhecidas para o seu percurso. Participação em grupos de estudo, ser membro de projetos de pesquisa, estágios, vivências profissionais, participação em congressos e eventos técnicos; isto e muito mais passou a ser passível de reconhecimento, cômputo e registro para o histórico escolar e a formação de um aluno, porque a aprendizagem não se dá apenas no espaço da sala de aula, com exposições e provas.

Penso que é necessária uma expansão do conceito de evangelização infantil para que se possa construir um novo conceito, no qual o aluno se envolve mais com as atividades propostas. Desde a metade do século 20, a literatura especializada de evangelização infantil tem sido muito voltada a uma lógica de aula de evangelização que envolve a seguinte estrutura: abertura, exposição (explicação de conceitos) ou história, atividade de fixação, encerramento. Algumas aulas sequer contam com atividades de fixação, algumas vezes realizando atividades desligadas do conteúdo da aula (um desenho para colorir, por exemplo, para crianças menores).

Quando pensamos nas crianças de classe média em geral, elas têm uma vivência escolar e um acesso à informação diferenciado do que tínhamos na nossa infância. Desde jovens aprendem a buscar a informação na internet, gostam de jogos computadorizados, têm acesso à televisão de uma forma mais ativa (podem escolher programas em uma grade imensa das televisões pagas, podem baixar filmes e programas da internet, etc.) estão expostos a metodologias de ensino de pedagogia de projetos e construtivistas, embora ainda tenham a velha e boa aula expositiva, dialogada ou não.  Nas escolas, usam-se filmes, reportagens televisivas, visitas a museus e outras formas de apoio à educação.


Já passou da hora de diversificarmos os métodos de aprendizagem, repassando às turmas um papel mais ativo e interessante de acesso ao conhecimento espírita. 

Eu gostaria de abrir um espaço no Espiritismo Comentado para que os evangelizadores possam repassar suas experiências bem sucedidas de situação dos alunos, crianças e jovens, na condição de atores ativos na construção do seu próprio conhecimento. Os interessados podem escrever suas histórias para espiritismocomentado@gmail.com, e, se possível, com uma fotografia que a ilustre.

5.4.14

FICOU MAIS FÁCIL LER OS LIVROS DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO




A Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) é uma rede de pesquisadores que produzem e divulgam conhecimento ligado ao pensamento espírita. 


Ficou mais fácil adquirir os livros da Série Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo. Os livros estão sendo distribuídos pela Candeia: 

http://www.candeia.com (atenção, não digite br ou vai cair em outra editora)

Para acessar o catálogo, digite o nome dos livros no instrumento de procura, no alto da página.

Procure também os livros da Coleção Espiritismo na Universidade: Voluntários, Unir para Difundir, O movimento espírita pelotense, Fogo Selvagem - Alma Domada e Ser Voluntário - Ser Realizado.






Boa leitura!

2.4.14

Alma, Espíritos e espírito: qual a diferença para Allan Kardec?


Ilustração de Gustave Doré de A Divina Comédia. Dante e Virgílio estão no sexto ciclo.

Um dos temas que costumam causar polêmica na obra de Kardec é a dupla definição de espírito/Espírito que ele faz em “O livro dos espíritos”.

Na questão 23 ele define espírito (com e minúsculo) como o “princípio inteligente do universo”. Esta definição não constava da primeira edição do livro, bem como a discussão sobre Deus, espírito e matéria (questão 27), na qual Kardec tenta distinguir “o princípio de tudo o que existe, a trindade universal”.

Essa trindade assemelha-se à de um dos autores espirituais de “O livro dos espíritos” quando encarnado: Platão. Ele propõe como trindade o demiurgo (o criador do mundo), a matéria e as ideias puras.  

Observa-se que neste início do livro, Kardec define espírito “em princípio” ou como princípio, não como ente.  Este “princípio inteligente do universo” não existe separado da matéria, embora possa estar ligado a uma forma material tão sutil, que para nós “é como se não existisse” (questão 186)

Prosseguindo , ele faz uma nova definição na questão 76, mas agora está falando dos Espíritos, com a letra “e” maiúscula. Estes, sim, são entes, seres que se encontram na natureza, no mundo espiritual, como define Kardec.  Ele define, portanto, como “seres inteligentes da criação” e ainda redige uma nota que os leitores desavisados costumam não dar muita atenção: “A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos, e não mais o elemento inteligente do universo”.

Neste momento, Kardec passa a tratar dos seres humanos desencarnados, que existem no mundo espiritual com um períspirito que os delimita à percepção dos demais e dos médiuns. Perceba o leitor que, a partir da questão 76, ele passa a usar a palavra Espírito com maiúscula, mesmo quando ela aparece no meio da frase, para deixar claro que não está se referindo ao princípio inteligente, mas aos seres inteligentes.

Uma curiosidade: na primeira edição de O Livro dos Espíritos, Kardec usa sempre a palavra francesa esprit ou esprits com letra minúscula. Na segunda edição é que encontramos a distinção de esprit e Esprit ou Esprits. Confiram no site do IPEAK:



Por fim resta-nos distinguir Espíritos de almas. Kardec emprega a palavra Espírito para tratar dos desencarnados e alma  (questão 184) para tratar do Espírito dos encarnados.

Concluindo:

O espírito é um elemento universal, de essência distinta da matéria (e de Deus, obviamente)

Os Espíritos são seres inteligentes, desencarnados, que só existem ligados a um envoltório semimaterial denominado períspirito.


As almas são os Espíritos encarnados.

31.3.14

ESGOTADAS AS INSCRIÇÕES DO SEMINÁRIO "MECANISMOS DA MEDIUNIDADE"


Esgotaram-se as inscrições do Seminário Mecanismos da Mediunidade, antes da data prevista. Confirmaram presença membros das seguintes sociedades espíritas listadas abaixo:


Associação Médico-Espírita de Minas Gerais
Casa do Caminho - Sabará 
Casa Espírita Chico Xavier     
Casa Espírita Francisco de Assis             
Casa Fraterna Irmão Ismael
Centro Espírita Jesus de Nazaré - Oliveira/MG
Centro Espírita André Luiz
Centro Espírita Casimiro Cunha
Centro Espírita Divino Mestre - S. José dos Campos/SP
Centro Espírita Irmão Mateus
Centro Espírita Luz e Humildade            
Centro Espírita Manoel Felipe Santiago
Centro Espírita Maria de Nazaré  
Centro Espírita Oriente – Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla
Fraternidade  Espírita Irmãos Jacó e Mateus
Fraternidade Espírita Irmão Glacus                      
Fraternidade Luz e Esperança 
Fraternidade Maria Quitéria da Luz
Fundação Espírita Cárita
GEFA - Contagem/MG
Grupo da Fraternidade  Espírita Francisco de Assis
Grupo Emmanuel
Grupo Espírita Allan Kardec
Grupo Espírita da Fraternidade Albino Teixeira
Grupo Espírita Raios de Luz - Lagoa Santa/MG
Grupo Espírita Virgílio Pedro de Almeida
Hospital Espírita André Luiz           
INEDE
Sociedade Espírita Allan Kardec - Montes Claros-MG       

União Espírita Mineira

Sejam todos bem-vindos!


29.3.14

QUEM EVANGELIZA NÃO IMPROVISA!



As atividades de formação da evangelização infantil devem ser planejadas com antecedência, e não improvisadas, semana a semana. O que isso significa?

  1. Uma visão de todo, ou seja, uma escolha de temas e assuntos adequados às idades, que possibilitem a aquisição de uma visão de todo do espiritismo e uma reflexão dos conflitos e problemas que se enfrenta no desenvolvimento infantil e nos relacionamentos.
  2. Um plano de temas para o respectivo ano, não tão fechado que exija um assunto por aula, nem tão amplo que deixe os evangelizadores à deriva nos interesses de sua turma.
  3. Um planejamento de tarefas concomitantes às atividades dentro de sala: a turma de 11 e 12 anos de nossa casa, por exemplo, auxilia anualmente o preparo da festa junina, visita outras unidades de evangelização infantil (nossa casa tem unidades em três cidades), participa de uma atividade anual na qual os próprios alunos apresentam trabalhos que prepararam em grupo, em casa, reúnem-se uma vez ao ano na casa dos evangelizadores para ver um filme, comentar e divertirem-se.
  4. Um planejamento anterior, e de preferência coletivo, das aulas. Temos dois ou três voluntários por sala de aula de evangelização, por pura necessidade. Como é uma atividade voluntária, é preciso que não seja pesada aos responsáveis. Isso significa que eles serão responsáveis por uma ou duas aulas por mês, o que diminui a carga de preparo das aulas. Contudo, precisam reunir-se para que as aulas não fiquem desarticuladas, e para que a experiência de todos seja computada na elaboração das aulas.
  5. Um acerto prévio da logística: que material será necessário levar para a sala de aula? Como fazer o transporte dos alunos? Como obter autorização dos pais para atividades externas? Divulgaremos os aniversários dos alunos?
  6. Projetos de ação mais estrutural: há modificações e demandas que podem ser conversadas com as diretorias dos centros espíritas para serem implantadas em médio prazo (a construção de uma área ao ar livre para atividades, por exemplo, a obtenção de mobiliário adequado às crianças, a instalação de redes de wi-fi para a evangelização, aquisição de data-shows e monitores de televisão, a criação de espaços de leitura de literatura infantil nas bibliotecas, etc.)
  7. Avaliação das aulas: depois de realizada a aula ou conjunto de atividades, atingiram-se os objetivos? Houve entendimento do tema? Houve tematização de vivências da realidade dos participantes? Houve problemas com algum aluno? Alguma estratégia de ensino-aprendizagem foi inadequada ou mal executada? Como fazer melhor da próxima vez?

Por tudo isso, aquela ideia infeliz de procurar na internet uma aula pronta na véspera do dia do encontro da turma, ou de chegar esbaforido no centro espírita para ver o que poderia ser usado para a aula, deve ser evitada a todo custo, para que um trabalho seja efetivo e prazeroso para todos.

25.3.14

NA SALA DE AULA DE EVANGELIZAÇÃO


Imagem: Capa do livro Autismo, de Hermínio Miranda.


A jovem chegou na sala de evangelização, indicada pelo médico espírita. Já tinha 15 anos, mas, após conversa com a coordenação do trabalho, os pais a levaram para a turma de 11 e 12 anos.

O primeiro dia foi particularmente difícil para todos os envolvidos. Os pais ficaram no corredor, do lado de fora da sala. Tudo era muito novo para a nossa jovem e para a turma, que em grande parte já se conhecia. Os evangelizadores perguntavam-se se daria certo. Eles se perguntavam qual seria o benefício para a nossa nova aluna. Será que ela aprenderia?

Ela se portou de forma quase irrepreensível. Ficou quietinha, no seu cantinho. Entrou em luta interna para estar presente naquele ambiente estranho, diferente. Não permitiu que ninguém encostasse nela, e desviou-se silenciosamente das mãos dos passistas ao final da aula, mas não gritou, nem destratou ninguém.

Outro dia, ela não quis levar o trabalho que fizeram em sala para casa. Exerceu seu direito cidadão de deixá-lo na sala de aula, mesmo informada que era seu. Mas o trabalho foi feito por ela. É uma vitória, algo a ser comemorado internamente pelos envolvidos, sem alacridade, apenas respeito. Respeito, por sinal, não falta na relação dos colegas para com ela. É uma colega diferente, mas é colega como outra qualquer. Eles têm um cuidado caprichoso, quase carinhoso, de não fazer o mesmo tipo de brincadeiras, às vezes provocativas, que fazem uns com os outros. Não há queixas, nem perguntas indiscretas sobre a presença dela. Acho que é uma aula de vida para eles, na qual ela dá mais que recebe. E eles recebem com elegância. Quem sabe, um dia, não terão a honra de receber alguém em sua vida com as mesmas necessidades especiais de sua colega?

Passaram-se as semanas e o comportamento só melhora. Ela já se sente meio em casa na sala de aula. Assiste as aulas, com seu silêncio, ora com o olhar introspectivo, ora com o olhar de quem se interessa, mas fica “na sua”.

O passe já faz parte da rotina da aula, e ela vai tomar o copo de água fluidificada, espontaneamente, após o passe. Já não é mais necessário desviar das mãos dos passistas. Como será que ela registra o passe? Será que ela se beneficia das sensações e emoções que o passe desperta em quem está em oração? Talvez.


Vale a pena o esforço dos pais? Levá-la semanalmente, confiar nos evangelizadores e na turma, deixar sua pérola com eles?  Vale, sim. Vale muito. 

Oxalá outros pais despertem para a importância da evangelização inclusiva, e nós aprendamos também cada vez mais a conviver com as diferenças e a apreender as vitórias que passam despercebidas ao mundo.

24.3.14

ABERTAS AS INSCRIÇÕES DO SEMINÁRIO - NÃO DEIXE PARA AMANHÃ.

Estão abertas as inscrições no site da Associação Espírita Célia Xavier para o seminário "Mecanismos da mediunidade e suas relações com a física e o hipnotismo". 

Basta acessar http://www.aecx.org.br e clicar em inscrição on-line. 

Há um formulário pequeno, fácil de preencher e a inscrição está pronta.

Não deixe para amanhã, são apenas 150 vagas e já começaram a ser preenchidas, pelo que acabei de conversar com a secretaria da Associação.

11.3.14

ANDRÉ LUIZ EXPLICADO PELO DR ALEXANDRE FONSECA - BELO HORIZONTE MG



Prezados Leitores


Estamos trazendo o Prof. Dr. Alexandre Fontes da Fonseca, de Campinas-SP, a Belo Horizonte - Minas Gerais, para tratar do livro Mecanismos da Mediunidade. Alexandre tem alguns pós-doutorados em Física, inclusive no exterior, e já publicou na conceituada revista Science, tendo, portanto, uma formação sólida para nos explicar com clareza os conceitos de física utilizados por André Luiz para fazer metáforas aos mecanismos da mediunidade.

Não temos muitas vagas, porque o seminário é uma ação para a qualificação dos médiuns da Associação Espírita Célia Xavier, mas concordamos em abrir para o movimento espírita em geral, para que todos possam aproveitar a vinda do Alexandre. Peço, contudo, aos interessados, para não deixar a inscrição para a última hora. Informações podem ser feitas na secretaria da AECX - 31 - 3334-5787. O endereço é Rua Coronel Pedro Jorge, 314, Prado, Belo Horizonte-MG.

O evento será no auditório da Associação Espírita Célia Xavier, no Prado, que tem capacidade para cerca de 150 pessoas, apenas.

Recomendo aos participantes fazer uma leitura prévia do livro e levar questões, para que o evento seja proveitoso.

Bem-vindos à nossa casa

Jáder Sampaio

Mais informações podem ser obtidas no site http://www.aecx.org.br


8.3.14

ORÍGENES, REENCARNACIONISTA CRISTÃO?






Continuo publicando textos derivados da leitura que estou fazendo sobre os cristãos primitivos, e hoje comento a vida e duas propostas de Orígenes, similares à proposta espírita. Roque Frangiotti fez uma busca nas fontes disponíveis sobre a vida de Orígenes e se tornou nossa principal fonte nesta pequena biografia, assim como o texto filosófico de Giovanni Reale.

Vida de Orígenes

Cristão de Alexandria, de 185 d. C., Orígenes nasceu em família cristã e viu seu pai ser martirizado em 202, por ordem de Lúcio Sétimo Severo (imperador romano). Este evento tornou o jovem Orígenes, com 18 anos, responsável por mãe e irmãos, sem os bens da família, que foram confiscados pelo império. Ele passou a sustentá-los com aulas de gramática, que havia aprendido com o pai e desenvolvido com esforço próprio.

Com a perseguição romana, os catequistas haviam fugido de Alexandria, e Orígenes aceitou o convite do bispo Demétrio para realizar este trabalho, dirigindo a escola de catequese de Alexandria, quando passou também a acompanhar e exortar os mártires.

Nesta época, o cristianismo era alvo de críticas de cunho filosófico e de disputas internas entre doutrinas que se desenvolveram a partir de pontos conflituosos da fé cristã. Giovanni Reale (p.45) afirma que Orígenes combateu gnósticos, adocionistas e modalistas.

Este trabalho só foi possível porque Orígenes criou o Didaskaleion, um “centro de ensino superior”, considerado “o primeiro esboço daquilo que será a universidade na Idade Média” (Frangiotti, p. 11). Era um lugar que ensinava não apenas a doutrina cristã e as escrituras, mas também as diversas áreas da cultura chamada profana. Esta iniciativa possibilitou ao alexandrino o estudo da filosofia.

A Héxapla

Orígenes fez viagens de estudos, em busca das diferentes versões da Bíblia, para poder fazer estudos comparativos. Um de seus trabalhos é a Héxapla e que é uma Bíblia em seis colunas, a saber:
  1. O texto hebraico com caracteres hebraicos
  2. O texto hebraico com caracteres gregos
  3. A versão bíblica de Áquila
  4. A versão bíblica de Símaco
  5. A versão bíblica de Teodicião
  6. A versão bíblica da Septuaginta (os setenta)
Seu sucesso e reconhecimento por cristãos e autoridades cristãs de diversas partes do mundo parece ter despertado a inveja de Demétrio, que o destituiu do magistério e do presbiterato, além de excomungá-lo.

Orígenes foi para Cesaréia da Palestina, onde passou seus últimos vinte anos. Lá ele continuou a ensinar e organizou um centro de estudos, além de uma biblioteca que se tornou célebre e na qual trabalharam no futuro “Pânfilo, Eusébio e São Jerônimo” (Frangiotti, p. 15) Ele também passou a pregar e comentar diariamente a escritura para os cristãos.

No governo do imperador Décio iniciou-se uma nova perseguição aos cristãos, quando Orígenes foi preso e torturado, desencarnando anos depois.

Eusébio de Cesaréia afirma que Orígenes escreveu cerca de 2.000 livros, e Jerônimo fez um levantamento de 800 títulos. Muito se perdeu do que Orígenes escreveu porque algumas de suas doutrinas e ideias foram condenadas pelo II Concílio de Constantinopla, em 553, o que “provocou o desaparecimento sistemático de sua imensa obra”. (Frangiotti, p. 17)

A Hierarquia Deus – Jesus e o Espírito Santo

Seria muito difícil comentar a obra de Orígenes como um todo, então deter-me-ei em dois pontos que interessam a nós, espíritas.

Ao estudar o espírito santo, Orígenes faz uma hierarquia entre Deus, Jesus e o espírito santo. Ele defende a homoousia (Jesus foi emanado de Deus, e tem a mesma natureza do Pai), que nos é estranha, porque entendemos Jesus como espírito superior e distinguimos a natureza de Jesus da de Deus, em função das características divinas discutidas por Kardec. Contudo ele admite alguma subordinação do filho ao Pai (Reale, p. 45) Já o espírito santo teria um papel santificante.

Até o momento, em boa linguagem espírita, entendo que Jesus, após a desencarnação continua acompanhando o movimento cristão através da mediunidade dos profetas cristãos e de outros médiuns das comunidades. Entendo também que outros espíritos superiores, missionários de Jesus, tinham o seu papel junto a estas comunidades, sendo identificados como o Espírito, como diz Denis, ou o Espírito Santo, como afirma a tradição católica. Reale afirma que Orígenes via no Espírito Santo uma “função específica na ação santificante”.

Preexistência e Reencarnação

O segundo ponto que nos interessa é a defesa da preexistência do espírito antes da concepção. Orígenes entende que os espíritos preexistem e quando cometem pecado, nascem, ou seja, encarnam.  É uma leitura muito próxima da de Kardec que entende que o ciclo das encarnações é necessário ao desenvolvimento dos espíritos e que possibilita a reparação das faltas cometidas.

Outra similitude, que encontrei em Reale (p. 46) diz respeito à reencarnação. Para que o leitor não pense que estou inventando ou lendo mal, passo a citar textualmente:

“É doutrina típica de Orígenes (derivada dos gregos, embora  com notáveis correções) a que segundo a qual o “mundo” deve ser entendido como série de mundos, não contemporâneos, mas subsequentes um ao outro. Tal visão relaciona-se estreitamente com a concepção origeniana segundo a qual, no fim, todos os espíritos se purificarão, resgatando suas culpas, mas, para se purificarem inteiramente, é necessário que sofram longa, gradual e progressiva expiação e correção, passando, portanto, por muitas reencarnações em mundos sucessivos.” (Reale, p. 46)

Vê-se, portanto, que Léon Denis leu acertadamente quando escreveu em seu “Cristianismo e Espiritismo”

“De todos os padres da Igreja, foi Orígenes quem afirmou do modo mais positivo, em numerosas passagens dos seus princípios (Livro 1º.), a reencarnação ou renascimento das almas. É essa a sua tese: “A justiça do Criador deve patentear-se em todas as coisas”.

Referências Bibliográfica

Denis, Léon. Cristianismo e espiritismo. 7 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1978.
Frangiotti, Roque. In: Orígenes. Contra Celso. São Paulo, Paulus, 2004.
Reale, Giovanni, Antiseri, Dario. História da filosofia. Patrística e Escolástica. 4 ed. São Paulo, Paulus, 2011. Vol. 2.